AS CONTROVÉRSIAS DE RICHARD WAGNER. ARTIGO DE PEDRO PESSANHA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 

Arte total e Bayreuth

Seu amor pelo drama se deve ao seu conceito de Gesamtkunstwerk, ou em português, Obra de arte total. A ópera possibilitava-o de juntar em uma só obra o teatro, a música, as artes plásticas, a poesia e, posteriormente, até a arquitetura, afinal, criou um teatro dedicado à exibição de suas óperas. Esse teatro foi o famoso Bayreuth, que segundo Nietzsche é a representação perfeita do compositor e sua grandiosidade.

Polêmicas e problemas

Wagner era um nacionalista fervoroso. Procurava basear-se sempre em lendas medievais germânicas ou nórdicas e em seus respectivos folclores. Além disso, era notoriamente anti-semita e suas obras tem a marca de um sexismo exagerado. Uma constante em suas obras é a morte da mulher como expiação dos pecados do homem e a representação feminina como “depravada”. A apreciação de Hitler e da ideologia nazista por Wagner é mais um ponto que torna sua obra problemática para uma análise não estética.

Inegável importância

Contudo, é inegável sua importância para a música ocidental e principalmente para a ópera. Absolutamente nada foi a mesma coisa depois dele. Suas experimentações foram essenciais para o progresso da música e sua dedicação ao drama teve extrema influência em como a ópera seria pensada e exibida.

Não por acaso Wagner é um dos carros chefes da casa e suas montagens são sempre esperadas e prestigiadas. Seria impossível em uma semana exibir todas as obras importantes do alemão. Contudo, o Met fez uma boa seleção e exibirá algumas das mais importantes obras em montagens extremamente consagradas. Segue algumas obras que serão exibidas.

Tristan und Isolde

Essa é talvez a ópera (isoladamente) mais importante do compositor, ou pelo menos o ápice de sua técnica. Baseada numa lenda medieval com libreto de Wagner, que teve como inspiração também questões pessoais que envolviam o amor e os sentimentos de luxúria que nutria por Mathilde, um amor proibido por conta dos casamentos de ambos. Além disso, tem forte inspiração na obra do filósofo Arthur Schopenhauer.

Essa ópera é um marco não só na história da ópera, mas para toda música ocidental. Isso se deve ao fato de que Wagner levou a tonalidade, ponto central da música até então, ao seu limite. Assim, foi em Tristão e Isolda que Schöenberg e os outros músicos do início do século XX viram a possibilidade da atonalidade e de toda a revolução musical que resultou essa quebra. A herança de Tristan und Isolde para a música é enorme.

Tannhäuser

Tannhäuser e o torneio de trovadores de Wartburg, como o nome já diz, é uma ópera que narra um torneio de trovadores. Como é habitual o libreto é do próprio Wagner, e a temática também não foge ao padrão do alemão. Assim, trata-se de uma ópera da segunda fase do compositor, quando as temáticas mais preocupadas com uma nacionalidade e com o folclore alemão tornam-se mais presentes. Apesar de ainda ter o esquema de “números musicais”, começa a ficar evidente uma tendência à música contínua, que à partir daí tornar-se-ia marca registrada do compositor.

Ciclo do Anel – Der Ring des Nibelungen

Obra máxima de Wagner, é a representação de seu conceito de Gesamtkunstwerk, em português, obra de arte total. O ciclo do Anel dos Nibelungos é composto por quatro obras: : Das Rheingold (O Ouro do Reno), Die Walküre (A Valquíria), Siegfried e Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses). A intenção do compositor era que fossem sempre apresentadas de forma sequencial, e não vistas como obras individuais. Trata-se de um projeto artístico megalomaníaco, até para os padrões de Wagner.

O ciclo baseia-se em mitos da cultura e do folclore nórdico e no poema medieval alemão “A Canção dos Nibelungos”. Nas óperas da quadrilogia Wagner abandona por completo os recitativos e adota a música contínua, o drama musical. Além disso, seus famosos leitmotiv assumem importância vital. Esses identificam os personagens e aparecem em todas as quatro óperas.

Aqui Wagner atingiu sua megalomania por completo, quando escreveu as letras, compôs as músicas, dirigiu e até construiu o teatro ideal para a apresentação das óperas. A obra de arte total ganha aqui sua personificação. A montagem que o Met exibirá é um dos melhores registros do ciclo. Teve encenação entre 1989 e 1990 e direção musical e regência de James Levine, talvez o maior especialista vivo em Wagner.

Parsifal

Última ópera de Wagner, como não poderia deixar de ser, chocou muitas pessoas. Inclusive seu (ex)amigo , o filósofo Friedrich Nietzsche, que teria rompido amizade com Wagner pelo conteúdo casto e o fervor religioso da obra. Baseada na lendária busca ao Santo Graal do cavaleiro Arthuriano Parzival (Percival). A ópera apresenta uma imagem feminina de depravadas, o que não é lá uma grande novidade em sua obra. Aliás, em geral, tem a marca de um sexismo bem reacionário. Além disso, o moralismo da ópera é um ponto que se destaca na apreciação pelos nazistas.

Contudo, é uma ópera que costuma agradar , pois sua música altamente inspirada por religiosidades tende a passar uma sensação de êxtase e altas doses de sinestesia. Aliás, durante muitos anos monopólio de Bayreuth, o Met encenou a primeira apresentação fora do teatro Wagneriano em 1903.

Pedro Pessanha, trecho do artigo publicado sob o título : "As controvérsias de Richard Wagner, a estrela da ópera de graça da semana.

Fonte:https://viventeandante.com/met-traz-richard-wagner-opera-de-gracaonline/

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