"LE DAME AUX CAMÉLIAS" - BALÉ COM MÚSICA DE CHOPIN. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
O Balé da Ópera de Paris quer exibir seu lado moderno em La Dame aux Camélias. Cansaram da Giselle e do Lago dos Cisnes. A trupe quer se mostrar antenada com a atualidade. Fazer coisas diferentes, fugir do clássico. Para isso, não precisou cair na dança abstrata, onde o público assiste a tudo e não entende nada.
Acharam um grande compositor (Chopin) e tentaram casar sua música com uma conhecida história (A Dama das Camélias) . O resultado é um balé desigual, com momentos mágicos e algumas futilidades.
Produziram um balé novo, moderno. Saíram da mesmice. A história ficou popular com o sucesso do livro homônimo e com a ópera La Traviata, de Verdi. Os parisienses resolveram fazer dessa afamada história um balé: pegaram várias músicas de Chopin, principalmente de piano e tentaram adaptá-las, fazê-las ficarem dançantes e o principal, se encaixarem na história da cortesã. O resultado é estranho, algumas vezes interessante , outras cafona e de gosto duvidoso.
A qualidade da dança do balé da Ópera de Paris é inquestionável: 300 anos de história fazem seus bailarinos estarem em alto nível. Agnés Letestu é bailarina étoile (grau máximo do balé francês), de grande técnica, dramaticidade plena e forte carisma. Conheci seus passos no Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, me apaixonei pela guria. Não é raquítica, tem muita bailarina anoréxica por aí, parecendo doente de tão magra. Dança com a leveza inerente às bailarinas francesas. Faz uma Violeta (no vídeo eles mudam os nomes dos personagens, sei lá por que) frágil e apaixonada. Brilha nos pas de deux com seu par romântico Stéphane Bullion, (esse é premier danseur, um nível abaixo de étoile), longos , cansativos (para os bailarinos), sensuais, apaixonantes. São o ponto alto do espetáculo. Demonstram toda a técnica dos bailarinos, uma aula de balé.
John Neumeier transita entre o clássico e o moderno em sua coreografia. Criativo, mistura passos simples com outros de alta dificuldade técnica. O palco cênico carece de cenários, conta sua história apenas pela dança. Obriga os bailarinos a atuarem, embute no meio da história trechos do balé Manon Lescaut, entrelaçando a vida das duas personagens. Ideia criativa. Temos nessa hora um par de grandes dançarinos: Delphine Moussin (étoile) e José Martinez (étoile) arrasam nesse pequeno papel. Mostram as facetas desesperadas de seus personagens.
Tudo é passado em La Dame aux Camélias, a história é contada pela memória dos que a vivenciaram. Violeta está morta, todos tem lembranças dela e vão contando sua versão. A coreografia peca nas danças rápidas. A música escolhida fica superficial, sem profundidade.Piano nem sempre combina com dança. Os cenários são quase inexistentes, o palco limpo se alia a figurinos sóbrios, de época, que transmitem a ideia de século XIX.
O vídeo possuí um longo documentário, com entrevistas legendadas dos bailarinos e produtores. A imagem é de excelente qualidade. A direção de vídeo capta com destreza os momentos cruciais da obra, e, com recursos atuais, poderiam ser mais ousados, aproximar mais o espectador do palco.
O balé da Ópera de Paris prova que é possível fazer balé moderno contando grandes histórias. Não é necessário abrir mão da técnica, da dança, da beleza e da magia do balé para tal feito. Não caem na tentação de fazer coreografias sem nexo, muitas vezes de técnica capenga, para se mostrarem modernos ou descolados.
La Dame aux Camélias é um balé moderno com elementos clássicos em sua concepção; pode ter momentos decepcionantes, mas no geral sua coreografia é de bom nível. Que isso sirva de exemplo para outras companhias do mundo.
Ali Hassan Ayache
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