"TURANDOT" ENCERRA COM SUCESSO A TEMPORADA LÍRICA NO MUNICIPAL DE SP. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


      Turandot, de Giacomo Puccini (1858-1924) encerra a temporada lírica do Theatro Municipal de São Paulo com sucesso. É um melodrama suntuoso, impulsionado por um fôlego de humanidade, penetrado de poesia, fantasia e paixão. Elidindo o perigo de converter Turandot numa espécie de réplica ou contrapartida oriental de Madame Buttterfly, o gênio pucciniano liberou sua torrencial, derradeira e suprema mensagem artística. Todavia, será preciso convir que a complexidade prática de um espetáculo desse gabarito, prelude a possibilidade de reposição em teatros de menor tomo, orçamentário e técnico, merecendo assim,  a sua reposição tão logo, quanto possível, considerando-se tal investimento.
       Numa China antiquissíma e lendária, na Pequim de priscas eras, Renato Theobaldo enclausurou o coro em estrutura vazada metálica em forma de ferradura. Alguns suportes e flâmulas chinesas complementam o cenário; nada mais. Como de praxe o cenógrafo não consegue realizar algo melhor. O problema é que engaiolou o coro, impedindo-lhe e prejudicando o seu trabalho cênico, escondendo ademais a liberdade de expandir suas belas e sonoras vozes. O coro nesta ópera é de capital importância,  e merece aqui ser valorizado cenicamente tanto quanto vocalmente. O Coral Lírico Municipal juntou-se ao Coral Paulistano resultando numa massa vocal de imponente  e bela sonoridade, preparados por Mario Zaccaro e Naomi Munakata: Gira la cote !...perquê  tarda la luna ? o Hino Imperial e finalmente  Amor! O sole! Vita! Eternitá ! foi um espetáculo à parte. Bravos !
       Os figurinos de Sofia de Nunzio infelizmente resultaram num carnaval incontido de cores. Todas as paletas de uma caixa de lápis de 48 tonalidades lá estavam ! Há que se considerar os esplendidos trajes da princesa Turandot e de seus adereços, que resultaram em belo visual. André Heller-Lopes dirigiu o elenco com uma opção já manjada em diversas produções: o teatro dentro do teatro. E nesta ópera a adaptação não funcionou !  Muito melhor seria da forma tradicional, como se faz em grande maioria dos teatros de todo o mundo. Importante observar que algumas mudanças por conta própria descaracterizam o próprio enredo da peça: Desde quando, por exemplo, a Liú se joga das alturas à moda de Tosca em sus morte ? Liù dizendo à princesa "antes de o sol levantar-se, terei fechado os olhos, de maneira que ele continuará vitorioso"; arrebata um punhal do cinto de um dos guardas e enterra em seu coraçãozinho. Aí se encerra sua vida,  e desta forma,  Sr. André. E aquele dragão circense,.... foi de espantar qualquer espectador !....Coisa de circo.E o globo espelhado do Ato III refletindo nos olhos do público, foi um castigo ocular a todos os presentes.  
        Roberto Minczuk à frente da Orquestra Sinfônica Municipal, conduziu com maestria a ópera impressionista e moderna de Puccini; cuja orquestração é rica em diversidade física e sonora, lembrando-nos Stravinsky, Shoenberg, Debussy e Wagner, em harmonias criativas e inéditas, dando-nos a atmosfera ambiental, poética e psicológica.  
        O soprano norte-americano Elizabeth Blancke-Biggs encarnou a princesa Turandot. Voz consumida pelo atrito dos anos, a cantora deu cabo ao difícil papel, desumano em sua linha vocal, demonstrando segurança e domínio da princesa Imperial em sua principal ária "In questa Reggia".
        O tenor heroico canadense David Pomeroy deu enlevo à sua ária "Nessun dorma", ao qual o público soube retribuir em efusivos aplausos. Cenicamente saiu-se satisfatoriamente em todo o difícil segundo ato desta tão bela ópera. Melhor ainda que ele é o baixo brasileiro Luiz- Ottavio Faria, (Timur) presença sempre marcante somada a voz plena, redonda e sonora, em desempenho poderoso, dramático e tocante. Liù foi o soprano Gabriella Pace em boas atuações de suas árias puramente líricas.  
        No segundo ato, as três máscaras caricatas, a quem Puccini incumbiu de simbolizar o bom senso, deram interpretação satisfatória no poético trio (commedia dell"arte) : Vinícius Atique (Ping) nem sempre acertou em suas inflexões canoras; Geilson Santos (Pang) e Giovanni Tristacci (Pong) e Imperador Altoum (Quadro II, ato II), ambos tenores leggeros, a contento vocal e cenicamente. 
   
Davi Marcondes (Mandarim) barítono de reais qualidades atuou com sobriedade cênica-vocal. Completou o espetáculo a iluminação de palco de Fabio Retti, com sensibilidade para cada momento cenográfico e de misticismo atmosférico. "Turandot" segue em cartaz até o dia 25 de Novembro alternando dois casts.

Escrito por Marco Antônio Seta em 20 de Novembro de 2018, pela récita de 19 de Novembro/2018.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB / SP 
Diplomou-se em piano, teoria, história da música, harmonia e contraponto no Conservatório Musical  "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí.Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO, em São Paulo, Capital.  




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