KATAKLÒ DANCE THEATRE / EUREKA : FISICALIDADE ACROBÁTICA SEM AVANÇOS COREOGRÁFICOS. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
FOTOS/ CARLA FALCONETTI |
Em cena há mais de duas décadas, a Kataklò Athletic Dance Theatre, apesar de se intitular uma cia de dança, prioriza, na verdade, um espetáculo teatral-circense tendo como substrato básico a força física-acrobática de experimentados artistas, em sua maioria, originários da ginástica rítmica e das artes dos picadeiros.
Com seus cinco integrantes, aos quais se junta a participação episódica de cinco espectadores escolhidos aleatoriamente nas suas turnês. E que pela não exigência de atributos artístico-atléticos acabam apenas preenchendo o espaço cênico. Meros figurantes dos quais nada é destacável, a não ser a sua disponibilidade a serviço do espetáculo.
Na proposta do ideário estético desta Cia, inspirada no significado literal grego de Kataklò - “eu danço dobrando-me e contorcendo-me”. Extensível à titulação do programa - Eureka (Achei, na língua portuguesa). Aqui, tendo como referencial a trajetória investigativa através da conhecida exclamação do matemático grego Arquimedes ao tornar pública, pelas ruas de sua cidade, uma de suas descobertas.
Onde o intencional estilístico, segundo sua diretora artística Giulia Staccioli, é o de estabelecer uma cumplicidade interativa palco-plateia, simbolizada pelos cinco participantes-espectadores, através de uma pulsão comum de movimentos corporais de fácil comunicabilidade e imediata percepção. Sem quaisquer apelos a invenções gestuais que transmutem a espontânea plasticidade física em pretensiosa intelectualidade da concepção cênica.
Mas se fica patente o potencial acrobático e teatral dos cinco intérpretes - os acrobatas e ginastas integrantes da cia (Matteo Battista, Giulio Crocetta, Carolina Cruciani, Stefano Ruffato, Sara Palumbo e Eleonora Guerrieri, esta última sendo a única com formação de bailarina clássica), o dimensionamento psicofísico da performance acaba se perdendo no contraponto de uma irregular progressão cênica.
Ora através de passagens mais energizadas de um seguro elenco original, sob funcionais recortes luminares de cores e sombras ressaltando um figurino básico. E induzindo a uma envolvente paisagismo cênico com nuances exploratórias de uma corporeidade tecno-artística, no entremeio de movimentos solares ou avanços espaciais.
Mas, por outro lado, recorrendo a efeitos quase simplórios capazes, sobretudo, de evocarem programas televisivos de auditório na sua imaginária ilusionista carregada de clichês ginásticos e exibicionismos atléticos. Sob um humor superficial e numa trilha sonora sustentada por desgastado apelo comercial.
Se nas turnês anteriores por nossos palcos, através dos espetáculos Play e Puzzle, esta cia. italiana foi melhor sucedida na sua proposta de um teatro coreográfico, físico e acrobático, desta vez com o “Eureka” acabou, afinal, foi encontrando uma pedra no meio do caminho...
E que tornou mais melancólico ainda o epílogo da temporada 2019, de tão escassos espetáculos coreográficos e de tamanha incerteza para escapar das brumas do que ainda pode estar vindo por aí...
Wagner Corrêa de Araújo
EUREKA/KATAKLÓ ATHLETIC DANCE THEATRE está em turnê nacional iniciada em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, seguindo para São Paulo, Curitiba e Salvador. 120 minutos. Até 12 de novembro.
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