A ESCRAVIDÃO NA MÚSICA. ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
13 de maio é o dia em que, em 1888, foi abolida a escravidão no Brasil. Isso nos leva a falar de música e escravidão.
Tema explorado na música mais como base literária dos libretos que na expressão musical, a escravidão encontra no entanto em sua mais extensa e aprofundada referência uma das mais bem sucedidas “músicas de escravidão”, por assim dizer, nos nibelungos do Anel de Richard Wagner, todos escravos de Alberich, o nibelungo do título.
Antes, o Fidelio, de Beethoven, já se havia referido à prisão de Florestan, à luta de Leonora para libertá-lo e às demais peripécias da ópera mais como fatos políticos que de escravidão propriamente dita. Não é muito comum a exploração do tema na música sinfônica, tanto do século XVIII quanto no XIX. O assunto é realmente mais cabível em óperas, cantatas e obras do barroco litúrgico, com coro e solistas vocais.
Assim, a grande heroína “escrava” de uma ópera será certamente Aída, da homônima ópera de Verdi. Uma escrava de luxo, que disputa o amor de Radamés com a filha do faraó, e que acaba morrendo por vontade própria com ele. Outra ópera de Verdi cheia de escravos “de luxo” é Nabucco, em que as personagens ora são declaradas livres, ora escravas. Essa ópera contém um dos trechos mais próximos ao tema “escravidão”, que é o celebérrimo Coro dos Escravos ou Coro dos Hebreus, no qual os hebreus escravizados, longe de sua terra, lamentam sua situação.
Em Puccini, a grande escrava é Liù, serva de Timur e de seu filho Calaf, na ópera Turandot.
A mais bela ópera, no sentido de beleza musical “operística”, para muitos é Lo Schiavo (O Escravo), de Carlos Gomes, na qual tanto a personagem título é um índio escravizado quanto a índia Ilara idem, ambos tamoios aprisionados pelos portugueses. Os mais belos e bem compostos trechos musicais referentes à situação de ambos, a saudade da terra de origem, a tristeza pela falta de liberdade, acham-se contidos nessa ópera, obra-prima de economia de meios, de uso de Leitmotive e de beleza sinfônica e melódica.
“LIBERDADE, LIBERDADE, ABRE AS ASAS SOBRE NÓS.” (Medeiros e Albuquerque)
MARCUS GÓES – ESCRITO DE MEMÓRIA (1939/2016)
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