T'RIO LANÇA SEU CD DE ESTREIA REUNINDO COMPOSITORES CONSAGRADOS DA CENA ERUDITA.
Formado por Cristiano Alves (clarinete), Fernando Thebaldi (viola) e Yuka Shimizu (piano), grupo interpreta, no disco “Trios Brasileiros”, peças de João Guilherme Ripper, Liduino Pitombeira, Ricardo Tacuchian e Nestor de Hollanda Cavalcanti
Credenciado pela qualidade técnica e musical de seus integrantes, o T’Rio registra, neste primeiro CD, sua vocação como valioso instrumento a serviço da música brasileira, estimulando a criação de novas obras para esse conjunto de sonoridades distintas como a da viola, do clarinete e do piano, que tão bem se conjugam e se harmonizam nas mãos privilegiadas de seus integrantes.
Edino Krieger (junho, 2018)
“Yuka, Cristiano e Fernando, através de sua música, nos redimem de um mundo áspero e nos conduzem a um universo intangível. E a vida musical brasileira se enriquece com um novo grupo camerístico de categoria internacional”.
Ricardo Tacuchian
Formação que inspirou compositores como Mozart com seu inusitado “Trio Boliche”, o clarinete, a viola e o piano instigaram da mesma maneira os ilustres compositores brasileiros contemporâneos João Guilherme Ripper, Ricardo Tacuchian, Liduino Pitombeira e Nestor de Hollanda Cavalcanti. Foi a partir desta admiração em comum que o clarinetista Cristiano Alves e o violista Fernando Thebaldi, ambos cameristas entusiastas integrantes da Petrobras Sinfônica, juntaram-se à pianista japonesa radicada no Brasil, Yuka Shimizu, registrando em seu CD de estreia, “Trios Brasileiros” (gravadora A CASA Discos), essas joias da música de câmara nacional.
Assim como Cristiano, que soma em sua trajetória artística um grande número de prêmios e títulos pelo Brasil e no exterior, Fernando e Yuka, enquanto o recém criado “Duo Burajiru” - que já conquista os palcos nacionais e estrangeiros - têm em comum, obras dedicadas aos três artistas pelos compositores que participam do disco.
O compositor cearense Liduino Pitombeira participa do disco com três obras distintas. A peça Fantasia sobre a Muié Rendêra traz uma melodia original vai se desconstruindo até em um dado momento se transformar em um tema de doze notas em ambiente de harmonia quartal. A peça foi originalmente escrita para conjunto de flautas doce (soprano, contralto, tenor e baixo), viola da gamba baixo e cravo, e foi gravada nessa formação em 1997, no primeiro CD do Syntagma, o mais antigo grupo de câmara de Fortaleza, que trabalha a conexão entre a música antiga e a música nordestina. Existem atualmente oito versões dessa obra, para diversas formações de câmara.
Sua segunda composição, Japan, é dividida em três movimentos e foi inspirada por três haikus de Judith Ann Gorgone. A peça emprega harmonia modal e “pintura de palavras” para expressar as imagens poéticas dos haikus. O esquema lento-rápido-lento foi escolhido para evocar a tranquilidade meditativa do zen-budismo. Já Brasiliana foi composta para o primeiro concerto do Trio Brasilianas (Felícia Coelho – flauta, Aynara Silva – clarineta, e Maria Di Cavalcanti – piano). Os títulos dos movimentos – Flor anônima, Ao acaso e O relógio de ouro – são oriundos de três textos de Machado de Assis. A obra emprega atonalismo livre, notação gráfica, técnicas estendidas e harmonia cromática. Esta versão foi especialmente escrita para o T’Rio.
O carioca Nestor de Hollanda Cavalcanti participa com O Sábio em Sol, para trio e um narrador. A obra tem por base a “canção sem palavras” do 4º movimento, criada sobre os versos de Luiz Guilherme de Beaurepaire, edificada sobre um único som e harmonizada com acordes onde o “sol” é por vezes a fundamental, ou a terça, a quinta etc. do acorde. A partir da estrutura desta canção, foram compostos os demais movimentos. No primeiro movimento, o piano apresenta o “sol”, seguido da clarineta e viola que expõem elementos da canção final. O segundo apresenta um diálogo (clarineta e viola) construído sobre uma série de doze sons, feita sobre a relação acústica de sons com a nota sol. Há intervenções do piano com os diversos acordes da canção. O terceiro é rítmico e o piano é quem mais trabalha. Na seção central os outros entram, se alternando em arpejos e fragmentos melódicos. E na seção final, depois de um “descanso”, volta o piano ao solo, até uma breve coda, onde todos estão juntos. A obra representa o “sábio” descrito no poema de Beaurepaire, cuja “sabedoria” não sai de uma mesma nota.
O Trio para clarineta, viola e piano, de João Guilherme Ripper, remete à forma sonata com dois temas de características diversas que se contrapõem no decorrer de todo a obra. O primeiro, de contornos líricos, culmina numa longa transição que prepara a entrada do segundo tema rítmico e sincopado, apresentado na viola acompanhada pelo piano, logo respondidos pela clarineta. O extenso desenvolvimento traz episódios de atmosferas diversas, com melodias baseadas no material apresentado na exposição. Outros temas são derivados dos principais e integram-se à seção. Segue-se a reexposição, onde a harmonia tonal é levada aos extremos do cromatismo e a unidade da obra é garantida apenas pelos motivos dos temas principais presentes nas diversas passagens.
Por fim, o compositor Ricardo Tacuchian participa com seu Trio das Águas, escrita em 2012, uma de suas muitas obras com inspiração ecológica. Sua abordagem, predominantemente poética, ainda que com viés ecológico, traz no primeiro movimento, “Águas Do Mar”, alternâncias entre o mar revolto e calmo. “Águas Dos Rios”, o segundo, não retrata rios caudalosos, mas rios sensuais e, às vezes, misteriosos, correndo no meio das florestas. Por fim, “Águas Da Chuva” representa a grande dívida de nossa sobrevivência com a Natureza. A obra, estreada pelo Terra Brasilis Trio, em 2013, no Mosteiro de São Bento de Vinhedo, SP, foi baseada no Sistema-T, uma ferramenta de controle de alturas criada pelo compositor no final dos anos 1980.
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