MELHORES E PIORES DE 2018 POR WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO.


O CAVALEIRO DA ROSA / TMSP


PIOR ESPETÁCULO DE ÓPERA

Uma equivocada proposta estética de substrato futurista de Um Baile de Máscaras no Municipal do Rio, sob efeitos computadorizados no ideário de Pier Francesco Maestrini, e que poderia seduzir pelo inusitado mas decepcionou pelo resultado pretendido, para uma partitura verdiana controvertida em sua transmutação temporal/ galática. Diluindo o dimensionamento psicológico dos personagens pelo carregado sombreamento do desenho de luz e pelas visualizações numéricas e cronológicas que ora remetem, sem disfarce, aos efeitos de uma tela virtual. Com um acentuado sotaque kitsch nos traços néon da indumentária escura lembrando ambiências de pistas clubber ou de desfiles carnavalescos.

PIOR CANTOR SOLISTA

O desequilíbrio do elenco protagonista no Baile de Máscaras (TMRJ) onde a convicta tessitura dos brasileiros atende às exigências de seus papeis e transforma em ‘um arremêdo o “ascensional” talento do tenor italiano Leonardo Caimi (como Gustavo). Com alcance abafado, ausência de coloração, desde sua romança inicial, e sem qualquer indício de “crescendo” nas cenas sequenciais.

PIOR ESPETÁCULO DE DANÇA

Ballet du Capitole de Touluse, com o espetáculo Nos Passos de Nureyevfoi anunciado como uma retomada de alguns momentos capitais da trajetória de Nureyev, cada número dando esperança de que, certamente, haveria ali uma memorável representação. Sem servir de autenticado referencial, mesmo com seu elogiável propósito/tributo, a um dançarino apolíneo, padrão entre a fisicalidade masculina erotizada e uma sensitiva gestualidade quase feminina, o Ballet du Capitole de Toulouse, com mais erros que acertos, tornou, enfim, pálida a lembrança dos passos de Nureyev.

MELHOR DIREÇÃO DE CENA

A resposta está exemplificada nesta La Traviata do TMSP, coerente na tradição sintonizada com a contemporaneidade em encenação assumida, com raro brio, pelo experimentado comando teatral de Jorge Takla. Que, mais uma vez, trouxe para o universo musical da ópera a exploração do componente formal (dramático/gestual) necessário à progressão da narrativa e ao devido retrato psicofísico dos personagens.

MELHOR CENÁRIO E MELHOR FIGURINO

La Traviata foi exponencial em seu conjunto, desde a concepção dos imponentes mas funcionais cenários de Nicolás Boni à unicidade requintada dos figurinos (Cássio Brasil) através de equilibradas nuances em tecidos e cores combinando, sem nunca cair no mau gosto, com a mascaração, no visagismo e no uso dos acessórios.

MELHOR ESPETÁCULO DE DANÇA

Temporada Paulista – SPCD (São Paulo Cia de Dança)

Revelando os sérios propósitos e os avanços estilísticos de um grupo brasileiro de dança, provocativo de sólida convivência da tradição clássica à contemporaneidade, através de obras mestras destas duas tendências. Sempre sob o olhar artesanal e o comando seguro de Inês Bogéa, via sua incrível trupe de 30 bailarinos. À diretoria artística da SPCD não falta inteligente arrojo ao privilegiar, num mesmo espetáculo, três obras deMarco Goecke, coreógrafo sob a prevalente marca criativa de reiterativa linguagem gestual, entre o automatismo simétrico e a mecanicidade nervosa.
SPCD (SÃO PAULO CIA DE DANÇA) - Programa Marco Goecke

Temporada Carioca  – FOCUS CIA DE DANÇA

Em seus quase vinte anos, esta Cia, através de seu coreógrafo - diretor Alex Neoral e de seu consistente elenco de oito bailarinos, vem priorizando um alentado desdobrar-se na busca de novas perspectivas para a criação coreográfica brasileira.
Com Still Reich, por sua Focus Cia de Dança, Alex Neoral e seus oito bailarinos conduzem a performance, ora na sequencialidade energizada de entradas e saídas, ora nas sensoriais formações grupais. Interpelando, no entremeio de um rígido jogo gestual de padrões, ora geometrizados ora abstratos, as relações de movimento dos bailarinos com o preenchimento do espaço cênico. 

