ESCOLA DO ROCK – O MUSICAL : LÚDICA INCITAÇÃO À REBELDIA. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

FOTOS/ JOÃO CALDAS FILHO
Não há como escapar da associação temática, num contexto de duas épocas distanciadas por quase meio século, do musical e do filme Escola do Rock com a versão cinematográfica e para os palcos de A Noviça Rebelde, a partir do referencial de um instrutor educativo inspirando crianças com lições musicais.

Sempre sob a égide da auto liberdade e da incitação afirmativa para que os pequenos aprendizes não se deixem sufocar pelo conformismo conservador e pela pulsão repressiva tanto da ambiência familiar como do meio escolar, extensivos às incomodas ingerências do modus vivendi sócio-político.

Onde, no caso, a racionalidade afetiva – professor/aluno - se sobrepõe à rigidez das regras morais domésticas e às limitações da didática acadêmica, através de uma sagaz mas bem urdida trama em torno da humorada e irreverente travessura do indisciplinado guitarrista Dewey Finn (Arthur Berges).

Que para acertar um aluguel atrasado, na casa do casal Ned Schneebly (Cleto Baccic) e Patty Di Marco (Thais Piza), atende a uma convocação fingindo ser o amigo e real destinatário e, assim, decide assumir a vaga como professor substituto de matemática.

Apresentando-se como tal diante da sisuda diretora de colégio secundário - Rosalie Mullies (Sara Sarres) - e promovendo, a seguir, uma revolução libertária entre os alunos com aulas da única coisa que realmente sabe ensinar - lições musicais de rock n roll. Transmutando-se num líder roqueiro com a missão de transformar as crianças em rock stars na disputa de uma próxima Batalha de Bandas.

Escola do Rock, recente musical da Broadway e da West London, partitura de Andrew Lloyd Weber e parceria dramatúrgica de Julian Fellowes e Glenn Slater, é inspirado no filme de Mike White, 2003, com mesma titularidade. Tendo como base sonora um eficaz groove do rock clássico anos setenta, indo de Jimmy Hendrix a Led Zeppelin, de Black Sabath a Ramones, com irônica incidência de acordes mozartianos.

Tendo, agora, sua primeira montagem em língua não inglesa, com direção de Mariano Detry, na versão brasileira de Mariana Elizabetsky e Victor Mületahler, com potencializado substrato tecno-artístico. Na  mobilidade do rico suporte cenográfico (Anna Louizos), do  design de luz (Luz Mike Robertson) ao formalismo indumentário (Anna Louizos e Abby Hahn) na prevalência de trajes professorais e uniformes escolares.

E energizado movimento gestual (Philip Thomas) nos recortes coreográficos das 42 crianças (alternando-se em formações grupais durante a temporada) e que, sem dúvida, configuram a maior marca presencial-emotiva do espetáculo diante do público por seu caráter de revelador talento. Tanto na tipicidade variada de suas performances atorais como na autenticidade de intérpretes vocais e instrumentais, sem apoio em play back.

Sustentadas sempre pela segurança de uma afinada orquestra de nove integrantes, sob a batuta e com os arranjos envolventes de Daniel Rocha, tendo ainda a participação de 21 cantores/atores no elenco adulto.

Destacando-se os papéis de Sara Sarres, com sua tessitura de soprano brincando com as escalas coloratura da ária da rainha da noite da Flauta Mágica. Valendo, ainda, mencionar, em mais episódicas atuações, reconhecidos profissionais do gênero musical como Cleto Baccic e de uma convicta atriz/cantora Thais Piza.

Com irrestrito protagonismo de Arthur Berges numa representação versátil que converge na debochada caracterização de um aspirante nerd à carreira de astro pop star, com risível sotaque de ansiedade adolescente sob compasso hard rock.

Mas ao, mesmo tempo, capaz de imprimir perceptível personificação psicofísica da dedicação ao assumido oficio de mestre e animador musical das crianças desta Escola do Rock, direcionando-as, enfim, como substitutivo do aprendizado colegial, ao corajoso grand finale da batalha de bandas.

Em musical com os inescapáveis clichês das narrativas de relações afetivas e disciplinares professor-aluno no universo acadêmico. Mas capaz, sobretudo, de provar que o retrocesso às metodologias radicalmente ortodoxas e obscurantistas (como querem nossos atuais mandatários políticos) sempre perderá diante da espontânea alegria juvenil e do  poder redentor da livre criação artística.

                                         Wagner Corrêa de Araújo

ESCOLA DO ROCK está em cartaz no Teatro Santander/SP, quinta e sexta, às 20h30m; sábado e domingo, às 15h e às 18h30m. 120 minutos. Até 31 de dezembro.

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