Gian Giacomo Guelfi, nasceu em Roma a 21 de dezembro de 1924 e estudou direito antes de se dedicar aos estudos do canto com o barítono Titta Ruffo em Florença, e mais tarde com o também barítono Mario Basiola, já em Milão. Possuidor de um vozeirão de barítono dramático e de um domínio cênico fantástico; assim se referiu o crítico musical João Câncio Póvoa Filho: "Giangiacomo Guelfi, ora na plenitude dos seus dotes vocais e artísticos, foi um Scarpia verdadeiramente de exceção. É raro, mesmo quando o papel é confiado aos mais celebrados barítonos; ouvia-se a voz de Scarpia no "Te Deum" sobre o Coral Lírico Municipal, desta feita cantado de maneira impar. Guelfi foi a figura dominante da noite e o público, muito justamente, o aplaudiu com entusiasmo e especial admiração". 16/10/1970 - "O Estado de S. Paulo".
Gian Giacomo Guelfi estreou-se em 1950, no Teatro Municipal de Spoleto, como Rigoletto e a seguir em 1952 no Teatro alla Scala de Milão, seguindo logo após aos teatros de La Fenice de Veneza, Maggio Musicale Fiorentino, Gran Liceu de Barcelona, dell'Opera di Roma, Ópera de Catânia, San Carlo di Napoli e Massimo de Palermo; tornando-se convidado regularmente da Arena de Verona e das Termas de Caracalla. Atuou também no Teatro Real de Madrid, São Carlos de Lisboa, Royal Opera House de Londres, Ópera Estadual de Hamburgo, Operas de Berlim, Munique e Viena, Opera do Cairo, Opera de Tóquio, Teatro Colón de Buenos Aires e Theatro Municipal do Rio de Janeiro como também em São Paulo. Suas apresentações no Brasil deram-se entre os anos de 1956 (Rio de Janeiro) e, pela última vez, em 1973 no Theatro Municipal de São Paulo.
A interpretação do Barão Scarpia tanto no Rio de Janeiro, como em São Paulo (Theatro Municipal, 1956, no Rio de Janeiro; depois em São Paulo, em 1970 e 1973) ocasiões que deixaram uma lembrança inesquecível aos amantes da ópera destas duas cidades brasileiras. Atuou no Municipal com Marta Rose, Sergio Albertini, Mario Rinaudo, Marta Baschi, (Carmen, de Bizet); Andrea Ramus, Assadur Kihultzian e Niza de Castro Tank; (La Bohème e Tosca).
A estreia nos Estados Unidos ocorreu em 1954 na Lyric Opera Chicago e na Metropolitan Opera House de Nova York em 1970 com imenso sucesso. Atuou no San Francisco Opera House.
Guelfi notabilizou-se nos personagens de Verdi < Nabucco, Macbeth, Simon Boccanegra, Amonasro;( "Aída"), Attila, I due Foscari, I Vespri Siciliani, Il Trovatore, La Forza del destino, e participou na criação de obras contemporâneas, incluindo "Lazzaro", de Pizzetti's La figlia di Jorio, em Nápoles, 1954. (Teatro San Carlo, Stagione Lirica de 1954).
As interpretações de Gian Giacomo Guelfi contracenavam-se ao lado de Mario Del Monaco, Franco Corelli, Mario Filippeschi, Renata Tebaldi, Gianni Raimondi, Antonietta Stella, Nicolai Ghiaurov, Ana de Cavalieri, Nicolai Ghiuselev, Renata Scotto, Gabriella Tucci, Pier Miranda Ferraro, Vittorio Pandano, Ferrucio Tagliavini, Leyla Gencer, Boris Christoff, Eleanor Steber, Carlo Cava, Elena Suliotis, Marta Rose, Gianfranco Cécchele, e Fiorenza Cossotto.
