DEBUSSY: CENTENÁRIO DA MORTE DO MAIS INFLUENTE COMPOSITOR DO SÉCULO XX. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Assim como normalmente se diz que o compositor austríaco Arnold Schoenberg (1874-1951) emancipou a dissonância eu diria que Debussy emancipou a consonância. Abrindo mão das funções tradicionais da harmonia ocidental e estendendo sua atenção para outras culturas (os gamelões da Indonésia, a escala pentatônica chinesa) e adotando novas escalas (a de tons inteiros e a octatônica), além dos modos antigos (dórico, frígio, lídio, mixolídio) o “som” de Debussy mostra-se altamente original. Sem abrir mão de uma nota de referência em cada obra e pondo pouca fé no atonalismo a música de Debussy parece mesmo não envelhecer. E quando falo da “música de Debussy” me refiro também à sua refinada arte de orquestração (“La mer”, “Images”) e à sua maneira original de escrever para piano (Prelúdios, Estudos, “Images”, “Estampes”). Mas há outro elemento especial: a sensação de improviso. Diferente de seu contemporâneo Maurice Ravel, que deixa tudo muito especificado em suas geniais composições, Debussy, em diversas obras, dá um ar de que está experimentando, improvisando, sobretudo no início da composição. É o caso, por exemplo, do solo de flauta no início do “Prelúdio para a Tarde de um fauno” (Prélude à l’après-midi d’un faune), obra de 1894 baseada na écloga de Mallarmé “A tarde de um fauno”, e que muitos (inclusive Pierre Boulez) identificam com o surgimento da música do século XX. Esta flauta desacompanhada parece mesmo estar inventando na hora a doce e misteriosa melodia. E este ar de improvisação não acontece somente nesta obra do autor: poderia citar dezenas de outras composições do mestre com esta mesma sensação de “improviso”. Se Debussy emancipa a consonância ele também emancipa a forma musical. No seu confronto à maneira alemã de se organizar a forma (especialmente a forma sonata, que experimenta uma única vez em seu Quarteto de cordas) Debussy abrirá as possibilidades formais ao infinito. Prova disso é a partitura de seu ballet “Jogos” (Jeux”) de 1913, o equivalente formal à revolução rítmica de Stravinsky. Debussy parece mesmo ser um ar novo na arte musical que teima em não envelhecer. É ainda um homem dos nossos dias. 100 anos depois de sua morte não é difícil afirmar que o legado de Debussy permanece vivo.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/debussy-centenario-da-morte-do-mais-influente-compositor/
Admiro muito o M° Colarusso e muito agradecida por poder contar com sua erudição.
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