A FILHA DO FARAÓ -BALÉ PERDIDO DE MARIUS PETIPA. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

    

     
   Marius Petipa, um dos maiores coreógrafos de balé do século XIX, conheceu seu primeiro sucesso com o balé A filha do Faraó. Fez tudo para agradar o público do romantismo. Lugar exótico (Egito Antigo) , números grandiosos, grandes cenas de grupos, pantomimas, pas de deux e solos à vontade. Sucesso estrondoso, tudo que estava nesse balé caiu no gosto da galera.        
    O coreógrafo Pierre Lacote aceitou a missão de reconstruir A Filha do Faraó, balé que se perdeu no século XX. Da música de Cesare Pugni existe uma redução para piano; já a coreografia foi mais complicado. Ateve-se a lembranças de bailarinas que dançaram o balé nas primeiras décadas do século XX  e usou sua criatividade em diversas partes. 
   O balé A Filha do Faraó teve 204 apresentações entre 1864 até 1904 nos palcos da Rússia Czarista. Esses números atestam sua popularidade. Mas, por motivos desconhecidos e inexplicáveis, ele caiu no esquecimento. Sua última apresentação ocorreu no longínquo ano de 1926. 
   A coreografia de Lacote segue a tradição dos grandes balés russos. Mantém o espírito e o estilo de Petipa. Variações e solos de grande dificuldade unidos a números com cenas de grupo. Tudo isso visa mostrar a maestria técnica dos bailarinos. Técnica somente não emociona e Lacote sabe disso. 
   Sua dança é harmoniosa e equilibrada. Alterna momentos de leveza com força, emocionando o espectador. Os números seguem a tradição do século XIX, Lacote não inventa moda, foge das coreografias modernas. Sabe que está diante de um balé romântico e se adequa a ele. 
   Seu trabalho é brilhante, monta um balé no século XXI com a cara da data de sua estreia. Tudo é grandioso: cenários, número de bailarinos e cores. Faz uma única concessão: reduz o tempo do balé de quatro para pouco mais de duas horas.  
   Os cenários são grandiosos, transmitem o clima e a magia do Egito antigo. Suas cores douradas se encaixam com a fluidez das areias do deserto do Saara. Lembram os contos das Mil e Uma Noites. Os figurinos são estonteantes na beleza, adaptam-se ao libreto. A iluminação é correta, mas às vezes estática: poderia ser melhor trabalhada, auxiliando o desenrolar da trama.
   Svetlana Zakharova é a primeira bailarina do Bolshoi. Tem todos os requisitos para isso. Técnica apurada, carisma, passos seguros, confiança. Mas sua beleza é destaque, faz os marmanjos babarem e as mulheres morrerem de inveja. Dança com leveza, flutua nos passos lentos, desafia as leis da gravidade nos pas de deux.
   O bailarino Sergei Filin segue a tradição da escola russa. Pura força, saltos altos. Conduz Zakharova nos pas de deux com técnica refinada. Mas lhe falta o carisma de um Roberto Bolle ou do russo Korsuntsev, do Kirov.
    O corpo de baile é excepcional, dança os grandes passos simultâneos com sintonia que beira a perfeição. Padrão Bolshoi de qualidade. 
   A Filha do Faraó é um balé grandioso em todos os sentidos, e não entendo porque ele saiu do repertório dos grandes teatros russos. Sua música  e coreografia apaixonam, essa recriação foi gravada no ano de gravada em 2003.
Ali Hassan Ayache

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