SEMANA APOTEÓTICA DE CONCERTOS EM SP. ARTIGO DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET

                                  Ricardo Castro, "São Paulo é um outro país".  
   
   Como diria Ricardo Castro "São Paulo é outro país", o pianista brasileiro radicado na Bahia refere-se ao fato da nossa querida cidade ser outra pátria musical em relação ao restante do Brasil. O baianinho está corretíssimo. Seguem as atrações de primeiro mundo que tivemos nestes últimos dez dias na terra da garoa. 
  No Theatro Municipal apresentou-se a magistral e virtuose pianista ucraniana Valentina Lisitsa. A loira tirou o folego de qualquer pessoa que tenha o mínimo de sensibilidade humana, mostrou assombrosa virtuosidade e passionalidade. Acompanhada da competente Orquestra Sinfônica Municipal e o seu elegante regente convidado Fábio Mecheti a bonitona detonou no Concerto para piano e orquestra número 3 de Rachmaninoff, um dos mais complexos e difíceis do repertório pianístico. 
   Na semana seguinte, na mesma casa, um dos grandes nomes do violino da atualidade, a americana Rachel Barton Pine, solou com a Orquestra sinfônica Municipal. No mesmo programa, além dos solos afinadíssimos e grandiosos da violinista, o talentoso maestro Roberto Minczuk extraiu tudo que podia dos músicos com a monumental décima sinfonia de Shostakovich, obra dificílima para orquestra, parabéns a todos.
   Respirem leitores, calma que tem mais. Isto aconteceu apenas no Theatro Municipal. Na Praça Júlio Prestes uma certa violinista americana de ascendência asiática, midiática, linda, virtuose e prestigiadíssima no mundo da música clássica (pop), chamada nada mais nada menos que Sarah Chang , subia ao palco da Sala São Paulo para solar as Quatro Estações de Vivaldi em evento beneficente realizado pela TUCCA. No dia seguinte o pianista francês Pierre Laurent Aimar, artista que grava com a sony e para a badaladíssima gravadora Deutsche Grammophon (o artista dispensa elogios), apresentou uma interpretação inspirada e competentíssima da obra prima de Ravel: Concerto para a mão esquerda.
   Ainda em poucos dias, Aimar se apresentaria junto a Osesp e sua esposa, Tamara Stepanovich, recital para dois pianos, máster class para jovens estudantes e o dificílimo concerto para dois pianos e percussão de Bela Bartok.
   Ufaa....acabou...ops...ainda não. De quebra, só para completar, o Mozarteum Brasileiro trouxe uma certa soprano, que abriu o concerto de gala da copa do mundo da Rússia, na qual citei em minha recente crítica acho que ela se chama Ana Netrebko (Rússia) só isso.
   Depois de tudo isso em apenas 10 dias, posso dizer que o cabeludo Ricardinho Castro está mais do que certo. Em termos de música erudita somos um outro país dentro do Brasil, ou melhor, a Europa dentro do Brasil. Essa constância de artistas de alto calibre simultaneamente e durante o ano todo, só acontecem em cidades de primeiro mundo como Paris, Viena, Nova Yorque ou Londres. Ao menos neste quesito, os paulistanos não tem do que reclamar. Pena que o restante do Brasil não seja assim.
Ali Hassan Aayche

Comentários

  1. Realmente foi a melhor semana musical do ano no Brasil,sempre viajo para São Paulo para assistir tais eventos imperdíveis,apesar de que a cidade em si não me agrada nem um pouco.Pena que estou passando por um ano muito atribulado,com disputas judiciais,problemas com uma herança familiar também e para coroar agora quando fui a Belo Horizonte,ao concerto da Barton Pine com a Filarmônica,tive muitas dores estomacais e uma diarreia que por pouco não emporcalhou meus planos,literalmente.Até assistiria também ao concerto repetido na sexta(foi incrível o de quinta depois comentarei)mas tive que voltar correndo ainda durante a noite,um choque térmico terrível na estrada,perto de BH um frio na serra,na região da Lagoa dos Ingleses(entre 1300 e 1400 metros de altitude)enquanto na cidade(800 metros) fazia um calor escaldante para essa época do ano.Estou em casa em repouso agora,sempre fui fraco mas ultimamente qualquer coisa me derruba,não podemos descuidar.Também sempre quando estou em SP no inverno fico muito doente,não gosto de incomodar ninguém tossindo nos concertos(sei que o Ali reclamou disso,da tosse do povo)mais muita gente adoece nessa época em SP por causa da poluição e pela saúde pública ser ruim.Já saí de SP,desde criança tenho esses problemas respiratórios,com uma tosse terrível no inverno e me aventurei a subir a serra para ir a um concerto de Festival de Campos do Jordão e lá minha tosse passou,em meio a um frio muito mais intenso.Não é por nada que tratavam lá antigamente as pessoas antes do surgimento dos antibióticos.Isaac Carneiro Victal.

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    1. Estamos nós aqui falando do nosso mundo encantado dos grandes concertos,mas a realidade no interior do Brasil é de "terra arrasada" como diz o Ali,até em algumas capitais como o Rio a realidade é desesperadora,vide o caso do Municipal.Como diz a peça de publicidade do governo Temer,O BRASIL VOLTOU,VINTE ANOS EM DOIS!Estamos revivendo tempos em que ser músico de uma orquestra das mais importantes do país,como a OSESP,não era garantia de nada,nem de ter dinheiro para o pão de cada dia,os artistas tinham que fazer todo tipo de malabarismo para sobreviver.Escolher ser artista era como escolher ser um marginal dentro da sociedade burguesa.Em minhas conversas com as pessoas,muita gente está frustrada e indignada pois acharam,por um momento,que finalmente quem não tinha dinheiro para viajar para São Paulo poderia ter acesso à música clássica.Vou dar um exemplo que acompanhei de perto,na minha região existe um enorme e monumental teatro de época com quase 2000 lugares,cabe mais gente que no Municipal de SP nele,hoje vive sendo alugado como espaço para eventos.Mesmo tendo péssima acústica foi palco de inesquecíveis apresentações da Filarmônica de MG,desde o tempo da Sinfônica de MG,mas nos últimos 4 anos acabaram essas visitas,falta verba para visitar Juiz de Fora,cidade por rodovia distante no máximo 4 horas de BH,incluindo-se parada para ir ao banheiro e comer uma coisinha.Os burocratas da minha cidade não estão nem aí para isso,só querem saber de cuidar dos salários deles e de suas carreiras,que nojo dos burocratas da Universidade,da Prefeitura,da situação de um Museu da época do Império fechado para reforma já se vão dez anos.Caímos como que de um precipício,antes se poderia ouvir a Passacaglia de Marlos Nobre,Don Juan de Strauss,Bachianas no 2 e 4 de Villa Lobos,Sombrero de Tres Picos de Falla,La Valse de Ravel,Danzon Cubano de Copland,até a Retirada Noturna de Madrid de Berio/Boccherini essas e outras o maestro Mechetti e outros regentes tiveram a ousadia de programar.Hoje se anuncia com grande estardalhaço qualquer concerto de música de câmara,realizado num teatro enorme,onde o som se dissipa completamente no caso de conjuntos reduzidos,obviamente o público já se dissipou todo também,só vão os mais aficionados.Voltou o teatro que mencionei a ser o elefante branco de sempre e tudo como dantes no quartel de Abrantes.Tudo como antes pois Juiz de Fora deve ser a capital brasileira dos elefantes brancos,são muitos mesmo.Isaac Carneiro Victal

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