CRISTIAN BUDU TOCA RACHMANINOV COMO SE FOSSE UMA CANÇÃO DE NINAR. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Indiscutivelmente Cristian Budu é o maior talento jovem do piano nacional. Além de ser o mais simpático e humilde, em comparação aos seus colegas, uma raridade no meio de estrelismos exacerbados. O que vimos Domingo no Theatro Municipal de São Paulo no dia 29 de abril de 2018 foi um pianista com uma musicalidade ímpar, porém, sem brilho e sem a pegada de um grande solista. O segundo concerto de Rachmaninov para piano e orquestra é uma das obras mais consagradas deste instrumento: transborda paixão, vitalidade, energia, ímpeto e tempestuosidade.
Um concerto tocado no mundo todo e gravado pelos maiores pianistas de todos os tempos. Budu faz uma interpretação singular e pessoal da obra. O problema é que o diabo mora nos detalhes e um deles faz a diferença. Praticamente não se ouvia o piano, a orquestra o encobria o tempo todo, além de ambos estarem em andamentos extremamente lentos e arrastados, chegou a dar sono. Budu parecia procurar um som das profundezas....procurava, procurava e procurava, deve estar procurando até hoje...não achou nada. Acabou tocando uma obra vistosa como se fosse uma peça camerística, com toque extremamente leve e contido. Sabíamos que o pianista tinha um recital na mesma data a noite. Será que o Budu estaria se poupando para o mesmo ?
Mas o que era mais importante: o concerto ou o recital ? Não sabemos, a certeza é que Budu é um grande pianista para compositores intimistas como Debussy, Schumann, Grieg, Chopin, entre outros. Quando o assunto é compositores mais impactantes, o jovem solista precisa repensar sua abordagem conceptiva das obras.
Ali Hassan Ayache
Cristian Budu, foto Internet.
Prezado Ali,isso também se nota em gravações,pois a Filarmônica de Goiás postou no seu canal no YOUTUBE uma gravação de uma apresentação deles tocando o primeiro concerto de Tchaikovsky e esse solista também estava inaudível,ainda por cima demonstrava muito poucas variações de volume,a diferença entre pianíssimo e fortíssimo acho que nunca foi tão curta como nessa interpretação desse pianista.Sobre esse mesmo concerto descrito acima a revista Concerto postou uma crítica encomiástica,como sempre faz no caso desse pianista e no do Leonardo Hilsdorf,chamado inclusive por Irineu Perpétuo até de "o novo Nélson Freire".Concordo mais com a crítica do Ali,descreve melhor a realidade.Isaac Carneiro Victal.
ResponderExcluirO curioso é que se tratando de pianistas,muitas mulheres como Martha Argerich,Yuja Wang,as irmãs Labèque e até uma senhora como Idil Biret quando querem,caso o compositor peça,conseguem tirar um som até mesmo brutal do piano.Conheci recentemente uma pianista transexual chama Sarah Davis Buechner que adora chocar o público tocando repertório de bravura muito bem.Acho que a crítica acima se deve ao fato dele não ser uma figura exatamente frágil,mas quando toca há um excesso de contenção fruto de uma certa insegurança.Ser homem ou mulher portanto não define se o pianista conseguirá extrair um som poderoso ou não.Isaac Carneiro Victal.
ExcluirConhecendo o Cristian de perto, conversei com ele sobre o concerto e esta crítica.
ResponderExcluirEngraçado que exatamente o que uns abominam, outros apreciam, talvez seja a maneira de ouvir, ou simplesmente o gosto (viva a diversidade).
O próprio Nelson Freire elogiu muito sua concepção deste concerto e o incentivou a tocar mais Rachmaninoff... (foi o que tocou justamente numa final de concurso que venceu, em que o Nelson era jurado).
Mas, dando crédito à critica e ao mesmo tempo revelando algo que poderia ter poupado alguns sarcasmos: Cristian me disse que estava insatisfeito com o piano, que não era o piano principal para concertos (o outro havia infelizmente sofrido um acidente), e que não tinha mesmo muito som. Ele negou com veemência ter "se poupado", mas diz preferir também, numa situação como essa, não bater impiedosamente no piano para compensar, como muitos fazem, resultando num tipo de som que destoa de sua concepção.