"UM BAILE DE MÁSCARAS" COM VISÃO FUTURISTA EM ESPAÇO SIDERAL NO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Pier Francesco Maestrini ao se deparar com a ópera romântica de G. Verdi ("Un Ballo in maschera", 17/02/1859) apresentada pela primeira vez no Teatro Argentina, com enorme sucesso de público, o regisseur optou por não trair as intenções do imortal compositor, cujas ideias foram de render tributo a Verdi visionário e inovador. Conseguiu habilmente, sem ferir ao libreto de A. Somma, a partir de Eugène Scribe, o qual preparou para o seu compatriota Daniel François Auber um libreto intitulado "Gustave III ou Le Bal Masqué", tratando nesse drama de um fato histórico, o assassínio do rei da Suécia, Gustavo III, na noite de 15 de março de 1792. Somma tirou dali a ideia e preparou o argumento para o genial Verdi. E daí, a sua maneira de interpretar a ópera, buscou ao máximo possível, a adesão ao libreto, ressaltem-se as bonitas nuances do melodramático dueto e trios do Ato II e cena final (quinteto contrapontístico do mesmo com a participação do coro, este de belíssima participação em toda a ópera, deixando inalteradas as relações entre os personagens e respeitando sempre a coerência narrativa.Há que se destacar também os belos efeitos do quinteto também contrapontístico do ato III entre Renato, Amelia, Oscar e os dois Condes (baixos) onde musicalmente, atingiu-se um dos pontos mais altos de interpretação.
Maestrini, filho de Carlo Maestrini, o qual tivemos o privilégio de conhecê-lo, quando de sua visita ao Rio de Janeiro com o elenco do Teatro San Carlo de Napoles; ele foi o regisseur de "Otello" e "La Gioconda", com grande conhecimento no seu mistér. Pier Franceso, seu filho, herdou a difícil arte, de bem dirigir um elenco inteiro, nos grandes palcos do teatro lírico universal. Os cenários são sugeridos pelas projeções (videomaker); em que as projeções em três planos num sugestionamento visual em 3 D impressionam bem pelo enfoque diferencial de plasticidade cênica, de Juan Guillermo Nova , porém ameaçam o desvio da atenção da própria progressão cênica, constituindo ali, uma certa marginalização deparando-se com a música do compositor.
Tobias Wolkmann, é seguro em sua regência, contextualizando a ópera de uma partitura desigual, os destaques ficam ao violoncelista solista e ao quarteto de cordas em cena, e do fosso de orquestra, do último ato; excetuando-se os desencontros entre solistas, coro e orquestra ao final do Ato I, no Palácio de Gustavo III, onde isso evidencio-se. Coros e conjuntos importantes nesta ópera, de belos efeitos foram os finais dos atos II e III, e o "Dio misericordioso" da cena final. Bravos a Jesus Figueiredo.
Nos bailados houve-se uma dinâmica de automatização robotizada de autoria de Wlamir, coreógrafo da ópera, em que desigualaram-se os movimentos entre coro, bailarinos e solistas, resultando em "fuzuê visual". O tenor Leonardo Caimi em ascensão profissional internacional decepcionou totalmente como Gustavo III (Ricardo); voz pouco maleável, de projeção enroscada, agudos mal projetados, além de desafinar, não convenceu o público carioca. O menor aplauso da noite foi a ele conferido.
Muito superior é Susanna Branchini, de carreira já internacional, nos ofereceu Amelia de qualidades. Soprano lírico spinto ítalo-caribenha de bonitas cores em seu timbre vocal, representou bem o seu papel. Em suas romanças, no ato II, (Ma dall’arido stelo divulsa e Morrò, ma prima in grazia, do ato III) engoliu algumas notas ao findar a sua grande emissão vocal, porém convenceu o público, especialmente em "Morró, ma prima in grazia", pelo seu bem lançado estilo, legato, respiração bem apoiada, merecendo amplos aplausos no ato III. Amarilli Niza (Itália), cantaria esta ópera ainda melhor...
Rodolfo Giugliani na ária "Eri tu" na boca de Renato, passagem fortemente passional, apresenta problemas na interpretação da mesma. Não há performance na interpretação. Canta tudo igual: Amonasro, Ezio, Giorgio Germont, Alfio, Tonio, Rigoletto, Enrico, Gerard, Cristovão Colombo, Iberê ou Nabuccodonosor. Não nos convence. O público aplaude tudo.
Denise de Freitas foi a adivinha Ulrica cuja voz não preenche a tessitura de contralto a que Verdi destinou, ainda que lhe pese atuação cênica aceitável. Guadalupe Barrientos, a qual conheço da Argentina e Chile, e atuou na Eslovênia, Tóquio e na Colômbia (Medellín); possui o registro bem mais adequado para a Ulrica (dias 4 e 6 de Maio). Os trechos puramente de efeito do pagem Oscar (papel de soprano leggero), estão na pele de Lina Mendes. Soprano lírico ligeiro deu tudo o que tem para o papel; contudo algo ainda a acrescentar na agilidade, no volume e na emissão de sua técnica vocal deste difícil e grato papel de coloratura. A voz é doce demais para o Oscar; cenicamente exagerou nos trejeitos de automatização. Podendo-se destacar ainda a colaboração de Daniel Germano (Conde Ribbing) muito bem vocal e cenicamente, possui bela voz de baixo; o barítono Marcelo Coelho como Cristiano; o tenor Gabriel Serra como um Juiz e Ossiandro Brito, tenor; como um criado, bastante satisfatórios cênico e vocalmente. Muito correta a participação da Banda Sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais (Ato III).
"Un Ballo in maschera", espetáculo futurista importado do Kiel Opera House, norte da Alemanha, abre aqui frente de colaboração entre o Theatro Municipal e outros teatros europeus, dividindo assim custos, oferecendo ao público carioca o que se tem visto recentemente em palcos internacionais.
Marco Antônio Seta, é jornalista (FCL) inscrito sob nº 61.909 MTB /SP e diplomado em piano, história da música, harmonia e contraponto, pelo Conservatório Dramático e Musical "Dr. Carlos de Campos" de Tatuí / SP. Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO, em São Paulo.
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