A PERSONALIDADE DOS COMPOSITORES EM SUA MÚSICA. ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Chopin, foto Internet.
Muito se fala em reflexos da personalidade e da vida privada dos compositores em suas composições.
É fora de dúvida que tais reflexos sempre ocorrem, já que facilmente se pode verificar que Brahms nunca compôs nada parecido com o que compôs seu contemporâneo Offenbach. O primeiro pretendia a seriedade de um continuador de tradições musicais alemãs, e a seriedade de sua personalidade refletiu-se naquela pretensão e na sua música; o segundo inseriu-se em um mundo de diversão e bufoneria, e sua personalidade burlesca se reflete em tudo que compôs.
O tema entrou mais acaloradamente em polêmicas depois da publicação nos USA do livro CHOPIN IN PARIS: THE LIFE AND TIMES OF THE ROMANTIC COMPOSER (ISBN 0-306-80933-8), de Tad Szulc. Há uma tradução para o português de Betina Von Staa, Editora Record,RJ,1999.
Tal livro afirma, apresentando cartas comprometedoras, a homosexualidade de Chopin, sua irascibilidade, seu convívio difícil com os amigos, seu patriotismo interesseiro, e chega a acusá-lo de “cafajestadas”. Estará tudo isso presente na música de Chopin ?
Certamente suas numerosissimas e refinadíssimas delicadezas pianísticas, seus arroubos derramadamente românticos e seu discurso musical, com seus exagerados ornamentos, são efeminados, o que conduz a um homossexualismo evidente. Não conseguimos, porém, vislumbrar em sua música nenhum traço de um caráter irascível e capaz de “cafajestadas”.
Outro compositor de homossexualidade comprovada foi Tchaicovsky, e em sua música essa homossexualidade aparece na melancolia queixosa das sinfonias, das quais a quinta e a sexta são o ponto extremo, assim como certas passagens hiper românticas (no sentido de “romance) dos concertos e dos balés. Os lamentos de Tatiana e Onegin não fogem à regra de uma melancolia feminina. Comparem com as queixas melancólicas das Leonoras de Verdi, contemporâneas de Tchaicowsky, e com as das mais antigas Leonora de Fidelio e Agathe do Freischütz.
Pensamos que o rei do reflexo de sua personalidade em sua música seja Richard Wagner: megalomaníaco ele, mais que megalomaníaca sua música, desde as insistentes quiálteras do Tannhäuser até as retumbâncias do Anel, as audácias do Tristão e a religiosidade de coreto do Parsifal.
Em Beethoven, o vigor, o peso, a substância de uma personalidade vigorosa, pesada, substancial. Em Mozart, a leveza, a graça, a solenidade e a facécia de uma alma brincalhona, graciosa, solene quando necessário (ouçam Et incarnatus est da Missa em dó menor) .
O tema é polêmico, difícil de encontrar concordâncias e unanimidades. Abordei-o com a máxima cerimônia, a cerimônia daqueles que não se acham os donos da verdade. Agradeço intervenções e censuras.
NIL INULTUM REMANEBIT
MARCUS GÓES (1939-2016)
Muito se fala em reflexos da personalidade e da vida privada dos compositores em suas composições.
É fora de dúvida que tais reflexos sempre ocorrem, já que facilmente se pode verificar que Brahms nunca compôs nada parecido com o que compôs seu contemporâneo Offenbach. O primeiro pretendia a seriedade de um continuador de tradições musicais alemãs, e a seriedade de sua personalidade refletiu-se naquela pretensão e na sua música; o segundo inseriu-se em um mundo de diversão e bufoneria, e sua personalidade burlesca se reflete em tudo que compôs.
O tema entrou mais acaloradamente em polêmicas depois da publicação nos USA do livro CHOPIN IN PARIS: THE LIFE AND TIMES OF THE ROMANTIC COMPOSER (ISBN 0-306-80933-8), de Tad Szulc. Há uma tradução para o português de Betina Von Staa, Editora Record,RJ,1999.
Tal livro afirma, apresentando cartas comprometedoras, a homosexualidade de Chopin, sua irascibilidade, seu convívio difícil com os amigos, seu patriotismo interesseiro, e chega a acusá-lo de “cafajestadas”. Estará tudo isso presente na música de Chopin ?
Certamente suas numerosissimas e refinadíssimas delicadezas pianísticas, seus arroubos derramadamente românticos e seu discurso musical, com seus exagerados ornamentos, são efeminados, o que conduz a um homossexualismo evidente. Não conseguimos, porém, vislumbrar em sua música nenhum traço de um caráter irascível e capaz de “cafajestadas”.
Outro compositor de homossexualidade comprovada foi Tchaicovsky, e em sua música essa homossexualidade aparece na melancolia queixosa das sinfonias, das quais a quinta e a sexta são o ponto extremo, assim como certas passagens hiper românticas (no sentido de “romance) dos concertos e dos balés. Os lamentos de Tatiana e Onegin não fogem à regra de uma melancolia feminina. Comparem com as queixas melancólicas das Leonoras de Verdi, contemporâneas de Tchaicowsky, e com as das mais antigas Leonora de Fidelio e Agathe do Freischütz.
Pensamos que o rei do reflexo de sua personalidade em sua música seja Richard Wagner: megalomaníaco ele, mais que megalomaníaca sua música, desde as insistentes quiálteras do Tannhäuser até as retumbâncias do Anel, as audácias do Tristão e a religiosidade de coreto do Parsifal.
Em Beethoven, o vigor, o peso, a substância de uma personalidade vigorosa, pesada, substancial. Em Mozart, a leveza, a graça, a solenidade e a facécia de uma alma brincalhona, graciosa, solene quando necessário (ouçam Et incarnatus est da Missa em dó menor) .
O tema é polêmico, difícil de encontrar concordâncias e unanimidades. Abordei-o com a máxima cerimônia, a cerimônia daqueles que não se acham os donos da verdade. Agradeço intervenções e censuras.
NIL INULTUM REMANEBIT
MARCUS GÓES (1939-2016)
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