16 DE SETEMBRO DE 1896 - MORRE CARLOS GOMES, GLÓRIA NACIONAL. ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Estátua de Carlos Gomes na Cinelândia, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Um dia pouco lembrado e pouco reverenciado neste patropi de esquisitas memórias, é o dia 16 de setembro.
Nessa data, morria em Belém do Pará ANTÔNIO CARLOS GOMES, o Tonico de Campinas, onde nascera a 11 de julho de 1836. Morreu portanto aos 60 anos, longe do solo natal, sem parentes por perto. Por que aos 60 anos, ele forte e de saúde segura, e por que longe de tudo e de todos, só tendo os amigos do Pará para confortá-lo?
A causa da morte de CG foi câncer na boca, na língua, na laringe, na faringe e em outros órgãos vizinhos. Morreu sem poder falar e sem poder comer direito. Qual a causa do mal que o levou embora? É sabido que CG, como muitos de seu tempo, era costumeiro fumante, mas não se contentava ele com cigarros ou charutinhos comuns: só fumava charutinhos tipo Virgínia, sabidamente causadores de muitas doenças do pulmão e da região naso-faríngea. CG fumou charutinhos Virgínia durante cerca de 30 anos, e às vezes deixava o charutinho já apagado pendurado nos lábios, chegando a mastigá-lo. Isso me foi contado em Milão por Margherita Donadon, filha de Laura Donadon, sobrinha da mulher de CG, que o conheceu pessoalmente e que relatou às filhas, que conheci pessoalmente, muita coisa sobre os costumes de CG, sua vaidade no vestir, suas joias (anéis, alfinetes e abotoaduras de ouro), e seu vício de fumante.
CG foi terminar sua atribulada e vitoriosa vida (não foi nem material e muito menos artisticamente um pobre coitado) em Belém do Pará por razões de baixa política. Com a República em 1889 e principalmente sem Pedro II e com Floriano Peixoto a seguir, era muito mal visto quem ajudasse CG em sua volta ao Brasil . Nem na sua Campinas natal, nem no Estado de São Paulo, nem no Rio de Janeiro, nem nas Minas alguém concedeu-lhe um cargo, nem de “porteiro de conservatório”, como ele se queixava em cartas. CG era um símbolo da monarquia.
Aqui entra outra vez a baixa política. Quando CG voltou ao Brasil em 1895, era moda a fundação de conservatórios de música. Várias cidades do país fundaram conservatórios e Belém, isolada no extremo norte, não queria ficar para trás: ela que tinha um lindo e ativo teatro de ópera e compositores de peso. Mas para Belém era necessário um nome importante para dirigir seu conservatório. Um nome como o de CG, mesmo com as citadas restrições, tinha mais peso que qualquer outro. Além do mais, CG era muito querido no Pará, onde estivera várias vezes regendo suas óperas. Tudo isso levou o governador Lauro Sodré a convidar CG para diretor do Conservatório de Música do Pará.
CG chega a Belém muito doente, mas assume o cargo de diretor geral do novo conservatório, redige discursos, que não podia exprimir de viva voz, e morre em 16 de setembro de 1896.
Foi ele o maior artista brasileiro do século XIX e o único realmente conhecido fora do Brasil. Dizer que foi ele “o maior compositor brasileiro de óperas do século XIX” é um exemplo de visão torta, distorcida e entortadora.O sinfonismo de várias óperas suas é evidente e muitos modos, ritmos, harmonias e combinações tímbricas foram copiados à exaustão. Ai está a Alvorada de Lo Schiavo, aí está a Marcha de Maria Tudor, aí está a Abertura de Salvator Rosa. Vão lá conferir.
ALBA DORATA DEL NATIO MIO SUOLO (ÓPERA LO SCHIAVO, PALAVRAS DO VISCONDE DE TAUNAY)
ALBA DORATA DEL NATIO MIO SUOLO (ÓPERA LO SCHIAVO, PALAVRAS DO VISCONDE DE TAUNAY)
Marcus Góes (1939-2016)
Sempre um a boa lembrança falar de Carlos Gomes, e o Theatro Mvnicipal de São Paulo deixa muito a desejar ao deixar de lado as óperas de Carlos Gomes.
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