LAZARUS : VIAGEM LISÉRGICO/MUSICAL AOS ESPAÇOS SIDERAIS DA MENTE. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
FOTOS/ ARIELA BUENO/FLAVIA CANAVARRO |
Inspirado ou, melhor, em processo sequencial ao roteiro do filme, de 1976 por Nicolas Roeg, O Homem que Caiu na Terra, protagonizado por Davi Bowie, Lazarus é uma criação conjunta do roqueiro britanico e do dramaturgo irlandês Enda Walsh. No formato de um inusitado musical estreado em dezembro de 2015, um mês antes da morte de Bowie.
Sua transubstância dramática funciona num status quase inverso ao da versão cinematográfica, ao fazer seu protagonista - um alienígena humanóide - sair da dimensão espacial planetária, de Marte para um flat do East Village nova-iorquino. Em pulsão solitária e reclusa, cercado por lembranças do passado, entre doses seguidas de álcool e cigarros, no compasso alucinatório de uma trajetória existencial, em clima no sense, sob sombria perspectiva terminal.
Enquanto sonha com amores perdidos e recebe visitantes enigmáticos, desde personagens femininos, terráqueos ou galácticos, transfixiantes anjos e demônios, representados num convívio sinistro até de um sugestionado serial killer portando punhais com as mãos manchadas de sangue.
Onde uma visionária e luminosa concepção cenográfica faz funcional e fantasioso uso de reflexos especulares, em plataformas de declive móvel (Daniela Thomas e Felipe Tessara), sob psicodélicos efeitos luminares e projecionais (Beto Bruel / Henrique Martins).
Incluída a indumentária (Veronica Julian e Diogo Costa) mixando coloquialismo com traços futuristas, ampliados no visagismo de Mima Mizukami, dando eco a uma inventiva e integralizada sofisticação visual, com o habitual avanço estético direcionado por Felipe Hirsch.
Incluída a indumentária (Veronica Julian e Diogo Costa) mixando coloquialismo com traços futuristas, ampliados no visagismo de Mima Mizukami, dando eco a uma inventiva e integralizada sofisticação visual, com o habitual avanço estético direcionado por Felipe Hirsch.
E completada no potencializado score musical e arranjos de Maria Beraldo e Mariá Portugal para 17 composições, entre hits e alguns inéditos de Bowie, como Lazarus, titulando o musical. Interpretado, aqui, por artesanal ensemble de doze atores e cinco instrumentistas, manipulando sopros, cordas, sintetizadores e percussão.
Enfim, uma parafernália de recursos cinético-sonoros capaz de impressionar, por suas soluções oníricas e resultados auditivos, o mais acomodado dos espectadores. Mas, ao mesmo tempo, fragilizada nas suas intermissões textuais com uma radicalizada e insistente incursão, na linhagem trip alter ego, da mente alucinógena e espectral do personagem Tomas Jerome Newton (Jesuíta Barbosa).
Este com um referencial físico de aporte memorial do próprio Bowie e uma reveladora qualificação performático-vocal de um ator com já carismático nome no cinema e na televisão e, praticamente, estreando bravamente nos palcos musicais. Não muito distante da convicta envolvência de Bruna Guerin e, também, sem deixar de ressaltar a representação de Carla Salle, Gabriel Stauffer e Rafael Sosso (especial como o estranho serial killer) na unicidade de um elenco de doze intérpretes.
Mas que, por acaso, leva a platéia brasileira ao mesmo estado catatônico e anti-emocional experimentado nas temporadas americanas e londrina, repercutido em significativa parte da crítica, por seus instantâneos intermédios cênicos de confusa simbologia, reiterativa e entorpecedora, entre o tonitruante e salvador brilho das canções.
Mesmo assim, sem inviabilizar de vez a sua proposta de teatro musical, na sua mais valia como um espetáculo de prevalência do transe sensorial com imersão lisérgica, conectando o imaginário conceitual das letras projetadas em 3D com viscerais sonoridades pop/rock.
Através de registros icônicos como Absolute Begginners, Life on Mars, Valentine’s Day, Changes, Heroes, entre outros, numa espécie de catártica instalação plástico/teatral dimensionada em descolado musical jukebox. Pleno de Sound and Vision (remetendo ao título de uma destas composições), incomodo por sua iconoclasta narrativa dramatúrgica, mas necessário por seu visceral descortino da desesperança humana.
Wagner Corrêa de Araújo
LAZARUS está em cartaz no Teatro Multiplan/Village Mall/Barra da Tijuca, de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 19h30m. 120 minutos. Até 16 de março.
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