TEMPORADA PAULISTA / O FANTASMA DA ÓPERA : UM GÊNERO À BEIRA DO ABISMO. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
FOTOS/PEDRO DIMITROW |
Qualquer espectador ao assistir a esta segunda versão paulista do mais popular de todos os musicais – O Fantasma da Ópera – pode estar se despedindo de um padrão de superproduções que colocou São Paulo ao lado de Nova York e Londres, com o radical corte na fórmula da já ex - Lei Rouanet.
Desde a sua estréia londrina, em 1986, tornou-se o campeão dos campeões em público e recorde de montagens mundo afora, não tendo alcançado o mesmo sucesso do palco em sua transcrição fílmica, de 2004. E sua versão americana, em cartaz desde 1988, tornando-se marca registrada e programa obrigatório da Broadway.
Inspirada numa narrativa novelesca de ingredientes góticos, escrita por Gaston Leroux, em 1910, e que ressurgiu das sombras, graças ao musical, mas sem levar o livro às paradas literárias. Por seus caracteres claramente fora de moda, carregada de clichês melodramáticos e sustentada numa trama de suspense, sob romantismo absolutamente kitsch.
De uma corista promovida a solista de uma grande ópera, por instância das ameaças advindas de misteriosa personagem fantasmagórica que ronda os bastidores do Palais Garnier de Paris, em 1881. Demonstrando, assim, a sua paixão além tumulo por uma cantora situada no plano terreno de um teatro assombrado.
Que não é disfarçável em seu assobiável e meloso score musical (Andrew Lloyd Webber) nesta sua passagem cênica. Marcado por temas que aumentam sua tentativa de identificar-se com a linguagem grandiloquente da ópera, em acordes ariosos, duetos ou em leitmotivs de celebrizadas canções (Angel of Music, All I Ask of You, The Music of the Night).
Destacando-se, sem dúvida alguma, o tenor Thiago Arancam e a soprano Lina Mendes, por suas vastas experiências na cena operística. Com um marcante presencial tanto na performance como no alcance da tessitura lírica, no personagem mais romantizado de Christine (L.Mendes) e no doFantasma (T.Arancam), entre a a timidez e a arrogância nos avanços do seu poder espectral.
Sem deixar de lembrar outro nome com algumas incursões na ópera, na espontânea nuance atoral de entonação baritonal via Sandro Christopher. E na representação de Fred Silveira, mais convincente como ator que cantor, pelo contexto lírico, fazendo Raul, o noivo de Christine.
Tudo, aqui, seguindo rigorosamente a criação original, desde a partitura composicional de Lloyd Webber, dirigida com artesania por Miguel Briamonte, a partir dos arranjos para conjunto orquestral de David Cullen, à reposição da fisicalidade gestual/coreográfica de Gillian Lynne.
Onde a concepção direcional de Harold Prince, integralizando-se na imponente paisagem cenográfica (Jonathan Allen), inclui luxuosa indumentária (Sam Fleming), mascaração e visagismo de época (Christian Gruaz). Citando-se, também, a cuidadosa versão textual brasileira por umexpert - Claúdio Botelho.
Trazendo, ainda, uma espetacularização cênico/cinética capaz de provocar oníricas visões e sensoriais experimentos psicofísicos nos altos relevos do pórtico com anjos e figuras mitológicas, ampliada na pirotecnia e efeitos luminares e sonoros, entre fogos que acendem e apagam candelabros e na culminância da súbita queda de portentoso lustre sobre a plateia.
Se todo este requinte tecnológico e artístico custou nada menos que 45 milhões, com uma cobertura de 28 milhões pela Lei Rouanet, capazes, afinal, de tornar viva mais que uma programação anual de teatro brasileiro, o que haverá, daqui em diante para este genêro, com a redução para o limite de 1 milhão na nova lei de Incentivo à Cultura?
Será que teremos que repetir o prólogo de O Fantasma da Ópera e leiloar, diante do perigo de iminente crise, o decadente acervo de um teatro musical do qual restará apenas o inventário memorial de anos de ascensão e glória?
Com a palavra os produtores e os artífices de montagens de tal porte, entre inúmeros artistas e técnicos, nesta agora tão “fantasmagórica” busca por saídas e soluções...
Wagner Corrêa de Araújo
O FANTASMA DA ÓPERA está em cartaz no Teatro Renault / Centro/São Paulo, de quarta a sexta às 21h; sábados, às 16h e 21h.; domingos, às 15h e 20h. 150 minutos. Até 31 de Julho.
Eu estive lá! Chorei de emoção!
ResponderExcluirAmei o espetáculo tanto nesta montagem como na anterior.
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