"Brilharam nos maiores teatros espalhados pelo mundo afora Tito Gobbi, Gian Giacomo Guelfi, Piero Cappuccilli, Renato Bruson, Jonathan Summers, Matteo Manuguerra, Fernando Teixeira (Brasil)..." crítica de "Nabucco" por Marco Antônio Seta < Blog de Opera&Ballet.> 27/9/2017.
Gian Giacomo Guelfi nas vestes de Amonasro, (Aida), personagem que representou em 1970 no Theatro Municipal de São Paulo.(com Rita Orlandi Malaspina, Bruno Prevedi e Marta Rose).
Apareceu paralelamente em obras do verismo como a "Cavalleria Rusticana" & "I Pagliacci", Andrea Chénier, Fedora, Carmen, La Gioconda, onde demonstrava o seu grande volume vocal, o timbre escuro e dramaticidade em sua linha cênica. Cantou entre o seu vasto repertório La Wally, Linda de Chamounix, Lucia di Lammermoor, L'Africaine, Guglielmo Tell, La Favorita, Agnes von Hohenstaufen, de Spontini.
Interpretou entre outros registros de CD ou DVD personificações magistrais de Jack Rance < "La Fanciulla del West", ao lado de Renata Tebaldi, Daniele Barioni, Piero de Palma e Carlo Cava sob a direção musical de Arturo Basile; Roma, Julho de 1961.
"La Fanciulla del West", de G. Puccini (1858-1924) e a "Tosca", que apresentou em Toquio, na excursão do Scala de Milão ao Japão em 1961, ambas com Renata Tebaldi, gravada em DVD sob a regência do Mtrº Arturo Basile.
Após uma semana de enfermidades, hospitalizado, veio a falecer a 8 de fevereiro de 2012 em Bolzano, Itália. O tempo passa, mas o tempo é o senhor da razão...e sua imagem se perpetua nos teatros por onde se apresentou, com a sua personalidade artística de primazia e coesão.
Escrito por Marco Antônio Seta, em 21 de Maio de 2021.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB / SP
Diplomado em piano, teoria, história da música, harmonia e contraponto no Conservatório Dr. Carlos de Campos, em Tatuí, SP.
Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO e Jornalismo (FCL).
Antonio Rodrigues
ResponderExcluirOuvi-o em 1971 na Aída... no Cairo!! No teatro onde a ópera foi estreada, ainde tenho o programa. Uma troupe da Sardenha de visita por lá. Depois o teatro incendiou, cerca de um ano depois.. O Guelfi era meio da linha italiana gritadora dos anos 50, como o del Monaco (verdadeiro Vicente Celestino da ópera a meu ver, e adoro Verdi)e, em grau bem menor, o Bastianini, para citar outro barítono. Diz o Lauri-Volpi em "Vozes Paralelas" que o jovem Guelfi tinha tanto fôlego que fazia voar as páginas das partituras...
Sim. Mas, hoje, vozes assim parece que já não há. Cada uma, decerto, com as suas características vocais próprias e idiossincrasias interpretativas, Desconheço se G Guelfi, com a sua voz poderosa, hercúlea, férrea, tonitruante, alguma vez terá cantado em S Carlos (Lisboa). Que saudades dele, do Del Mónaco, do F Corelli, do C. Bergonzi, do A. Kraus, do Bastianini! Cantavam divinamente! Joan Sutherland, Caballé, F. Cossotto, G Savova, M Zampieri, N. Todisco, N. Martinucci, P. Cappuccilli, R. Bruson, Fernando Teixeira, G. Zancanaro, F. Furlanetto, A. Malta e outros (portugueses alguns) que tive a felicidade de ouvir ao vivo, grandes vozes que ficaram nos anais e ficaram a brilhar para sempre no firmamento lírico. Alguns deles, enormes vozes que quase nem sequer deixaram registos!
ExcluirHoje, na falta de grandes vozes, tenta-se mascarar essa penosa constatação com encenações “chocantes” ou estapafúrdias. Hoje há muitas pós-graduações e doutoramentos na área das ciências musicais e da musicologia. Mas falta o melhor, a magia da voz que dá vida ao teatro e à ópera!
António Gomes