UM DIA NA BROADWAY : UM MUSICAL TRIBUTO COM ESTÉTICA DE VIDEO CLIPPING. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


FOTOS/HENRIQUE FALCI


Uma psicodélica viagem com o uso e abuso dos últimos recursos tecno-visuais-sonoros faz de Um Dia na Broadway um cyber musical, a partir de antológicas passagens de alguns dos clássicos do gênero.

Este é, em linhas gerais, o substrato estético de uma concepção de teatro musical que reúne mais de trinta profissionais, entre cantores, bailarinos, atores e grupo orquestral, sob a direção geral e produção do ítalo/ brasileiro Billy Bond.

Um velho conhecido dos palcos de especificidade cênico/musical desde sua opção, há três décadas, fixando-se em São Paulo, onde foi responsável/produtor por momentos marcantes como a primeira versão deRent, seguindo-se, entre outros em seu ofício, O Beijo da Mulher Aranha eOs Miseráveis.

Tendo se dedicado, em anos mais recentes, às criações desta lavra para o teatro infanto-juvenil como O Mágico de Oz, em cartaz simultâneo, no Rio, com o presente musical. Este, perceptivamente, por seu direcionamento dramatúrgico não ficando, assim, tão distante do agrado das crianças e de seu núcleo familiar.

Em seu enredo despretensioso e, até mesmo, carregado de previsibilidade com sua nuance turística, sobre uma família de brasileiros de primeira viagem, em processo de deslumbre com os tradicionais passeios a pontos focais da metrópole nova-iorquina.

Desencontrando-se, num embarque de metrô na Grand Central Station, os pais (protagonizados por Alvinho de Padua e Titzi Oliveira) dos filhos (Bia Jordão e Henry Gaspar). Para acabar este pesadelo em feliz comemoração na Times Square, num dos 43 teatros que integram o Circuito Broadway.

Induzidos por obra e graça de George Michael Cohan, na convicta performance/tributo de Marcio Yacoff a um emblemático entertainer, mentor e produtor da era de ouro do musical americano.

Enquanto esta trajetória de busca numa grande cidade transcorre em progressão dramatúrgica, carregada de clichês e de um humor raso, é na sequencialidade da seleção de instantes icônicos da fórmula Broadway que o espetáculo se sustenta.

Tendo grande alcance nos efeitos de um cenário virtual (Marcelo Larrea), à base de imagens 4K em palco giratório, com referenciais de suspensão aérea em dois planos, tudo sob um potencializado design luminar (Paul Stewart).

Onde a indumentária (Feliciano San Roman), acrescida dos adereços e do visagismo (Paula Caterini), tem variantes de maior plasticidade ou de mais débil resultado, de acordo com o musical enfocado. Extensivo ao aporte coreográfico (Italo Rodrigues) este, infelizmente, menos equilibrado em sua unicidade interpretativa-gestual.

Em que a parte musical (Bond e Villa) revela maior empenho nos arranjos para oito instrumentistas, teclado e conjunto coral, soando intencionalmente quase como um score sinfônico/operístico.

E com menor destaque no apuro da tessitura e do alcance das vozes solistas, embora em alterativos momentos destaque-se, entre outras canções,  ora o naipe feminino em Cats (Memories), ora o masculino em Les Misérables (One Day More).

De um lado, pelo caráter retrospectivo/memorialístico do repertório musical (GreasePriscillaEvitaMamma MiaChicagoLes MisérablesWest Side StoryJesus Christ SuperstarCats e Mary Poppins), de interesse para os aficionados do gênero no Brasil e talvez, extensivamente, aos habitués da meca nova-iorquina.

Mas por outro, sendo mais que oportuna para os neófitos do teatro musical esta experiência do inicializar-se, em imersiva celebração, mesmo sem contar com quaisquer culminâncias perfeccionistas, em um dia e uma noite na Broadway...

                                              Wagner Corrêa de Araújo


Um Dia na Broadway está em cartaz no Teatro Bradesco/Village Mall/Barra, sexta e sábado, às 21h; domingo, às 19h. 120 minutos. Até 26 de maio.

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