MAHLER E SUA MÚSICA PARA O FIM DO MUNDO! ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Em seguida ao tão informativo artigo do maestro Colarusso sobre a tardança na apreciação da obra de Mahler pelo vasto público,decidi da minha parte acrescentar um grãozinho de areia.Vou me limitar a falar apenas de Das Lied von der Erde. O próprio Mahler afirmou que talvez o público depois de escutar a peça poderia voltar para casa e tentar o suicídio!Pois com esse compositor,que eu chamo de "o rei das marchas fúnebres",o grau de tristeza que pode ter expressão através da música atingiu um patamar cada vez mais elevado.
Muitos entendidos classificam a música como "arte retardatária",na medida em que historicamente um movimento artístico quando chega a se expressar nela já está se esgotando em outros campos.Eu diria mais,a música para ir adiante precisa receber estímulos de fora.Vide a polêmica entre os adeptos da música do futuro,autores de óperas ou música de programa, como Wagner,Liszt e Berlioz e do outro lado os defensores da música absoluta,Brahms e o crítico Hanslick, conservadores. Foram o teatro,a pintura,a poesia,a filosofia e essa busca incessante por fazer a música "representar o mundo inteiro"como diria Mahler, isso levou ao avanço da música como arte e ao grande rompimento com tudo que veio antes.Inclui conceber essa arte não como apenas um consolo para momentos difíceis,de doença por exemplo,como muita gente do p&uacu te;blico preferiria,mas também a música deve poder expressar toda a tristeza,bem como a toda a alegria,com toda intensidade.Até expressar mesmo os mais intensos e loucos sentimentos!
Nesse sentido Das Lied von der Erde representa o cúmulo dessa busca intentada pelo seu autor a vida inteira. Encontra-se no meio termo entre sinfonia e ciclo de canções.Passagens eufóricas se alternam com fúnebres.Faz uso de chineseria tanto no aspecto musical quanto na escolha dos textos,para evocar filosofias do distante oriente,o zen,o budismo.Trata-se de um dos mais ambiciosos ciclos de canções jamais escritos.A Canção da Terra de fato busca representar o Mundo!
O mais interessante dessa jornada pelas canções da Terra é escutar o resultado das interpretações de diferentes intérpretes do ciclo.Vou destacar alguns nomes que acho alcançaram fascinantes resultados.
Klemperer-Ludwig-Wunderlich .Pavarotti dizia que esse era o seu tenor favorito,Wunderlich.Ninguém gravou esse ciclo cantando com tanta naturalidade!Ainda temos Klemperer na direção e a excelente Philharmonia,talvez a melhor orquestra do mundo no período imediatamente posterior ao terrível período da grande guerra..A mezzo é ótima,mas não tem como seu timbre se destacar frente ao luminoso timbre desse tenor,dentre os mais belos.Essa gravação merece todos os elogios mesmo,chovem elogios a ela desde que foi publicada,
Karajan-Kollo-Ludwig.Como de costume,Karajan e sua banda berlinense são a estrela do show aqui,mas o tenor Kollo consegue incríveis variações de volume de voz.Conseguiu se sair muito bem frente ao duelo com a poderosa orquestra e seu maestro.Novamente a mezzo Ludwig é ótima,mas frente ao estelar elenco ao seu lado,ficou opaca,
Bernstein-King-Dieskau.Outra vez o maestro e a orquestra,nada mais nada menos que a Filarmônica de Viena, são a estrela do show.Os solistas tem que se virar para seguir o loucos acompanhamentos do regente;Aqui a euforia que mencionei acima no texto é mais eufórica,as passagens fúnebres são mais funéreas.Os excelentes solistas entram na dança de Bernstein e procuram expressar muito bem essa visão exagerada.Eu adoro!
