"IL PIRATA", DE BELLINI - DEFINIDOR DE LIMITES NO MELODRAMA ITALIANO. ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.



Criada em 1827 na Scala de Milão, é anterior portanto às obras mais conhecidas do compositor, que são I CAPULETI E I MONTECCHI(1830), NORMA(1831) , LA SONNAMBULA(1831) e I PURITANI(1835), nas quais o compositor fixou com mais ênfase seu estilo elegíaco. Esse estilo, mais tarde tornado inconfundível, não era a característica básica nem de ADELSON E SALVINI (1825), nem de BIANCA E FERNANDO (1826), nem de LA STRANIERA (1829), nem de ZAIRA(1829).
IL PIRATA entra no enorme conjunto de óperas italianas do período em que foi criada, inteiramente dominado por óperas de Rossini, período esse que viria a ser modificado pelas citadas óperas do próprio Bellini e por Donizetti, este com L´ELISIR D´AMORE, de 1832, e LUCIA DI LAMERMOOR, de 1835, todas entrelaçadas e influenciando-se mutuamente, mas já afastadas dos maneirismos de IL PIRATA.
Hoje, com as oportunidadesidades proporcionadas pelo YOUTUBE, é muitíssimo mais fácil ter acesso a gravações e vídeos de peças musicais. Compare o leitor QUASE todo o “modus” operístico de trechos de IL PIRATA com TODA a música de LA SONNAMBULA ou de NORMA. Note as diferenças evidentes entre ANNA BOLENA, de 1830, e LUCIA DI LAMERMOOR, de 1835, ambas de Donizetti. O ponto de partida para as gradativas modificações foi justamente IL PIRATA, que, a partir de 1827, começou a mostrar aos mais executados compositores italianos da época o que NÃO deviam continuar fazendo com insistência, contando para isso com a presença e influência inestimável do GUILLAUME TELL, de Rossini, que era meio francesa meio italiana, criada em 1829 em Paris. E o que NÃO deviam fazer esses mais executados compositores italianos da época, como Ricci, Mercadante, Pacini,Vaccai, e alguns outros?
Antes de mais nada, deixar de lado influências e exemplos de Mozart, Salieri, Meyerbeer, Mayr, Auber, Adam, Weber e vários outros afastados ou artificialmente inseridos na estética operística italiana; em seguida, procurar o CANTO livre e expressivo em si, deixando de lado sinfonismos exagerados “à la” FIDELIO; depois, serem mais operísticos e menos literários nos libretos de suas óperas; em seguida, compor para o público e não para os entendidos; finalmente, nunca deixar de dar vez e valor ao virtuosismo, potência e propriedade das vozes.
É exatamente dessas diretrizes, fixadas muitas vezes sem intenção de serem diretrizes, que vem à luz NABUCCO, de 1842, obra daquele que viria a ser o modelo e maior representante do melodrama italiano, GIUSEPPE VERDI (1813/1901), descendente direto das mudanças ocorridas depois de IL PIRATA.
É portanto essa ópera de grande importância musicológica, marco divisor de épocas, como assinalado. Tenha no entanto sempre em mente o leitor que, em arte musical, ninguém é filho de si mesmo. Sempre haverá alguém que veio ANTES, aplainando o caminho e criando modos, estilos, formas, maneiras e mais que seja.
POR SER DA MINHA TERRA É QUE SOU NOBRE, POR SER DA MINHA GENTE É QUE SOU RICO. (OLAVO BILAC).
MARCUS GÓES (1939-2016)

Comentários

  1. Essa conversa fiada toda do Marcus Góes vulgo Nabucco só serve para esconder que esses compositores,Bellini,Donizetti e o primeiro Verdi escreviam música muito simples com passagens vocais solistas mirabolantes para atender à demanda dos teatros de ópera da Itália e seus empresários sedentos por lucros,não sem motivo escreveram numa velocidade galopante dezenas de títulos(o mesmo fizeram Handel e VIvaldi no tempo deles) mas hoje em dia essas obras todas tirando uma ou outra saíram de moda e não interessam mais a quase ninguém.Isaac Carneiro Victal

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    1. Excluo Rossini disso,pois ele seguiu para suas óperas o modelo que segundo o velho e sapientíssimo Nabucco os compositores italianos não deveriam seguir,ou seja o exemplo de um tal Wolfgang Amadeus Mozart.O famoso rei do bel canto e da melodia,assim como o autor de A Flauta Mágica ,Don Giovanni e Così Fan Tutte,escrevia muitas passagens para conjuntos em suas obras,enveredando para a polifonia vocal.Na verdade Rossini não é o exemplo mais notório de autor que concebia a ópera como um meio para o exibicionismo de solistas,que naquela época chegavam a ornamentar livremente as árias que cantavam e insertar peças brilhantes de outras óperas num espetáculo só para fazer gala de suas habilidades; ele falou sobre isso numa conversa que teve com nada mais nada menos que Richard Wagner.Isaac Carneiro Victal.

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