TEMPORADA DE DANÇA 2018 : AINDA ENTRE IMPASSES MAS COM DIREITO A SURPRESAS. ARTIGO DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
ROMEU E JULIETA/BALÉ DE SANTIAGO |
Se o ano já foi difícil mesmo para as tradicionais cias com patrocínios certos, o que se podia esperar para aquelas que não se enquadravam neste patamar?...
Sem obras inéditas, o Grupo Corpo retomou Gira, de 2017, e “21”, de 1992, enquanto a Cia Deborah Colker reencenou seu Cão Sem Plumas, de 2017.
Sem obras inéditas, o Grupo Corpo retomou Gira, de 2017, e “21”, de 1992, enquanto a Cia Deborah Colker reencenou seu Cão Sem Plumas, de 2017.
Sob duras penas, a Quasar mesmo assim conseguiu novo folego em espetáculo comemorativo de seus 30 anos – O Que Ainda Guardo, um tributo à Bossa Nova mas que, para tempos difíceis, quase ironizava titularmente a preservação das potencialidades da cia goiana.
Com um trabalho ininterrupto desde 1971, o Ballet Stagium trouxe aos palcos cariocas Figuras e Vozes, de 2014, referencial ao centenário do Dadaísmo, onde o irracional e o delírio na progressão dramática e coreográfica (Décio Otero/ Marika Gidali) mostraram seu habitual elemento de espontânea e provocadora pulsão, com base clássica e olhar armado na contemporaneidade brasileira.
Duda Maia, através de seus atores bailarinos no espetáculo O Tempo Não Dá Tempo, delineia um espaço cênico/dramatúrgico para o gesticular sensorial, reflexionando o processo da passagem temporal, entre o ontem e o hoje. Investindo, assim, no descortino de novos caminhos da dança/teatro ao teatro físico. E, ainda, pela participação especial de Angel Vianna com seus 90 anos, em emblemático papel inventor/interventor no gestual cotidiano da dança para o teatro.
Mais uma vez, insistindo na teorização simbiótica do teatro-dança - Regina Miranda e Marina Salomon - em Naitsu – Noites com Murakami através da literatura, do teatro, da instalação plástica e do movimento gestual-coreográfico, alcançam uma gramática cênica fluente, de convergente apelo visual e enérgica irradiação psicofísica, num veemente e estilizado dimensionamento dramático e coreográfico.
Na imanente corporeidade conectada a uma dramaturgia de subjetivação através dos bailarinos/criadores (Mônica Burity/Tiago Oliveira) a Cia Gelmini, idealizada e dirigida por Gustavo Gelmini, em Fauno, dá continuidade a um acurado trabalho investigativo sobre as perspectivas do universo coreográfico contemporâneo no mix inventivo com outras linguagens artísticas.
O artista plástico, ator e bailarino Márcio Cunha vem imprimindo às suas incursões plásticas-espetáculos coreográficos do tríptico inicializado porFrida, Basquiat e, agora, Rosario, uma autoral pulsão integrativa de elementos da dança, da performance teatral e do processo das instalações. Com prevalência em energizada imersão física e psíquica de seu idealizador e intérprete na trajetória do outro artista.
A programação, de substrato clássico, alcançou seu melhor momento na representação do Ballet de Santiago para o Romeu e Julieta, original de Cranko, na perfeita sintonia de elementos técnico/artísticos com segura atuação do elenco. Sabendo, sobretudo, acentuar na gestualidade e na mascaração, a carga de expressividade teatral que a coreografia propicia aos bailarinos. Numa bela proposta sob o comando de Márcia Haydée com raro equilíbrio entre técnica e emoção, teatro e dança.
Ainda nos passos para retomar sua tradição de melhor Cia clássica do país, o Ballet do Theatro Municipal apresentou em Jóias do Ballet, obras de seu repertório, em adequada sintonização com os originais russos, não só através da reutilização do acervo cenográfico e indumentário da FTM, como pela convicção e entrega de seus solistas em intepretação corajosa no compasso de tanta instabilidade.
Com Still Reich, por sua Focus Cia de Dança, Alex Neoral e seus oito bailarinos conduzem a performance, ora na sequencialidade energizada de entradas e saídas, ora nas sensoriais formações grupais. Interpelando, no entremeio de um rígido jogo gestual de padrões ora geometrizados ora abstratos, as relações de movimento dos bailarinos com o preenchimento do espaço cênico. Em bravo instante de cumplicidade emotivo/estética para fechar, com brilho, a Temporada 2018 de Dança dos palcos cariocas.
Wagner Corrêa de Araújo
FOCUS CIA DE DANÇA/ ALEX NEORAL |
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