MARIA TUDOR , DE CARLOS GOMES: BELA E INFELIZ ! ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.




Desde suas missas da juventude dos anos 50, suas óperas criadas no Brasil no início dos anos 60, suas canções, suas revistas musicais criadas na Itália nos 60 e suas óperas criadas na Itália: “IL GUARANY”(1870), enorme sucesso, “FOSCA” (1873), aplaudida pela crítica e  ”SALVATOR ROSA”(1874), outro enorme sucesso, o nosso Tonico só conheceu o triunfo, a exaltação, a fama internacional.
Tal foi o sucesso do “SALVATOR ROSA” em 1874 em Gênova, que foi com essa ópera que a Scala de Milão abriu sua temporada no mesmo ano. Gomes se tornou figura popular da capital lombarda. Todos falavam de sua vasta cabeleira, apelidaram-no de “testa di leone” (cabeça de leão), os restaurantes ofereciam pratos “à Carlos Gomes” e uma taça de sorvetes “Peri e Cecilia” com sorvetes de chocolae e creme lado a lado. Os humoristas diziam que quem então fazia música em Milão era um índio…
Mas – e em meio a extremos sucessos há sempre um “mas” – o sucesso e a fama de Carlos Gomes mais cedo ou mais tarde haveriam de despertar a inveja e as reclamações dos italianos. A reação viria, forte e compacta, e quem pagaria a conta seria a “MARIA TUDOR”, criada na Scala em 1879 em meio a vaias pré-fabricadas.
O ano de 1879 foi um ano infeliz na vida de Gomes. A separação da mulher Adelina Peri se desenvolveu litigiosamene  em tribunal com todos os ingredientes de estilo: ofensas, acusações, brigas por quinquilharias, tudo à vista de todos. Será em 1879 que Gomes perderá o filho Mario Antonio, morto aos quatro anos de idade.
Antes desses acontecimento, no entanto, a imprensa e grande parte do público, por ela influenciado, prepararam um conjunto de argumentos contra Carlos Gomes que apareceria escrito antes, durante e depois das duas únicas récitas da MARIA, ocorridas em 27 e 29 de março de 1879.
Como era possível um “indiano selvaggio” ter suas óperas postas na Scala enquanto “talentosos” compositores italianos tinham de se contentar com teatros menores? E aí eram citados compositores italianos que hoje ninguém conhece, como um certo Dominicetti, de quem se diziam maravilhas em detrimento de Gomes. Disse-se até que o Dominicetti estava servindo de modelo a compositores alemães da época…
Assim, a MARIA foi vaiada sem piedade, por uma reação chauvinista de baixíssimo nível. No entanto, é ela uma belíssima ópera, com uma abertura muito bem composta, com trechos de grande beleza, como o dueto Fabiani/Giovanna “L´amore l´estasi”, como o dueto Maria/Fabiani “Colui che non canta” , como a preciosa grande ária de Maria “O mie notti d´amor”, como a notável marcha lenta do início e do final da ópera, como a ária de Fabiani. Uma ópera que depois teria seus modelos e inovações copiados na própria Itália, principalmente na era do verismo.
O prestígio de Gomes entrou em baixa depois da MARIA, mas foi aos poucos voltando ao posto anterior, principalmente devido à grande admiração e gosto do público por “IL GUARANY”, “SALVATOR ROSA” e por uma “FOSCA” modificada. Só em 1889, viria a público sua ópera “LO SCHIAVO”, criada no Rio de Janeiro.
O jornalista “Hans” chegou a dizer que Carlos Gomes tomava o lugar de Faccio, de Giovannini, de Dominicetti, todos invejados na França e na Alemanha.
Devia ser isso mesmo, tanto que na França pensou-se enviar Gounod, Massenet e Saint-Saëns à Itália aprender com eles. Da Alemanha, viriam Brahms e Richard Wagner, com papel, lápis e borracha, para anotar as lições…
COLUI CHE NON CANTA / IGNORA L´AMOR
MARCUS GÓES  (1939-2016)

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