ÓPERA "LA TRAVIATA" ALIA TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO THEATRO MUNICIPAL DE SP. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

   

   Unir montagem de ópera tradicional e acrescentar ares de modernidade é possível e a prova cabal esta em "La Traviata" de Verdi, apresentada no Theatro Municipal de São Paulo no mês de Maio do ano corrente. A produção segue a linha clássica com figurinos e cenários que todos imaginam quando vão assistir a ópera. Não são necessárias invencionices amalucadas para ser moderno, existem aberrações aos montes em ópera. Diretores que se dizem moderninhos só fazem lambança nas produções afastando o público.
   O toque de modernidade, que não agride a versão e não foge do contexto, fica na criatividade do diretor de cena Jorge Takla. Insere no último ato dançarinos que vem buscar a personagem principal para sua viajem ao além e os mesmos dialogam com as cenas diversas vezes. No restante consegue movimentações coerentes e corretas que beneficiam as vozes já que quase sempre estão na ponta do palco. Aliados ao tradicionalismo está o cenário suntuoso, usado com pequenas modificações nos três atos de Nicolás Boni e os figurinos de época de Cássio Brasil que enalteceram a produção.
   A vozes oscilaram, na noite do dia 17/05 o barítono Leonardo Neiva acometido de uma doença falhou diversas vezes, em outros teatros seria vaiado, no Brasil conseguiu ser ovacionado. Sua apresentação como Giorgio Germont do dia 21/05 foi melhor embora a voz tenha saído metálica e sem brilho. O tenor Fernando Portari esquece que existem agudos, manteve a voz na região dos médios. Seu Alfredo foi mais cênico que vocal. Georgy Vasiliev tem voz pequena, mantém a consistência em todas as suas participações com um timbre regular. Fez um Alfredo mediano, nada que justificasse sua vinda ao Brasil.
  Quem brilhou e mostrou-se uma verdadeira diva foi o soprano Nadine Koutcher, nas duas apresentações que tive o prazer de vê-la exibiu voz doce e sedutora onde coloraturas ágeis e consistentes foram o destaque. Enfrenta as difíceis passagens com segurança, tem um timbre lírico nato que lembra Renata Tebaldi. Cenicamente foi estupenda, apresentou os dilemas da personagem com convicção.
   A regência de Roberto Minczuk prima pelo vocal, busca nuances onde a música e o canto se unem em harmonia. Extraiu da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo musicalidade de excelência, as entradas dos diversos instrumentos primam pela precisão e o perfeito acompanhamento dos solistas. "La Traviata" prova que o regente entende tanto de ópera quanto de música sinfônica. Destaco a grande apresentação do Coro Lírico Municipal, recheado de solistas e muito bem preparado pelo regente Mário Zaccaro, apresentou-se de forma sublime. Fato esse comum ao coro.
  
OBSERVAÇÕES OPERÍSTICAS: 

1: Já vi muita coisa nesses anos acompanhado óperas e concertos, nunca imaginei que existisse a figura do mestre peruqueiro, consta no programa que Feliciano San Roman exerce esse função. 
2: Deixar o público filmar e fotografar no "Brindisi" pode desagradar aos mais conservadores, por outro lado deixa os fãs de redes sociais e das redes de bate papo extasiados. 
3: A produção da ópera "La Traviata" é originaria da Fundação Clóvis Salgado de Belo Horizonte. O intercambio de produções é a forma ideal para economizar recursos que andam escassos nos últimos tempos. Pena que o ego da maioria dos diretores não permita.
4: O cenário e o figurino são aplaudidos pelo público quando se abrem as cortinas, poucas vezes isso ocorre no Theatro Municipal.
5: A assessoria de imprensa do Theatro Municipal de São Paulo tem que ficar atenta aos veículos que divulgam os eventos que ocorrem na casa. Não enviam material de divulgação para este Blog e para responderem qualquer questionamento é uma dificuldade enorme. Saibam que quando o assunto é ópera, balé e concertos o Blog de Ópera e Ballet é o mais acessado do Brasil. 
  Ali Hassan Ayache

Cenas da ópera "La Traviata", fotos Internet.
  

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