Giulini-Araiza-Fassbaender.Essa versão é mais equilibrada e todos podem brilhar.O tenor é admirador declarado de Wunderlich e prova que cantores mozartianos se dão bem interpretando essa peça;Ele usa e abusa de falsetes e pianíssimos,mas também consegue se fazer ouvir acompanhado pela Filarmônica de Berlim tocando em fortíssimo.Os momentos de embriaguez poucas vezes foram tão bem evocados como aqui por Araiza.A mezzo é uma das maiores especialistas em canções de Mahler,com seu timbre tão característico.Impossível não colocar esta entre as melhores gravações.Giulini tinha de ter gravado mais Mahler,o italiano rege tão bem esse compositor,infelizmente poucas obras gravou dele.
Inbal-Schreier-van Nes.Um regente especialista em Mahler,gravando essa peça ao lado de um tenor especialista en lieder,com resultados excelentes!A mezzo de novo é ótima,mas fica meio apagada perto das outras estrelas.Aqui temos por parte do tenor uma interpretação como a de Wunderlich e Araiza,ou seja uma voz mais leve e com um fraseado muito mais sutil e delicado.O regente israelense Inbal é fantástico em Mahler,merecia mais reconhecimento.Essa gravação não é tão conhecida como as citadas anteriormente,também merecia mais reconhecimento.Aqui tanto ao orquestra e o maestro podem se exibir como também os solistas,especificamente o tenor,este chama muito a atenção para si.
Costumo evitar as gravações dessa peça por tenores heróicos wagnerianos. Temos uma ótima gravação de Kent Nagano e Gerhaher e o tenor Vogt, mas nesse caso acho que gostei dada a característica rara da voz de Vogt,que soa como já definiram como um tenor eróico-castrato!Uma exceção é o registro ao vivo de Set Svanholm com Oralia Domínguez dirigidos por Paul Kletzki em Viena,o único tenor de força que me agrada ouvir cantando essa obra.A Domínguez com seu timbre de mezzo-matrona está perfeita.Não gosto de mezzos wagnerianas gritadoras aqui também,com aqueles vibratos horríveis.O tenor ítalo-germânico Roberto Saccà se uniu ao maestro Jonathan Nott no último registro de nota desta peça,realizado em 2016.O barítono Stephen Gadd aqui também se sai muito bem.O regente Nott tem uma vis&atil de;o mai s ensolarada e viva da partitura,com andamentos mais rápidos.Uma curiosidade é a versão camerística tentada por Schoenberg dessa obra.Uma ótima gravação dessa versão terminada por Rainer Riehn é a de Phillippe Herreweghe com o tenor Blochwitz e a mezzo Remmert.
Isaac Carneiro Victal.
Agradeço mais uma vez pelo blog publicar os meus escritos,só gostaria de esclarecer o que querem dizer essas letras emboladas aí.Na primeira confusão,quis dizer "muita gente do público preferiria",na segunda rasura deveria estar "uma visão mais ensolarada e viva da partitura".Também obviamente deveria estar um ponto final,erro meu, antes de " Ele usa e abusa de falsetes e pianíssimos".Gracias,Isaac Carneiro Victal.
ResponderExcluirUm adendo mais,fiquei sabendo agora:essa gravação do Kent Nagano foi realizada se servindo de um velho truque dos estúdios.As canções do tenor foram gravadas a parte orquestral em separado,a voz em estúdio.Fonte Gustav Mahler.es,site espanhol onde na seção discografia podemos ler uma resenha deste disco com o título "LA CANCIÓN DE LA TECNOLOGÍA"!No mais os textos concordam comigo e possuem em alta conta as gravações de Nagano,Giulini e Klemperer mas existe discordância na avaliação do registro de Kletzki.Da minha parte discordo dos textos por enxergarem tantas qualidades no ciclo mahleriano de David Zinman,não consigo gostar tanto assim dessas gravações para mim boas mas não excepcionais.Outro ponto interessante nos textos é a apreciação dos registros ao vivo de Kubelik(concordo totalmente) e os elogios ao trabalho de Boulez com esse ciclo(Das Lied von der Erde é uma obra da qual pode-se dizer o maestro francês deixou uma versão notável para selo DG).Isaac Carneiro Victal.
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