BALÉ "O QUEBRA NOZES", CLÁSSICO NATALINO. ARTIGO DE EMANUEL MARTINEZ NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Escrito em São Petersburgo e apresentado a 18 de Dezembro de 1892, o balé em dois atos, com coreografia original de Marius Petipa (1818-1910), contém uma das músicas mais conhecidas de Tchaikowsky. Entretanto, o compositor relutou em aceitar o trabalho e o considerou muito inferior a Bela Adormecida.
Embora as suítes de balé sejam realizadas depois da peça pronta, a do Quebra Nozes foi elaborada ao mesmo tempo da composição da obra, e sua execução teve lugar bem antes da apresentação do Balé, a 7 de Março de 1892, sob a regência do próprio autor.
O ballet está dividido em dois atos com durações mais ou menos equivalentes, compreendendo um total de quinze partes dançadas, precedidas de uma abertura.
Nesta primeira parte, a abertura, uma miniatura, é de orquestração reduzida, no mínimo diferente, quase uma brincadeira, produto de um mestre da orquestração. Nas cordas, somente violas e violinos com duas flautas, pares de oboés, clarinetes, fagotes, trompas e triângulo, o suficiente para se estabelecer, desde o início, o ambiente de conto de fadas através de sua cintilante leveza. Maravilhosas e pequenas passagens em forma de cadencia na flauta e no clarinete, os pizzicatos dos violinos e a impressionante linha do baixo exposta pelas violas, pontuado pelo triângulo, passam uma impressão de espontaneidade franca e cordial.
Baseado num conto infantil de E.T.A. Hoffmann, a festa de Natal passa-se na casa da família Stahlbaum. Como todo o mundo, na noite de Natal as pessoas se reúnem para comemorar a data. Na sala de Clara uma enorme árvore de Natal ricamente decorada e iluminada. Seu irmão Fritz e as crianças se divertem, enquanto que seus pais recebem os convidados. Entre os convidados, seu padrinho Drosselmeyer, que era adorado por todas as crianças, que ao vê-lo largam seus brinquedos e diversões e correm ao encontro do ilustre convidado, pois ele traz consigo diversos presentes. Brincando com as crianças, o padrinho oferece repolhos, maçãs e outras frutas e legumes, como se esses fossem os reais brinquedos, o que desapontou todas as crianças, logo trocando-os por uma farda, um cavalo de pau, uma espada para Fritz, uma boneca e uma sapatilha de ballet para Clara.
Depois de algumas danças, o senhor Drosselmeyer, preparou um teatrinho de bonecos, pelo qual foi muito aplaudido. Depois de tanta diversão, chega o momento das despedidas, e apesar das reclamações das crianças que queriam se divertir mais, a hora de dormir havia chegado. Os convidados agradecidos pela noite espetacular, vão se despedindo um a um. Mas Clara recebe um novo brinquedo antes de dormir, um boneco Quebra-Nozes em forma de soldadinho, Fritz enciumado pelo novo presente recebido de Clara, o quebra e seus pais de castigo os mandam dormir. O senhor Drosselmeyer comovido, conserta o boneco entregando-o a Clara que o coloca embaixo da árvore de Natal que só fica com a iluminação da decoração ligada.
Clara não consegue dormir pensando na movimentação da festa, nas brincadeiras, nos presentes e depois que todos já estão dormindo, Clara volta para a sala sem fazer muito barulho, e com o objetivo de ver seu boneco quebra-nozes. Quando se aproxima para pagá-lo, sente que há algo diferente na sala; tudo parece um sonho, quando o relógio bate as badaladas da meia noite, aparece seu padrinho - o senhor Drosselmeyer - como se fosse um mágico, transformando a árvore e a sala, dando ao quebra-nozes o tamanho real de um homem.
De repente, surge no chão um grupo de ratos e Clara, surpresa e assustada, pula em cima de uma cadeira da onde assiste uma verdadeira batalha entre os ratos liderados pelo seu rei e os soldadinhos de chumbo de Fritz liderados pelo Quebra-Nozes. Os ratos, mais numerosos, estavam ganhando a luta e quando o rei, aproveitando uma queda do boneco aproxima-se para matá-lo, Clara sai de onde está e atira sua sapatilha de ballet em cima dele. Surpreendidos por este ataque, os animais ficam confusos e começam a se retirar, dando a vitória aos soldados.
Reconhecendo o ato de coragem de Clara, como prêmio, seu padrinho transforma o boneco quebra-nozes em um lindo príncipe, que, em agradecimento por ela ter salvado sua vida, oferece-lhe uma grande viagem encantada.
