QUAL É A ONDA DESSA TAL DE OLA? ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.


   Nesse título fiz um jogo de palavras,uma pergunta sobre se essa tal de Ópera Latinoamérica (OLA) essa associação aí vai fazer alguma coisa para aumentar a quantidade e elevar a qualidade dos espetáculos de ópera no nosso continente.O que vejo são os funcionários dos principais teatros viajando para cá e para lá participando de encontros,fazendo discursos,promessas e por fim sai uma co-produção aqui e outra acolá.Penso que a crescente integração entre os teatros se deve mais aos transportes cada vez mais rápidos e baratos entre os países do que ao esforço de associações como essa.Cem anos atrás eram os navios a vapor que estimulavam a programação de temporadas líricas com as grandes estrelas internacionais e colocaram nossa região no mapa dos empresários do ramo.

   A onda atual de transmissões devido ao fechamento dos teatros por causa da pandemia,permite acesso ao arquivo das gravações desses palcos todos.O canal do Teatro Colón parece ter uma audiência especialmente numerosa.Dado esse fato,de nenhuma maneira essa casa se encontra hoje na posição em que estava no século passado.Hoje é inimaginável a contratação de tantas estrelas que abrilhantavam as temporadas passadas.Dito isto,uma coisa que do outro lado do rio da Prata levam a sério é a continuidade e o planejamento com antecedência.As temporadas que se sucedem  possuem uma qualidade artística e quantidade de espetáculos regular.Bem diferente dos teatros de ópera no Brasil,onde qualquer ventinho da política mais agitado que seja já muda tudo.Com a ópera por aqui,a gente nunca sabe o que pode acontecer.

   Isso não significa que com sorte,podemos assistir por essas bandas um espetáculo lírico,tal como foi a Turandot recentemente encenada no Municipal de SP,melhor regência e melhores protagonistas do que o mesmo título encenado pelo Colón argentino.Esta última encenação portenha estrelada por uma Guleghina em fim de carreira e pelo bruto tenor Kristian Benedikt(um bom Otello) terríveis protagonistas,em meio a uma produção muito sem graça e criatividade. Acompanhados por uma orquestra imprecisa e pouco inspirada.As duas produções estão no YOUTUBE.O que se destaca é a acústica do Colón, mais ressonante que os outros teatros do nosso continente de inspiração italiana.O Theatro Municipal de SP nunca soará tão bem.

Achei uma linda produção de Rusalka de Dvorak no YOUTUBE que conseguiu viajar de uma nação para outra,como pretende fazer a OLA com os títulos líricos encenados na América Latina.Existem dois vídeos na internet,todos gravados no México onde a produção se originou depois foi encenada pelo Colón mas não publicaram ainda nenhum vídeo dessas funções em Buenos Aires.Uma dessas duas Rusalkas gravadas na Cidade do México é a argentina Daniela Tabernig,outra a sueca Elisabeth Strid,a quem prefiro.Esta última também contou com um regente mais interessante para acompanhá-la,o búlgaro Ivan Angelov. Essa é daquelas produções tradicionais lindas,que querem seduzir pelo visual deslumbrante. Informação adicional esta obra-prima ainda não foi estreada no Brasil.

   De fato o Colón é o principal teatro lírico do continente,mas não é mais um dos melhores do mundo,seguindo a decadência econômica argentina.Outra coisa é que Buenos Aires permaneceu sendo uma cidade operística,como eram as grandes urbes da América Latina no passado.Hoje as orquestras são o centro de nossa vida musical,lá ainda é o teatro de ópera.Até hoje intérpretes argentinos não gravaram extensivamente na Argentina seus próprios compositores eruditos como é o caso de Ginastera. Como exemplo vejam só,o primeiro Concerto Para Piano de Ginastera foi gravado por Antonio Carlos Martins em Boston com Erich Leinsdorf,no México por Oscar Tarrago e Enrique Bátiz dirigindo a Filarmónica de la Ciudad de México e por Barbara Nissman com a University of Michigan Symphony dirigida por Kenneth Kiesler,essas são as melhores gravações na minha opinião.Não existe nenhuma gravação da obra em disco realizada na Argentina.

Até vídeos no YOUTUBE de orquestras argentinas tocando música da nação platense são raros.Por outro lado achei uma ótima interpretação da maestrina brasileira Ligia Amadio dirigindo esse concerto supracitado ao lado do pianista argentino Alexander Panizza na Tailândia.Esta gringa anteriormente mencionada Barbara Nissman parece ser louca por Ginastera, no YOUTUBE podemos encontrar várias interpretações dela deste concerto que eu amo.A melhor julgo ser a dirigida por Eduardo Mata conduzindo a BBC Symphony.

   Como havia mencionado,a facilidade dos meios de transporte e comunicação modernos incrementarão o contato cada vez mais entre os países da nossa região.O diretor musical do Colón, Enrique Arturo Diemecke já gravou o concerto para flauta de Khachaturian com a OSESP e está a ser convidado repetidas vezes para dirigir nossas orquestras.O spalla da OSESP agora também maestro Baldini é diretor musical de uma camerata em Valdivia,Chile. Apesar do arranca-rabo que já tivemos com ele nós aqui do blog, afirmo que gostei muito da regência dele frente ao grupo no qual é spalla interpretando a sinfonia tan tan tan taaaann de Beethoven. O último movimento então exibiu uma precisão rítmica e uma clareza no balanceamento sonoro dos naipes que a versão do titular Thierry Fischer carecia.Ambas interpretações podem ser ouvidas no YOUTUBE.Aqui ao contrário do que dizem,não estamos só para falar mal dos artistas.Acontece que somos sinceros sobre aquilo que gostamos ou não.

Um exemplo raro de integração do nosso continente numa só orquestra é a YOA,Orquestra Jovem das Américas. Infelizmente falta a eles uma maior precisão do conjunto.Não estão com certeza esse grupo reunido anualmente com jovens selecionados em todas as Américas e seu diretor musical no mesmo nível em que estava a Simón Bolívar de Dudamel. Por outro lado a orquestra e o regente Carlos Miguel Prieto estão a melhorar com o tempo.O último disco deles,para mim o melhor,gravado ano passado em que acompanham o pianista Jorge Federico Osorio,exibe uma interpretação bastante idiomática de música espanhola,inclusive de Noites nos Jardins de España.O disco se beneficia da acústica claríssima do recinto onde foi gravado,a Sala de Concertos da Universidade Nacional Autónoma do México,denominada Nezahualcóytl,em homenagem a um tlatoani (termo e m língua nahuatl que designava os governantes e que curiosamentre significa "aquele que fala") e poeta pre-colombiano.

Isaac Carneiro Victal

Nota do editor: Algumas produções são pensadas para o vídeo. A Turandot apresentada no Theatro Municipal de São Paulo ficou melhor quando apresentada nos meios digitais que ao vivo.
O Blog de Ópera & Ballet é plural e aceita todos os tipos de opinião. Mesmo sendo elas divergentes ou completamente opostas as do editor. Emmanuele Baldini, Spala da OSESP, aqui pode ser criticado, elogiado e se desejar escrever textos. Inclusive o editor desse blog já o convidou para uma entrevista na qual ele se recusou. 

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