LUCIA DI LAMMERMOOR, ÓPERA DO PERÍODO ROMÂNTICO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

   


   Lucia di Lammermoor é a ópera mais popular de Gaetano Donizetti. O prolífico compositor do século XIX acertou em cheio nesse drama. Belas melodias apoiadas a um libreto homogêneo levam a árias para soprano, tenor e barítono exibirem seus dotes vocais. Não é por acaso que a ópera é uma das mais representadas desde sua estréia.Lucia di Lammermoor é desafiadora e atraente, papel desejado por muitos sopranos e imortalizado na voz de Callas, Sutherland, Caballé, Gruberova e Sills,  entre outras.
         A versão em DVD traz imagens nítidas e som de boa qualidade. O Scala se destaca pelo conservadorismo em relação a versões modernas de ópera. Nessa Lucia temos uma leitura clássica, sem deixar de ser moderna.  Cenários limpos, claros e sem exageros. Iluminação correta, embora escura às vezes, direção satisfatória e figurinos impecáveis são algumas das características do padrão Scala de qualidade. Se você gosta de leituras modernas, onde diretores de "vanguarda" transpõem, cortam e remodelam, não compre essa versão. Aliás não recomendamos nada desse teatro para quem gosta de modernidades.  
         Impossível não elogiar a orquestra: com uma bagagem de centenas de óperas em seu currículo, os músicos e o regente Stefano Ranzani tiram de letra. Destaque em todos os naipes, som harmonioso  e vibrante são algumas das qualidades que podemos citar. O coro segue a mesma linha, sempre afinado, com certeza um dos melhores do mundo.
         Os solistas são velhos conhecidos dos amantes da ópera. Renato Bruson,  que já cantou várias vezes em São Paulo,  faz um lorde Enrico sisudo, estático e compenetrado. Sua voz se destaca pela potência e brilho, um dos melhores barítonos de sua geração. Mariela Devia é uma soprano correta, segue a partitura quase com perfeição. Mas não empolga, não arrisca nada. Burocrática,  principalmente na cena da loucura. Na sua principal ária poderia assumir alguns riscos, empolgar mais, interpretar uma louca, soltar a voz como fazia Callas, Sutherland. Tudo bem! Seria pedir muito, soltar a voz como faziam as grandes divas do século passado. Vincenzo La Scola possuí belo timbre de tenor, projeta agudos claros , eficientes para o papel de Edgardo. Não faz uma apresentação inesquecível. Como sua colega,  fica no básico, dando conta do recado.
         Alguns detalhes deixam a desejar na produção, mas nada que desabone esse DVD. Quando Lucia sai do leito nupcial,  no terceiro ato, acaba de matar o marido e está possuída pela loucura. O figurino e a representação  deveriam mostrar esse momento trágico e crucial. Na montagem apresentada, entretanto,  a  personagem parece ter saído de um baile, toda arrumada, cabelo muito bem penteado que em nada lembra uma moça assassina e louca. O capelão Raimondo é alguém pertencente ao clero -  parece óbvio falar isso  -  mas seu figurino está incorreto. É preciso muita imaginação para ver um clérigo nesse personagem.
          Lucia di Lammermoor é uma ópera que sintetiza toda a primeira fase período romântico.Todos os clichês do período estão representados: cena de loucura, lugares exóticos e distantes, morte dos protagonistas são alguns deles.  Pela excelência na orquestração e produção, bons solistas e preço razoável para um DVD importado, vale a pena ter essa ópera em sua estante. Entre as disponíveis no mercado,  pensamos ser a melhor custo-benefício que existe atualmente.
Ali Hassan Ayache

Comentários

Postagens mais visitadas