SYLVIA, BALÉ PARA SONHAR. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Histórias de balé nos levam ao mundo fantástico, onde desfilam deuses, reis, magos, piratas, escravos, príncipes, cisnes e tudo que a imaginação pode criar. Balé nos transporta, nos faz sentir emoções que nem quando crianças sentíamos.
Mundos estranhos aparecem, seres exóticos se materializam. Em cada apresentação, esquecemos a realidade e nos apegamos à ingenuidade dos personagens. Torcemos por eles, nos irritamos quando são enganados, queremos o melhor dos mundos. A música do balé ajuda nessa viagem de sonhos: geralmente doce, simples, direta e muito emotiva. Torna a dança especial e ora nos faz chorar, ora nos alegra com suas melodias sabor mel. Quem tem a imaginação fértil, guarda dentro de si uma alma de criança, e gosta de sonhar acordado, ama essa arte. Balé é para sonhar.
O balé Sylvia é para sonhar. Nele desfilam faunos e ninfas, seres irreais que se materializam no palco do Covent Garden-Londres. Dançam com graça, até que aparece o pastor Amintas, fazendo-os se esconder. Este, interpretado pelo bonitão Roberto Bolle, vence as dificuldades técnicas desse balé com a elegância da dança clássica. Pipoca na entrada, seus pés tremem, mas no desenrolar da função vai ganhando força e confiança. Mostra que é um dos grandes bailarinos da atualidade. Darcey Bussell faz uma Sylvia atlética, forte e apaixonada. Às vezes charmosa, outras tantas severa. Passos expressivos, movimentos cadenciados e uma sintonia total com Roberto Bolle. O pax de deux do final do terceiro ato expressa o amor dos pombinhos. De alto grau de dificuldade e grande beleza estética, representa o auge do enredo.
Alguns vão dizer que o papel foi recriado por Frederick Ashton em 1952, especialmente para Margot Fonteyn - e ela era excepcional como Sylvia. Infelizmente, eu nunca tive o prazer de vê-la. Mas essa remontagem de 2005, que segue a versão de 1952, é, para mim, a melhor do mundo, pois é a única que conheço.
A orquestra toca com brilho, seus metais são heroicos, suas cordas românticas, uma regência com tempos rápidos, um colorido e nuances adequados à música composta por Delibes. Os cenários estão à altura desse grande espetáculo: terrenos no primeiro e segundo ato, celestiais no terceiro. Luxuosos, de cores fortes, às vezes brilhantes. Os figurinos facilitam a movimentação. Delimitam a condição de cada personagem com leveza e cores contrastantes - claras às ninfas e escuras aos sequestradores.
Imagem e som impecáveis, a direção de televisão capta as cenas com transparência.Todos esses fatores fazem desse DVD um trabalho inesquecível. Só não entendo o porquê desse balé não ter se firmado nas grandes companhias mundiais. Possui todas as características dos grandes balés e ainda nos faz sonhar.
Ali Hassan Ayache
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