O FRENÉTICO DANCIN’DAYS : RECORTE MUSICAL E COREOGRÁFICO DE UM LUGAR LEGAL PARA SE LIBERTAR. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
FOTOS/LEO AVERSA |
Quase no final dos anos 70, precisamente no dia 5 agosto de 1976, aconteceu a criação de uma discoteca, nos moldes do lendário Studio 54 de Nova York, de episódica duração mas com o deslumbre cósmico da passagem de um cometa.
Foram apenas quatro meses de efervescência estelar para dar lugar a um espaço dramatúrgico – o Teatro dos 4 – que, por sua vez, em sequência cronológica, faria dali um emblemático espaço da história dos palcos cariocas.
Enquanto este disco club - Frenetic Dancing Days Discotheque – teve, também, uma conceitual simbologia como legado comportamental de uma época. Em ambiência especular de anseios libertários diante das opressões políticas e limitações ideológicas/sociais advindas da então ditadura militar.
E servindo, agora, além da lembrança referencial de um oásis de livre prazer, como mote titular para o musical O Frenético Dancin’Days, de Nélson Motta e Patrícia Andrade, sob a dúplice concepção diretorial e coreográfica de Deborah Colker.
Com um sotaque de teatro documentário, o primeiro ato mostra o idealismo de quatro amigos – a jornalista Scarlet Moon, o ator Leonardo Netto, o DJ Dom Pepe e o produtor Djalma Limongi – que sob a égide inspiratória de Nélson Motta tornaram verista a perspectiva do sonho de uma discoteca diferencial pela sua opção de transgressiva alegria ainda que de temporária celebração.
Para, no segundo módulo, visualizar um lugar extasíaco onde sob luzes e sons psicodélicos, famosos e anônimos estabelecem uma cumplicidade guiada pelo descompromisso de dançar a vida. Em jornadas noturnas quase orgiásticas entre viagens alucinógenas regadas a álcool e drogas.
Com um elenco de 16 atores e sete bailarinos sintonizado na proposta de um teatro musical e coreográfico. Destacando-se nos papéis condutores Bruno Fraga (Nélson), Larissa Venturini (Scarlet), Franco Kuster (Léo), Cadú Fávero (Djalma), André Ramiro (Dom Pepe). Além da mal humorada vizinha (Stella Freitas) na instantânea surpresa e envolvência de sua performance.
Sob avançada moldura técnico/artística, na artesanal responsabilidade criativa de Gringo Cardia, há absoluta funcionalidade no cruzamento dialetal dos elementos cenográficos. Do esfuziante jogo de luzes (Maneco Quinderé) ao proposital exagero aquarelado da indumentária (Fernando Cozendey). Incluído o alcance da trilha sonora (Alexandre Elias) ao vivo por um DJ, no frenesi das pulsações de disco music via samples.
Mas é no que deveria ser sua perceptível correspondência coreográfica que reside o maior deslize desta montagem, agravado pela insegurança de uma aposta, entre acertos e desacertos, de Deborah Colker em sua primeira incursão no comando mor de um musical.
Sem culpa absoluta dela quando ao se considerar o desafio de uma progressão narrativa, rica pelo enfoque documental e mais fragilizada na integralização do dimensionamento ficcional. E, ocasionalmente, sujeita à inconsistência e previsibilidade ao flertar com o nostálgico e o caricatural das revistas e das chanchadas.
A habitual releitura investigativa do movimento e sua corporeidade, marca registrada de sua criação e de seu inventário coreográfico, aqui quase nunca aparece salvo em raros momentos mais alegóricos como a exuberante cena de pole dance.
No infeliz compasso dos batidos passos de uma discoteca, sem identificação maior com a sua diversa e enérgica fisicalidade gestual, e deixando uma prevalente sensação de expectativa por um apoteótico finale que acaba não acontecendo.
Wagner Corrêa de Araújo
O FRENÉTICO DANCIN’DAYS está em cartaz no Teatro Bradesco/Village Mall/Barra/RJ, quarta às 21h; sexta, às 15h; sábado, às 19h e às 22h. 120 minutos. Até 22/11.
Esta não é minha ´praia, porém acho muito positivo a divulgação de outras manifestações culturais neste blog, até porque de outra forma nem saberia da existência deste musical....
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