As bolas da árvore de Natal começam a se transformar em flocos de neve, o chão e o teto da sala desaparecem e Clara se vê no País da Neve, cheio de árvores cobertas de pingos de gelo. É anunciada a chegada da Rainha das Neves que vem com suas damas e pajens receber os visitantes ao som de uma linda valsa. Clara está encantada e, com sua varinha mágica, a rainha faz aparecer um trenó que desliza por um rio congelado, levando a menina e o príncipe para outro lugar: o País dos Doces. Lá os espera, em um castelo, a Fada Açucarada sentada em seu trono feito de doces de todos os tipos. Ela escuta do príncipe a história de coragem de Clara quando salvou sua vida e, para premiá-la mais uma vez, a fada prepara uma grande festa onde ela poderia comer todos os chocolates de que tanto gostava. Os doces se apresentam dançando aos convidados e logo é anunciada a Valsa das Flores, em homenagem ao príncipe que se levanta para escolher seu par. Clara pensa que ele vai dançar com a Fada Açucarada, não só em agradecimento pela festa, como também por ela ser uma excelente bailarina, mas o príncipe a convida e os dois saem dançando, formando um belo par. A fada também participa da valsa dançando com o casal por alguns momentos.
No final da música, Clara começa a se sentir sonolenta e tem a sensação de estar mergulhando num macio mar de mel que se fecha sobre a sua cabeça, fazendo com que tudo fosse desaparecendo.
De manhã os pais de Clara se assustam ao não encontrá-la na cama. Descem preocupados ao salão e lá a encontram dormindo embaixo da árvore de Natal, junto com o Quebra-nozes como se estivesse sonhando o mais lindo dos sonhos.
Ela sabe que seu presente de Natal foi uma linda viagem, em forma de sonho, e não apenas um boneco.
ATO I
Composto por dois quadros: o primeiro tem por moldura o mundo real e o segundo é uma viagem ao reino da fantasia, que acaba se prolongando sobre o segundo ato.
O primeiro quadro compreende sete episódios, antecedidos por uma Ouverture orquestral:
1. L’ARBRE DE NÖEL (A árvore de natal). A cortina se abre e nos deparamos com uma a da residência do presidente do Conselho Municipal de Nuremberg, uma noite de Natal que acontece no início do século XIX. Os pais de Clara e Fritz (as crianças) concluem a decoração da árvore que se ilumina com uma multidão de luzes e enfeites. As crianças fazem sua entrada com seus amigos e recebem seus presentes.
2. MARCHE (Marcha). As crianças colocam suas vestimentas e desfilam por toda a sala.
3. GALOPE DES ENFANTTS ET ARRIVÉE DES INVITÉS (Brincadeiras das crianças e a chegada dos convivas). As crianças participam de uma dança cheia de vivacidade, que se transforma em uma polonaise majestosa no momento da chegada dos convidados, retomando uma melodia infantil bon voyage, cher Dumouller. Esta canção interrompe-se brutalmente para dar lugar à próxima cena.
4. SCÈNE DE DANSE ET ARRIVÉE DE DROSSELMEYER (Cena de dança e a chegada de Drosselmeyer). A música assume um caráter inquietante e a entrada do conselheiro Drosselmeyer. Sua atitude estranha cria um alvoroço entre as crianças. Mas seus familiares pegam as crianças e explicam quem é a pessoa que acaba de entrar, que ele é gentil e que veio lhes trazer alguns presentes. As crianças decepcionam-se ao ver que ele não traz nada do que eles esperavam, mas descobrem que ele traz um soldado de pano, mostrando-lhes que ele pode dançar.
5. SCÈNE ET DANSE DES GRANDS PÈRES. (Cena e dança dos avós). Clara e Fritz estão contentes pela diversão e desejam que todos participem, mas seus pais decidem que vão divertir não só as crianças, mas também os convidados. Clara decepciona-se e Fritz fica bravo. Drosselmeyer restabelece a situação dando-lhes um presente, um boneco quebra nozes, após mostrar às crianças como funciona, Drosselmeyer o dá a Clara. Fritz tenta tirá-lo de sua irmã e seu pai exige que ele deixe que ela brinque com o boneco. Fritz quebra o quebra nozes, jogando-o ao chão. Clara fica triste e Fritz chama seus amigos para uma nova dança ao som de trompetes e tambores. O pai termina com a festa, anunciando a Grossvatertanz - dança vigorosa com sentido folclórico alemão do XVII século que tradicionalmente é tocada nos finais de bailes.
6. SCÈNE: DEBUT DU SORTILÈGE (Cena: início do encantamento). Os convidados retiram-se. Logo que tudo se acalma, Clara retorna para o salão para ver seu quebra nozes. à meia noite soa o relógio, e quando Clara observa o relógio, vê o velho Drosselmeyer. Assustada corre para todos os cantos. Neste momento a árvore de Natal aumenta de tamanho misteriosamente e o soldado de pano surge na sala em tamanho natural, se reanimando, desfila pela sala.
