"TURANDOT' VENCIDA PELO AMOR IMPOSSÍVEL EM TUCUMÁN, ARGENTIVA. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Turandot de Puccini abre o 59º Setembro Musical de Tucumán, no Teatro San Martín.
Para iniciar o 59º Setembro Musical de Tucumán, ao norte da Argentina, o Teatro San Martin daquela cidade, envolveu a audiência dos habitantes da província com a encenação da ópera "Turandot", de Puccini (1858-1924) proporcionando aos próprios artistas envolvidos na produção, a oportunidade de conectar-se realmente com o público, fazendo assim que os cantores abraçassem o drama de todo coração, entregando suas árias com grande intensidade emocional, e permitindo àqueles que escutam experimentar cada momento de tristeza, dor ou alegria juntamene com eles, ao longo de suas viagens vocais.
Sob a direção musical do Mtrº Emir Omar Saúl a Orquestra da Província de Tucumán, acoplada a Banda Sinfônica dessa mesma província, sob a direção de Alvaro Garcia, somado ao Coro Estable sob a direção de Riccardo Sbrocco e Coro Infantil deram apoio ao super elenco totalmente argentino que compôs esta produção de Turandot, estreada em 30 de agosto p.p. e repetida em 01 e 03 de Setembro de 2019 .Direção cênica de Marcelo Perusso. O Coro interpretou o papel da multidão sedenta de sangue com grande veneno, cantados com franqueza e ampla comunicação musical. Ainda que muitas partes foram cantadas internamente pelos coros, via-se um cenário de imagens abarrotadas de coristas e solistas com figurantes, num palco ainda pequeno para o porte desta monumental ópera de Puccini.
A ária mais famosa em Turandot é "Nessun dorma". E Calaf só ganhará a princesa se ela não descobrir seu nome ao amanhecer. Ele canta sua determinação de triunfar, que ao amanhecer triunfará e finalmente ganhará o amor da gélida Turandot. O tenor Juan Carlos Vasallo foi Calaf de uma voz extremamente eficaz, sem dúvida cada nota que emitiu, cantava cheia de emoção e suas notas agudas eram simplesmente emocionantes, soando com aparente facilidade técnica vocal. "Non piangere Liú..." sua ária no Ato I.
O soprano Patricia Gutierrez foi escolhida para interpretar a princesa. Ela retratou a natureza intocável do personagem título com serenidade. Artista experiente no território argentino há décadas, sua voz teve uma grande repercussão no teatro, com volume exato e um maravilhosos vibrato ressonante. Cantou "In questa reggia" com correção e tranquilidade. Um excelente trio nas máscaras de Ping, Pang e Pong, que adicionou um aspecto cômico à ópera: Um dos destaques da noite foi o início do Ato II, onde eles lembram, com nostalgia, as distantes casas de campo que deixaram para trás, num passado distante. O barítono Gustavo Ahualli, e os tenores Gustavo Gisbau (Pang) e Ivan Vaga (Pong), formaram um trio ressonante adaptando-se perfeitamente a seus respectivos papéis. ("Olà Pang ! Olà Pong !").
Marcelo Oppedisano foi o Timur, pai de Calaf, um baixo de maravilhosa postura cênica e vocal, deixou-nos a impressão de efetivamente retratar o rei tártaro destronado, envelhecido e exilado, com um olhar quase vidrado em expressão desamparada, ao se deparar na cena de morte de Liú, que sofre seu destino no Ato III. Liú, a escrava aqui interpretada por Paula Almerares, é a verdadeira heroína da história. Ela se sacrifica, ao invés de revelar o nome de Calaf. Puccini parece muito mais inspirado por Liú do que pelos dois personagens centrais...As duas árias de Liú - "Signore ascolta" e "Tu che di gel sei cinta", estão entre os melhores momentos da ópera. O papel foi lindamente desempenhado por Almerares, que se tornou popular entre o público ao mostrar uma voz requintada, combinada com sua bela expressão facial e corporal, ovacionada devido à natureza compassiva de seu papel.
Apesar do sacrifício de Liú, Turandot em sua performance total, é sem dúvida , uma ópera que mostra o poder transformador do amor. Ao final, Calaf finalmente é capaz de conquistar o que parece impossível de atrair a princesa. A julgar pela quente recepção da audiência, não resta dúvida de que este talentoso elenco seduziu a todos os espectadores. Ainda se acrescente a possibilidade de se produzir uma Turandot, sem a contratação de artistas estrangeiros, em condições já declinantes, como acontece recentemente mundo afora. A verdade é que apesar de toda a crise em nossos países (sul americanos), a Argentina sempre está produzindo óperas, do norte ao centro-sul, com a prata da casa, sempre mantendo a qualidade artística.
Escrito por Marco Antônio Seta em 04 de Setembro de 2019.
Jornalista Inscrito sob Nº 61.909 MTB / SP
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