COLE PORTER – ELE NUNCA DISSE QUE ME AMAVA : UM MUSICAL, DE VOLTA AO FUTURO. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
FOTOS/DANIEL COELHO |
No início do terceiro milênio um musical despretensioso, em sua proposta antológico-memorial em torno da vida e obra de Cole Porter, foi fator propulsor do gênero nos palcos cariocas.
E numa temporada que se estendeu pelo país e além mar, Cole Porter – Ele Nunca Disse Que Me Amava, acabou criando uma grife clássica – Möeller & Botelho - para o musical brasileiro.
A dúplice concepção e direção de Charles Moeller e Cláudio Botelho se tornou, assim, mentora de um gênero que, em menos de duas décadas, imortalizou versões fiéis da estética Broadway. Que, longe de serem meras cópias do original (até mesmo por exigências contratuais), buscavam novos ares para as transposições da Times Square em terras tropicalistas.
Além de ter, em poucos anos, incentivado o surgimento de completos expoentes do gênero, não só atores-cantores-bailarinos, mas impulsionando repertórios específicos para grupos instrumentais e novas perspectivas para o ofício coreográfico.
E, ainda, ampliando as potencialidades da arquitetura tecno-artística (cenografia, figurinos, iluminação) destinada exclusivamente a um certo tipo de espetáculo, até então sem expressivas historicidade e prevalência em nosso universo cênico.
Num referencial à sequencialidade ininterrupta de momentos especiais da conexão interativa - voz, música, dramaturgia – unindo palco/plateia pelas metrópoles país a fora, quebrando muitas vezes, o resistente circuito Rio/São Paulo, Cole Porter – Ele Nunca Disse Que Me Amava faz, agora, esta viagem tributo “de volta ao futuro” do musical pátrio.
Reunindo seis prima donnas do gênero e trazendo, entre estas, três intérpretes da montagem original (Alessandra Verney, Gottsha e Stella Rodrigues), ao lado de outras exímias artistas na categoria e produto da geração seguinte (Analu Pimenta, Bel Lima e Malu Rodrigues ).
Em tematização particularizada pela identidade feminina, através da personificação de mulheres fundamentais à trajetória artístico-existencial do compositor americano, com este último tornado presencial apenas numa textualidade em off (na voz de Claudio Botelho).
Numa convergência teatral sem, rigorosa cronologia biográfica, da mãeKate Porter (Bel Lima), da esposa Linda Porter (Stella Maria Rodrigues), da colunista e promoter Elsa Maxwell (Analu Pimenta), da Broadway star Ethel Merman (Gottsha), mais a agente e produtora Bessie Marbury (Alessandra Verney). E da única personagem imaginária – Angélica (Malú Rodrigues), como a emissária da morte.
Comparativamente à produção primeira do espetáculo, agora, tornando-se perceptível um maior refinamento, resultado da maturidade artesanal da dupla de artífices – Moëller & Botelho – nesta segmentação cênico-musical.
Embora conservando o mesmo substrato temático e similar arcabouço dramatúrgico da proposta inicial, houve a inclusão de novas passagens tanto na estrutura narrativa quanto no detalhamento video/documental, incluídas canções menos divulgadas do inventário composicional de Cole Porter.
Com direção musical refinada para acentuar a formatação dialetal texto e canção, conduzida em sotaque camerista pelos instrumentistas Omar Cavalheiro, Marcio Romano, além de Marcelo Castro acumulando as funções de arranjador.
Onde o mecanismo de efeitos luminares (Paulo Cesar Medeiros) mais vazados ressalta a sofisticação dos figurinos (Marcelo Marques) e do brilho visagista (Beto Carramanhos), adequando-se à plasticidade mural/cenográfica (Rogerio Falcão), aqui, sugestionando quadros com mulheres em uma exposição.
Para completar esta proposta cênica de convicto ideário dramático e musical, a luminosidade de um elenco tomado de paixão e pleno de técnica, predestina a representação como produto bem acabado, destinado à espontânea e cúmplice adesão do público.
COLE PORTER – ELE NUNCA DISSE QUE ME AMAVA está em cartaz no Theatro NET, Copacabana; sexta às 20h; sábado às 21h; domingo, Às 17h. 100 minutos. Até 28 de abril.
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