MEMORIZANDO A TEMPORADA LÍRICA OFICIAL DE 1970. CRÔNICA DE MARCO ANTÔNIO SETA, COM EXCLUSIVIDADE, PARA O BLOG DE ÓPERA & BALLET.



O empresário Alfredo Gagliotti era o colaborador mais presente nas temporadas líricas de São Paulo e, em inúmeros anos,  ele organizou e administrou as temporadas do Theatro Municipal. Em co-patrocínio com a Prefeitura do Município de S. Paulo ele associava os artistas estrangeiros e nacionais da melhor forma e nas melhores possibilidades do momento. 
           No ano do 1º centenário de estreia de "Il Guarany" :
(19/3/1870 no Alla Scala de Milão), esta foi a ópera escolhida para abrir a temporada lírica de 1970 em seu Theatro Municipal. O elenco composto pelos mesmos cantores que se apresentaram nesta ópera no Teatro San Carlo de Nápoles,e após, no Teatro Massimo de Palermo. Maestro Regente: Armando Belardi; Regisseur: Bruno Nofri; elenco: Sérgio Albertini, Wilson Carrara, Niza de Castro Tank, Constanzo Mascitti, Benito Maresca, Benedito Silva, Andrea Ramus, Assadur Kihultzian e Cecílio Ebide. Orquestra Sinfônica Municipal, Coral Lírico Municipal e Corpo de Baile do Teatro Municipal. Naquele ano os cenários e guarda-roupas vinham da Itália especificamente do Teatro dell'Opera de Roma, da Cenografia Parravicini de Roma e da Sartoria Artigiana Marilena, de Roma. Melhor assim, pois viam-se lindos cenários e figurinos, uma vez que se os construíssem aqui, seriam por um ano só, considerando-se que a conservação dos  mesmos, é coisa que não está na tradição dos brasileiros, e tudo seria destruído em poucos anos. As récitas deram-se a 09 e 11 de setembro de 1970 com êxito de público e crítica para a obra do Maestro Carlos Gomes. 

            A 16 e 18 de setembro, em 2ª récita de assinatura, levou-se a Madame Butterfly, de Giacomo Puccini, com cenários da Cenografia Parravicini de Roma, e regência do Mtrº Armando Belardi e Bruno Nofri como regisseur. Mietta Sighele, Ruggero Bondino, Diva Alves, Andréa Ramus, Geraldo Chagas, Wilson Carrara, Dalva Nader, Cecílio Ebide, Jelwis Mareschi. Ballet "Keiko Wakamatsu", Coral Lírico e OSM. 
            Assistiu-se a 23 e 25 setembro a "Lucia di Lammermoor", de G. Donizetti; com o Mtrº Alberto Paoletti  e Bruno Nofri como regisseur. Niza de Castro Tank recebeu uma das maiores ovações de sua carreira como Lucia, ao lado de Ruggero Bondino (ótimo tenor lírico italiano).Constanzo Mascitti, Mario Rinaudo, Benito Maresca, Tereza Boschetti e Assadur Kihultzian. Corpo de Baile do Teatro Municipal, Coral Lírico e Orquestra Sinfônica Municipal. 
            "Aída", de G. Verdi sobreveio a 6 e 9 de outubro na 4ª récita de assinatura, com um elenco incomparável: Bruno Nofri como regisseur; Mtrº Alberto Paoletti e coreógrafo Jhonny Franklyn.  Rita Orlandi Malaspina, Marta Rose, Bruno Prevedi, Gian Giacomo Guelfi, Massimiliano Malaspina, Mario Rinaudo,  Ayton Nobre .e o soprano paulista Renata Lucci. Orquestra Sinfônica, Banda da Polícia Militar do Estado de SP, Coral Lírico Municipal e Corpo de Baile do Teatro Municipal.
           A 14 e 16 de outubro assistia-se em quinta récita,  a "Tosca", de G. Puccini com direção cênica de Frank de Quell e o Mtrº Nino Bonavolontá. Elena Suliotis brilhou nos figurinos exclusivos confeccionados por Dener Pamplona de Abreu a ela personalizados. Foi aplaudidíssima ao lado de Gianfranco Cecchele, e Giangiacomo Guelfi realizou  o maior de todos  Barão Scarpia já visto no Municipal. O êxito retumbante desta Tosca foi inigualável. Coro Infantil "Canarinhos Liceanos",  Coral Lírico,  OSM e Ângelo Camin ao órgão de tubos Tamburini. 
           A 21 e 23 de outubro, em 6ª récita de assinatura, apresentou-se a ópera "Carmen", de Geoges Bizet. O Mtrº Nino Bonavolontá assumiu a direção musical e o regisseur foi Frank de Quell. O mezzo soprano dramático Marta Rose (Carmen); com Sergio Albertini, Marta Baschi, Gian  Giacomo Guelfi, Mario Rinaudo, Andrèa Ramus, Assunpção de Lucca, Tereza Boschetti, Geraldo Chagas e Ayrton Nobre. Johnny Franklin, coreógrafo. Corpo de Baile do Teatro Municipal, Coro Infantil Canarinhos Liceanos, Orquestra Sinfônica e Coral Lírico Municipal. Maestro do Coro: Marcello Mechetti, completaram o elenco.
            Uma temporada memorável, para nunca ser esquecida por aqueles que a presenciaram em 1970.