7. SCÈNE: LA BATAILLE ENTRE CASSE-NOISETTE ET LE ROI DES SOURIS. (Cena: a batalha entre o quebra-nozes e o rei dos ratos). Pequenos ratos aparecem sobre a forma de um exército para se digladiarem com os soldados de pano, Clara surpresa e assustada, pula em cima de uma cadeira da onde assiste uma verdadeira batalha entre os ratos liderados pelo seu rei e os soldadinhos de chumbo de Fritz liderados pelo Quebra-Nozes. Os ratos, mais numerosos, estavam ganhando a luta e quando o rei, aproveitando uma queda do boneco aproxima-se para matá-lo, Clara sai de onde está e atira sua sapatilha de ballet em cima dele. Surpreendidos por este ataque, os animais ficam confusos e começam a se retirar, dando a vitória aos soldados.
O segundo quadro compreende duas partes que se apresentam sem interrupção:
8. SCÈNE: DANS LA FORÊT DE PINS (voyage dans la neige). (Cena: na floresta de Pinus (viagem pela neve). Clara e seu Príncipe viajam para Konfitürenburg, o reino das guloseimas, guiado a través da floresta de Pinus, coberta de neve, e por Gnomos empunhando tochas que os cercam constantemente).
9. VALSE DES FLOCONS (Valsa dos flocos). O Rei e a Rainha dos Flocos de Neve recebem Clara e o Príncipe com uma dança – com diversos motivos – sobre uma passagem de valsa, a mais simples mas também muito bem elaborada, Tchaikowsky adiciona um coro feminino que vocaliza reforçando o suntuoso acompanhamento orquestral.
ATO II
Tem por cenário o reino de guloseimas sendo um longo quadro. A grandiosidade honra a Clara no Castelo Mágico. É composto por seis cenas, sendo que o divertimento também é dividido em outras seis partes.
10. LE CHÂTEAU MAGIQUE. (O catelo mágico). Clara e seu Príncipe vem ao castelo mágico situado sobre o Mont Bonbon no Royaume des Friandises. Abrem-se as portas e são acolhidos por Fee Bonbon em sua suíte.
11. CLARA ET LE PRINCE. (Clara e o Príncipe). Na grande sala do Castelo Mágico, iluminado por lanternas, o Príncipe conta a aventura que o levou a salvar Clara. Todos participam de um banquete e o espetáculo oferecido a Clara. O som magnífico das flautas contribuem para propiciar á orquestração desta cena um colorido extraordinário.
12. DIVERTISSEMENT. (Divertimento). Inicia-se por uma seqüência de danças de caráter, executadas principalmente em diversos estilos nacionalistas que são representadas.
* Chocolat: Danse espagnole (Chocolate: dança espanhola). Um bolero estilizado destacando-se um solo de trompete e castanholas.
* Cafe: Danse arabe. (Café: dança árabe). Aqui foi incorporada uma canção folclórica da Geórgia pontuada de acentos originais no tamborim, propiciando ao trecho um aspecto misterioso.
* Thé: Dance chinoise. (Chá: dança chinesa). É uma das passagens mais curtas, mas também uma das mais belas por seu colorido, graças ao metal da flauta e ao acompanhamento galopante.
* Trepak. O tema desta dança russa, interpretada por três bastões de açúcar de cevada e tocada por toda a orquestra.
* Danse des flutes. (Dança das flautas). Dança pastoral executada por três pastorinhas de patê de amêndoas, representada cada uma por uma flauta. Originalmente esta dança chamava-se de Danse des Mirlitons.
* Mère Gigogne et les Clowns. (Mãe Gigogne e os palhaços). Um episódio cômico colocando em cena uma “vieille femme qui habitait dans un soulier” (uma velha senhora que morava num sapato) foi colocado ao final do divertimento. No início Mère Gigogne é rodeada de palhaços dando cambalhotas. Na sessão central, a melodia é tirada de uma canção infantil francesa – Cadet Rousselle – as crianças saem de quatro debaixo do grande vestido e interpretam sua própria dança, voltando a se esconder, e os palhaços encerram a seqüência numa grande alegria.
13. VALSE DES FLEURS. (Valsa das flores). É uma das mais magníficas valsas escritas por Tchaikowsky. É executada por membros da suíte de Fée Bonbon em homenagem a Clara.
14. PAS DE DEUX. No estilo do ballet clássico, este episódio divide-se em quatro partes:
* Dance du Prince et de la Fée Dragée. (Dança do Príncipe e da Fada confeitada).
* Variation I: Tarantelle. Dança solo do Príncipe.
* Variation II: Danse de la Fée Dragée. (Dança da Fada confeitada) Aqui se ouve o famoso solo de Celesta, trecho escrito também para instrumentos de sopro, onde se ouve o Clarinete baixo de forma original.
* Coda. Dançada pelos dois partenaires.
15. DERNIÈRE VALSE ET APOTHÉOSE. (Última valsa e apoteose). O adeus afetuoso a Clara por parte de toda a companhia. Quando a valsa chega ao seu ápice, ouve-se a música do Castelo Mágico do início do segundo ato. A Fée Bonbon convida a todos para um último gesto de homenagens e de adeus.
Emanuel Martinez
Fonte: http://repertoriosinfonico.blogspot.com.br/2007/09/tchaikowsky-ballet-quebra-nozes-op-71.html
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