A NOVIÇA REBELDE: DE VOLTA A UM MUSICAL ENCANTADO. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
FOTOS/JOÃO CALDAS |
“The Sound of Music” é o titulo original do musical popularizado como A Noviça Rebelde e que há mais de meio século vem encantando públicos de todas as idades, além de ser um dos melhores exemplares do gênero, tanto na sua versão teatral na Broadway (1959) como na cinematográfica(1965), com direção de Robert Wise e no insuperável protagonismo de Julie Andrews.
Na sequência de clássicos da era de ouro do musical americano como Oklahoma, South Pacific, Carousel e The King and I, The Sound of Music foi a derradeira obra desta parceria Richard Rodgers/Oscar Hammerstein, com a morte do segundo meses após a estreia. Tendo o libreto de sua autoria se inspirado tanto na autobiografia – The Trapp Family Singers - como numa adaptação fílmica germânica, do final dos anos 30.
Onde o score sonoro de Rodgers extrapolou a ideia inicial de utilização do repertório das canções da Família Trapp, tendo imortalizado alguns hits autorais do original da Broadway desde o tema titular às melódicas e assobiáveis canções como Do-Re-Mi, So Long Farewell, My FavoriteThings, além das romantizadas Climb Ev’ry Mountain ou Edelweiss.
Campeão de prêmios, desde os Tony aos Oscars, resgatou inclusive a popularidade do musical cinematográfico anos 50, como um epígono ou uma volta ao formato que celebrizou o gênero, na sua adaptação às telas em 1965. Com ecos também no Brasil fazendo do filme um fenômeno de público e eternizando sua trilha sonora.
Agora, dez anos depois, a dupla Claudio Botelho/Charles Moeller retoma um de seus maiores êxitos, desta vez com uma mais arrojada concepção cênica e maior substrato dramatúrgico tanto na representação dos 45 atores e na contribuição de artistas e técnicos, como na valoração temática do feminino, a partir do protagonismo rebelde e irreverente de uma noviça em busca de novas perspectivas existenciais e amorosas.
Sem deixar de lado, outro primoroso staff musical, tanto no acerto vocal da maioria dos cantores/atores, como nos arranjos e na orquestra sob o comando seguro do maestro Marcelo Castro.Com grande cumplicidade e adesão emotiva da plateia para os solos e corais das sete crianças Trapp.
De destaque absoluto para Malú Rodrigues não só por suas preciosas tessituras vocais, como pelo potencial carisma com que praticamente conduz, como atriz/cantora, a progressão dramática da narrativa. Ao lado de experientes nomes do musical pátrio, como uma soberba Gottsha (Madre Superiora), uma energizada Alessandra Verney (Baronesa Elsa Schraeder) e a jovial performance de Diego Montez(no papel de carteiro) e Larissa Manoela como Liels, a primogênita dos irmãos Trapp.
Com a participação, ainda, de exclusivos e competentes intérpretes teatrais que não comprometem mas não convencem pela limitação como cantores, tanto Gabriel Braga Nunes como um elegante Capitão Von Trapp, como Marcelo Serrado em humorizado Tio Max, este último com um tom burlesco acima para o seu personagem na caracterização quase emprestada de um personagem televisivo.
Aliando tradicionalismo tanto nos figurinos (Simon Wells) como na cenografia (David Harris) à inovação técnica na modernidade dos recursos projecionais e luminares (Drika Matheus), com uma adequação à proposta mais recatada no gestual coreográfico(Alonso Barros). Audacioso, sobremaneira, na integralização do seu aporte estético de teatro total quase de referencial operístico, e da abrangente envolvência afetiva e sensorial do grande público.
Reafirmando, mais uma vez, o dúplice teor inventivo, na versão de Claudio Botelho e no comando diretorial de Charles Möeller, esta mágica volta da Noviça Rebelde dá credibilidade ao musical que vem lá de cima, na autenticidade identitária de seu conceitual criador e no seu alcance artístico de conquista abaixo da linha do equador.
Wagner Corrêa de Araújo
A NOVIÇA REBELDE está em cartaz na Cidade das Artes/Barra, quinta e sexta às 21h;sábado às 16 e às 21h;domingo às 15 e às 20h. 165 minutos. Até 2 de setembro.
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