     
Escrito por Marco Antônio Seta, em 04 de Abril de 2018
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB / SP diplomado pela FCL. 


Comentários

  1. Houve uma mudança,antes se concentrava a atividade musical mais na ópera,hoje na música sinfônica em nossas principais cidades.Existe um site chamado OPERADIS onde listam gravações de óperas, estão listadas muitas gravações "piratas" depois lançadas em CD feitas nas décadas de 4o até 70 nos nossos teatros bem como no Colón de Buenos Aires e no Bellas Artes do México,são as únicas cidades fora de Europa e Estados Unidos que aparecem muitas nas listas com várias gravações feitas durante essa época.Essas montagens traziam sempre artistas internacionais de primeiro escalão,de uma maneira que não se viu mais posteriormente,talvez no tumultuoso período do Neschling no Municipal se tentou fazer isso de novo.Isaac Carneiro Victal.

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  2. Inesquecível os artistas dessa temporada: Ruggero Bondino, Mietta Sighele, Bruno Prevedi, Rita Orlandi Malaspina, Nino Bonavolontá, Marta Rose (Amneris e Carmen) e Elena Souliotis como Tosca com Gianfranco Cecchele e Giangiacomo Guelfi (Scarpia). Para se escrever um livro de memória do Theatro Municipal ! Bravo....

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  3. Isso mesmo Sr. Isaac; foi no tumultuoso período do Neschling em que o nosso Theatro Municipal, chegou muito perto daqueles saudosos tempos em que estou memorizando aqui neste Site. Com NESCHLING o Municipal voltou a ver grandes artistas da atualidade, especialmente nas óperas Aída, Cavalleria Rusticana e I Pagliacci, como a já inesquecível "Thaís" de 2015, Falstaff, Il Trovatore (Verdi) e Lohéngrin, do imenso Richard Wagner. Entretanto, naquelas ex-temporadas, havia uma sucessão de títulos dos mais atraentes e mesclavam-se os estrangeiros com os valiosos e grande artistas nacionais que tinhamos e não temos mais ! Havia um justo equilíbrio. Hoje; os poucos que existem, muitas vezes ficam de lado, menosprezados, em troca de até estrangeiros, como fazia aquele Sr. maestro, importando comprimários até para realizar um personagem como Dancairo e Remendado; ou o Beppe de "I Pagliacci" ou mesmo a Mercedes e a Frasquita da célebre "Carmen", de Bizet. Muitas injustiças alí se concretizaram...enfim aquelas temporadas não vlotam mais !

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    1. Uma coisa que muito me irrita e só este blog denuncia é que muitos cantores e instrumentistas por não fazerem parte das panelinhas acabam entrando para orquestras e coros e são podados em seu desenvolvimento como solistas.Neschling tem a sua panelinha e é muito difícil de entrar nela,mais ainda mais difícil é entrar na panela do Arthur Nestrovski,essa é a mais intransponível do meio musical brasileiro mas ao mesmo tempo pagam uma fortuna por terem trazido do estrangeiro uma regente titular muito publicitada como Marin Alsop,totalmente fora da realidade.Outro dia transmitiram um concerto pela internet com a sinfonia Eroica e ficou evidente a má vontade dos músicos em tocar e da maestrina em reger o grupo,uma interpretação que foi gravada mas que é para se esquecer!Ano passado a orquestra Neojibá tocou a quinta de Shostakovich pelo Brasil,estiveram em Campos do Jordão e na capital paulista.O concerto deles na sala Minas Gerais foi gravado.A mesma peça foi tocada no concerto de abertura da primeira temporada de Alsop como titular,lembro que os críticos da revista Concerto louvaram a maestrina na época.Hoje os dois vídeos estão no YOUTUBE e para este que vos fala comparando a interpretação da orquestra jovem baiana é muito melhor para o meu gosto,mais energia,dramaticidade,senso de direção e gravada em melhor acústica do que a da gringa com cachê altíssimo frente à OSESP.Isaac Carneiro Victal.

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