UM SOFÁ, UMA MESA E "LA TRAVIATA" NO TEATRO SÉRGIO CARDOSO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

   


   Pouca coisa acontece no cenário operístico de São Paulo em 2017. Reclamações de falta de verbas e crise sempre são citadas para justificar o apagão nas encenações. Alheio a tudo isso o Teatro Lírico de Equipe juntamente com a Cia & Ópera São Paulo conseguem fazer trabalhos de qualidade superior.
   A apresentação da ópera "La Traviata" de Verdi no Sérgio Cardoso/SP, Jacareí, São José dos Campos, Taubaté e Araras é o exemplo cabal que é possível unir qualidade com poucos recursos. A simplicidade dos cenários é plausível, uma mesa e um sofá ambientam toda a trama. A direção cênica criativa de Paulo Abrão Esper faz o espectador menos acostumado com o enredo ficar por dentro da ação. Os figurinos corretos e a luz dão o retoque final.
   A Orquestra de Câmara da Região Metropolitana do Vale do Paraíba com seus doze músicos consegue na regência de André dos Santos transmitir, apesar da pouca quantidade de músicos, todas as emoções da obra. Quando vi a orquestra imaginei alguns cortes na ópera, errado foi montada na íntegra.


   Tamara Kalinkina, foto Internet
   
   Diferente de outros teatros que conseguem escalar o pior Nadir, da ópera "Os Pescadores de Pérolas", de todos os tempos a escalação do elenco de "La Traviata" superou todas as expectativa. Essa superação tem um nome, Tamara Kalinkina, soprano vinda dos confins da Ucrânia e descoberta por Paulo Esper nas audições de Riva Del Garda-Itália tem voz acima da média: Lírica, sempre afinada e sedutora. Irradia uma beleza ímpar no palco com seus cabelos dourados. Kalinkina tem voz e atuação cênica excepcional, essa união transforma a cantora em uma Violeta Valéry compatível com as maiores sopranos da atualidade. A humildade de entregar tudo de si em um teatro que não foi pensado para a ópera e com uma produção simples é mais um louvor a seu favor. Sua principal ária "È Strano / Ah, Fors'è Lui / Sempre Libera" faz muito marmanjo metido a valentão ficar com os olhos marejados.
   A de se destacar o bom desempenho de Daniel Umbelino como Alfredo Germont, tenor em constante evolução com técnica que se solidifica com o passar do tempo. Erick Souza como Giorgio Germont se perdeu em alguns trechos, ritmo fora do contexto. Conseguiu seu melhor momento na ária "Di Provenza il mar, il suol" em uma interpretação comovente.
   A nova fase do Teatro Lírico de Equipe-Cia & Ópera São Paulo prova que é possível fazer ópera a baixo custo sem abrir mão da qualidade. Uma mesa, um sofá e muita criatividade deram o tom na montagem. Enquanto isso na Praça Ramos de Azevedo as coisas andam confusos, anunciar a "Flauta Mágica" de Mozart e não divulgar o elenco foi a última lambança. 
Ali Hassan Ayache

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