STUTTGART BALLET : TRIBUTO COREOGRÁFICO TRÍPLICE AOS 250 ANOS DE BEETHOVEN. ARTIGO DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Mais uma destas surpreendentes estreias virtuais para preencher a distância dos palcos em tempos pandêmicos. Neste primeiro dia de abril, o Stuttgart Ballet apresentou, em noite de estreia mundial, três obras coreográficas concebidas como performance dimensionada para os limites de segurança sanitária e sem público presencial .
De Hans van Manen, um dos baluartes da dança no século XX, duas de suas obras icônicas : a Grosse Fuge, original de 1971, e o Adagio Hammerklavier, de 1973 e, certamente, uma de suas mais celebradas criações. O programa é completado com a première de Einssein, a mais recente concepção do coreógrafo italiano Mauro Bigonzetti.
Duas com excertos de sonatas beethovianas e a terceira (Grosse Fuge) tendo como base movimentos dos dois últimos Quartetos para Cordas do compositor. Com parte reduzida do elenco do Stuttgart Ballet em virtude dos protocolos impostos pelo surto da Covid-19.
GROSSEN FUGE. Coreografia de Hans van Manen. Abril de 2021.Foto/Stuttgart Ballet. |
O mais curioso nestas obras é que elas representam uma resposta a um antigo questionamento de George Balanchine que, em declaração ao próprio Van Manen, nunca acreditou nas possibilidades coreográficas para uso da música de Ludwig van Beethoven. Este último, inclusive, só escreveu uma composição exclusivamente destinada à dança – As Criaturas de Prometeu, em 1801.
Raramente retomada na primeira metade do século passado e que acabou sendo eclipsada pela prevalência de adaptações coreográficas posteriores, a partir da inspiração em obras camerísticas, entre sonatas e quartetos, e de algumas de suas sinfonias.
A postulação de Balanchine, em períodos sequenciais, foi assim contestada desde as próprias transcrições de Van Manen à emblemática versão da Sétima Sinfonia por Uwe Scholz, além de referenciais transposições de passagens composicionais de Beethoven através de Maurice Béjart.
Recentemente, também o Het Nationale Ballet partiu da premissa Balanchine/Van Manen e fez seu tributo às comemorações Beethoven, reunindo obras de Van Manen, Toer van Schayk, além de uma versão livre do Prometeu, por três jovens coreógrafos, sob o titulo de Fogo Divino.
Neste programa precioso do Stuttgart Ballet, destaca-se o Adagio Hammerklavier, com sua rigorosa e sensitiva exploração da dança abstrata transmutada em pura estética gestual, sob substrato neoclássico com acompanhamento pianístico ao vivo e destinada a três casais. Van Manen define a obra como “Uma ode à desaceleração. Tal como uma roda ou pião que ainda está se movendo após um empurrão, pouco antes de cair”.
Enquanto a Grosse Fuge, utilizando movimentos dos derradeiros Quartetos de Cordas de Beethoven, se aproxima mais de uma fusão com a linguagem contemporânea, dança pela dança, o "ato puro das metamorfoses", embora sem deixar de lado um certo e sutil sotaque do estilo neoclássico. Podendo, em livre avaliação temática, sugerir o confronto entre o masculino e o feminino, no entremeio do domínio e da submissão.
Quanto à obra inédita de Mauro Bigonzetti – Einssein - também com uso de excertos de sonatas para piano de Beethoven, sua proposta avança por novos caminhos que aproximam a obra da dança-teatro. Em investigativa pulsão da corporeidade energizada por um gestual mimético, interativo com o piano e seu intérprete e em formações grupais que remetem a uma potencial visualidade escultórica.
Wagner Corrêa de Araújo
O espetáculo foi disponibilizado nas plataformas virtuais, por uma semana, através do You Tube - Beethoven Ballets /The Stuttgart Ballet Livestream.
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