CRÔNICAS OPERISTICAS : CADÊ AS ÓPERAS DE CARLOS GOMES. CRÔNICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.



 
   A cidade de São Paulo era repleta de grandes livrarias, muitas delas já fecharam as portas. Mas o nome engana, livraria de hoje não vende só livro, tem de tudo. Variedade e quantidade pra todo gosto, elas viraram "Mega , Hiper, Super".
   Estava em uma dessas gigantes do ramo, de origem francesa que já se mandou de volta para casa. Vou ao departamento de CDs e DVDs de música clássica e ópera. Encontro muita coisa interessante: prateleiras bem organizadas, preços salgados. Tudo muito bonito, frio e impessoal. 
   Andre Rieu infernizava meus ouvidos com seu violino romântico. Procuro um atendente, difícil encontrar alguém disposto a dar atenção, tirar uma dúvida. Em nome da redução de custos, o consumidor tem que se virar sozinho. Depois de muito tempo acho uma funcionária, detentora de um belo uniforme, moça simpática, bonita e sorridente. 
   Pergunto se ela cuida de seção dos clássicos, ela afirma com a boca cheia, orgulhosa, sim. Faço uma solicitação, queria saber se tem o DVD Otello de Verdi com o Vickers e a Scotto gravado no Metropolitan Opera House. A moça fica perplexa, espantada, toda ruborizada. Ela não entende nada, Otello, Verdi, Vickers, Scotto, Metropolitan, quem são essas pessoas? Otello não é uma peça do Shakespeare, faz o que as atendentes de hoje mais sabem fazer, consultam o computador. Ela me informa que esse DVD sequer existe em seu sistema. 
   Alguém que cuida de uma seção de CDs e DVDs clássicos deveria ao mínimo saber que Otello é uma ópera. Atendentes destreinados e com pouca ou quase nenhuma informação são a regra no atendimento das grandes redes de livrarias. Mas isso é só um detalhe.
     Desisto dos DVDs e vou aos livros, onde encontro um que chama minha atenção de cara. Ópera de András Batta, livro de mesa, enorme , pesado. Penso que deve custar uma fortuna, volume importado com 917 páginas, escrito em espanhol . Descreve mais de 300 óperas, destaca o contexto histórico  e suas peculiaridades musicais, os grandes interpretes e diretores, data de estreia e partitura dos temas mais conhecidos. Tudo isso regado a milhares de fotos em uma edição de luxo e capa dura.
   Nele, pude conhecer compositores que sequer tinha ouvido falar, óperas que nem imaginava que existiam. Um requinte. Folheei empolgado, me maravilhei com fotos de produções por todo mundo, cores vivas que chegam a ser excitantes. 

   Passada a empolgação,  procuro pelo grande compositor nacional de óperas, Carlos Gomes. Encontro duas míseras páginas e uma única ópera descrita, "Il Guarany". As fotos são da produção da Ópera de Bonn, 1994, com Plácido Domingo, Veronica Villaroel e regência de John Neschling. Fico nervoso, compositores de menor expressão ou sem expressão alguma tiveram mais espaço que nosso conterrâneo.
   Cadê as outras óperas do Carlos Gomes? Il Schiavo, Maria Tudor e Fosca merecem estar nesse livro. São obras de peso, com bons libretos e orquestração intensa. Mas sequer foram citadas. Esquecidas ou desconhecidas? Diria que desconhecidas e a culpa é nossa, desprezamos nosso maior compositor de óperas. DVD da obra do Carlos Gomes comercial só existe um, Il Guarany lançado pela Secretaria de Cultura do Pará e quase inacessível. Se o campineiro tivesse nascido em Boston ou Chicago,  todo seu trabalho estaria nesse livro. Ele seria cultuado como o maior compositor das Américas (na minha opinião ele é) e nós aplaudiríamos.
   Santa injustiça, depois disso só fumando uma inebriante arguile sabor duas maçãs para relaxar e viajar com as óperas de Carlos Gomes na cabeça.
Ali Hassan Ayache 

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