SERÁ COINCIDÊNCIA OU EXISTE SEMELHANÇA ENTRE AS "KATIAS"?



Cenas de Katia Kabanova, produção do Teatro Real de Madri com DVD lançado em 2011 e crítica publicada nesse Blog. Fotos Internet.

   
Cenas da ópera Katia Kabanova a ser exibida no Theatro São Pedro/SP. Fotos Internet.

   O ESPELHO D'ÁGUA DE KATIA KABANOVA. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


   Leos Janácek compôs parte expressiva de sua obra nas duas últimas décadas de vida. Um amor fulminante por uma jovem, de então 25 anos de idade, fez a inspiração do compositor tcheco aflorar de maneira arrebatadora. A Raposinha Esperta, Da casa dos Mortos, O caso Makropolus e Katia Kabanova pertencem a esse período de grande inspiração. A ópera em três atos Katia Kabanova é, ao lado de Jenufa, a obra prima do compositor. Inspiração elevada ao limite, que representa a dor apaixonada do ser humano.    Música extremamente pessoal, composta com frases curtas e repetitivas que não se adaptam a nenhum gênero. Óperas de Janácek não têm grandes árias e sim recitativos com personagens simples, humildes e alguns deles complexos. O importante em sua obra é a música, que mostra a personalidade dos personagens. A orquestra narra a ação, e nela expressa profundas emoções. As falas são coadjuvantes. Janácek constrói linhas melódicas adequadas a cada personagem de suas óperas, música que reflete o sentimento e o caráter . De beleza única e um lirismo que faz chorar o mais frio dos machistas.
   A gravação lançada em DVD e Blu-Ray pelo selo FraMusica e realizada no Teatro Real de Madri, em 2009, tem toda beleza da música de Janácek e muito mais. Uma leitura profunda, inédita e singular do diretor Robert Carsen. O espelho d'água presente em todo o palco e durante toda a apresentação é o personagem principal dos eventos. Símbolo máximo do Rio Volga, em torno dele se passa todo o drama. Tudo é mínimo, com a ausência de cenário e uma luz em degradê no fundo do palco, onde cores se alternam de acordo com o desenrolar da peça; a luz do fundo se mescla a um espelho que reflete as cenas aquáticas, em um lindo efeito visual. Uma interpretação inesquecível, irretocável e com unidade durante toda a apresentação. Ópera moderna da melhor qualidade, leitura diferenciada com inteligência que segue o libreto.
 Os cantores não colocam os pés na água: as dançarinas, verdadeiras ninfas ou almas perdidas do rio Volga, moldam peças de madeira conforme o desenrolar da ação. Acabam sendo parte do cenário. Mais um efeito de arrepiar. Carsen muitas vezes opta pela expressão em detrimento do canto. O Rigoletto de Felipe Hirsch apresentado no Teatro Municipal de São Paulo em 2011 utilizou esse mesmo recurso do espelho d'água no terceiro ato. Deve ser pura coincidência. 
   Karita Mattila encontra equilíbrio entre canto e encenação, foge da cafonice apaixonada e faz uma Katia sedutora e melancólica. Sua voz tem sublime emissão, peso e um timbre pujante. Uma das melhores atuações desse soprano em vídeo. Os demais solistas estão em estado de graça: todos interpretam e assumem seus papéis com realismo e cantam com consistência e segurança.
  A Orquestra do Teatro Real de Madri toca com paixão e entusiasmo, parece familiarizada com as difíceis passagens líricas de Janácek. A regência de Jirí Behlolávek é possante e estável. Entende a penetrante música do compositor e a transpõe no teatro. A imagem digital em Blu-Ray é de grande qualidade, e as entrevistas com o diretor e o regente realçam ainda mais as ideias contidas na função. Um dos melhores lançamentos de 2011.
Ali Hassan Ayache 

Comentários

  1. Bom dia, Ali
    Vc pode me enviar um email de contato, por favor?
    Gostaria de lhe encaminhar um release sobre o 1º festival de música de câmara que será realizado no Vale do Paraíba, em São José dos Campos.

    Obrigada,

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  2. Não quero menosprezar a obra do senhor Janácek,de fato algumas peças dele como a Missa Glagolítica ou a Sinfonietta me levam ao êxtase,mas ele é um compositor que ultimamente está a ser muito executado só por ser europeu na minha modesta opinião.Acrescenta-se o fato de que nossos criadores não são são interpretados lá fora como ele é por aqui.Não estou contra interpretarem suas obras,deixo claro que se a OSESP ou a Filarmônica de MG programarem a Missa por exemplo não vou perder este acontecimento por nada,somente quero chamar a atenção sobre o fato de o espaço que este tcheco está ocupando poderia ser ocupado por outros compositores.Nos grandes centros musicais europeus e norte -americanos,a chance de se escutar o Choros n. 6 de Villa Lobos,ou a suíte de Pananbi de Ginastera,ou o Maracatu do Chico Rei de Mignone,ou a Danza Geometrica de Revueltas(Janitzio desse autor a meu ver se parece um pouco com o estilo das fanfarras de Janácek) entre outras obras de compositores latinos é quase nula.Essas obras que citei não ficam para trás de nenhum compositor europeu dessa época,o que me leva a crer que se não tomarmos nós dos países periféricos uma atitude firme em defesa de nossos autores,serão eles apenas nomes impressos em enciclopédias e dicionários de música acumulando poeira.Isaac Carneiro Victal.

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    1. Correção,é suite PANAMBÍ e não PANANBI.Isaac C. Victal.

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