Temporada Internacional – ROMEU E JULIETA/BALLET DE SANTIAGO

A programação, de substrato clássico, alcançou seu melhor momento na representação do Ballet de Santiago para o Romeu e Julieta, original de Cranko, na perfeita sintonia de elementos técnico/artísticos com segura atuação do elenco. Sabendo, sobretudo, acentuar na gestualidade e nas caracterizações, a carga de expressividade teatral que a coreografia propicia aos bailarinos. Numa bela proposta sob o comando de Márcia Haydée, com raro equilíbrio entre técnica e emoção, teatro e dança.

REVELAÇÃO LÍRICA-MASCULINO, REVELAÇÃO LÍRICA-FEMININO 

No confronto com a representação dos papéis protagonistas, mais uma vez alguns solistas brasileiros mostraram folego maior e convicção apurada na competição do habitual ringue das vozes estrangeiras convidadas.
Como em Turandot, a irradiante atuação da soprano Gabriella Pace (Liú) e seu consistente timbre capaz, sempre, de preencher as exigências de sua personagem. Sem deixar de destacar a força dos graves na tessitura do baixo Luiz Ottavio Faria (Timur) ainda que em episódicas entradas.

MELHOR ORQUESTRA-MELHOR REGENTE

Com recursos de perfeccionismo sinfônico, elementos estilísticos que a montagem de O Cavaleiro da Rosa, como segundo espetáculo da Temporada Lírica 2018 do Municipal paulista, soube explorar com sensível e avançado senso artístico. Desde a primorosa leitura do maestro Roberto Minczuck atenta à escrita straussiana e sabendo alcançar o tônus idealizado do volume orquestral para privilegiar os cantores de um elenco, com prevalência expressiva entre os solistas convidados, ao lado do Coral Paulistano e da Sinfônica do Theatro Municipal de São Paulo.

MELHOR CANTORA SOLISTA 

Numa encenação multifacetada de quase vinte personagens no Cavaleiro da Rosa, alguns deles em alternância de papéis, os destaques ficaram com o quarteto de protagonistas. Seguindo-se, no naipe feminino, a postura exponencial em transmutações teatrais de Luisa Francesconi no papel de Octavian, assim como no timbre incisivo e na segurança de uma voz admirável de mezzo-soprano.

MELHORES REGISTROS ( DVDs /Blu-rays)  DE ÓPERA E DANÇA

A maior surpresa em registro de espetáculos coreográficos foi o Blu-ray que marcou as comemorações do centenário de nascimento de Leonard Bernstein – BERNSTEIN CELEBRATION – com três novas criações para o Royal Ballet de Londres.

Yugen em inventiva incursão de Wayne McGregor, a partir de fragmentos do Chicester Psalms, onde o brilho maior está no contraponto energizado dos solos vocais da composição musical com as performances individuais e formações grupais dos bailarinos.  Seguindo-se The Age Of Anxiety numa abordagem coreográfica de caráter narrativo, com realismo cenográfico, na concepção de Liam Scarlett tendo a participação de seis solistas, visualizando expressivos encontros erótico/amorosos em um bar noturno.

E, em Corybantic Games, com maior coragem na exploração investigativa da corporeidade e do movimento, numa proposta abstrata com o olhar armado na vanguarda do universo coreográfico. Por Christopher Wheeldon, com base na Serenata  (Corybantic  Games) do celebrado compositor americano.

                                           Wagner Corrêa de Araújo


Comentários

  1. A Luisa Francesconi além de cantar muito, mas muito bem ela é uma excelente atriz, ela é puro teatro, ela respira teatro é extremamente gratificante vê-la mergulhada em seus papéis...

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