MARTHA BASCHI - A FORÇA COMUNICATIVA E A EXPRESSÃO DESTA GRANDE ARTISTA. ARTIGO DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 

Ao se instalar em Buenos Aires o pai de Marta Baschi iniciou-a nos estudos de piano, seu instrumento de trabalho. Logo, observando as suas aptidões para o canto, matriculou-a na Escola de Canto Estadual do Teatro Colón de Buenos Aires, onde ela permaneceu até 1956.

Nesse período, a jovem Marta desfrutou a oportunidade de assistir no palco do maior teatro portenho às performances de nomes tão expressivos como Beniamino Gigli, Zinka Milanov, Renata Tebaldi, Maria Callas, Mario Del Monaco, Régine Crespin, Giuseppe Di Stefano, Giulietta Simionato, Ramon Vinay, Wilma Lipp, Ferrucio Tagliavini, Anna Moffo e Gianna D”Angelo entre os elencos das sucessivas temporadas líricas. Daí a sua definição pelo estudo do repertório lírico ao qual desejava ingressar. Ali, aprendeu a arte dramática e os seus segredos na encenação de uma ópera e as lições de canto lírico no seu registro de soprano lírico.

Marta Baschi no papel de Musetta

Transferindo-se definitivamente para São Paulo, logo foi contratada pela TV Tupi – Canal 4 (Sumaré), onde permaneceu por cinco anos. Nesse período apresentava-se semanalmente em programas musicais da televisão no Teatro Tupi, chamando a atenção de maestros e empresários da época (Emílio Billoro e Alfredo Gagliotti).

Armando Belardi, então diretor artístico do Teatro Municipal SP e organizador das temporadas líricas oficiais, convidou-a para estrear no papel de Musetta e também Lisa de “La Sonambulla” (1967). A partir dessa ocasião, ela foi se revelando grande artista, dona da cena e de domínio em qualquer personagem que lhe fosse atribuído pelos diretores de cena, maestros e regentes.

Zuinglio Faustini e Marta Baschi na ópera “Il Matrimonio Segreto”, de D. Cimarosa (1749-1801)

Marta, aderiu sobretudo ao repertório da ópera buffa com uma personificação espetacular de Elisetta (a filha mais velha de Gerônimo)  na  ópera “Il Matrimonio Segreto”, de D. Cimarosa (1749-1801) a qual lhe coube reviver na temporada oficial de 1980 com grande sucesso. Outras obras desse gênero fizeram parte de seu repertório; “Cosi fan tutte”  K.588 e “Le Nozze di Figaro” opera buffa K. 492,  ambas de Mozart (1756-1791);  “Il Barbiere di Siviglia”, de Rossini (1792-1868) e “Il Barbiere di Siviglia”, de G. Paisiello (1740-1816).

A carreira ainda viria a culminar com suas interpretações brilhantes nas óperas “La Rondine” (Puccini) como Lisette. Nos anos de 1981 a 1983, colaborou intensamente com o Projeto Pró Ópera, ideia lançada por Mário Chamie, Secretário de Cultura do Município de São Paulo na época, no qual resultaram várias de suas interpretações em “Colombo”, de Carlos Gomes (Rainha Isabella de Castella); Soror Genovieffa (Puccini); “La Vida Breve”, de Manuel De Falla e La Bohème, esta última, ópera de referência em sua vida artística, a qual voltou a apresentar várias vezes em nosso Municipal em São Paulo, no Teatro São Pedro de Porto Alegre; Guaíra em Curitiba e no Teatro Nacional (Auditório Cláudio Santoro) em Brasília/DF

Atuou ao lado de nomes da cena lírica internacional e brasileira: Walter Monachesi, Ruggero Bondino, Mario Rinaudo, Andréa Ramus, Zuinglio Faustini, Benito Di Bella,  Gastone Limarilli, Sergio Albertini, Virgínia Zeani, Giangiacomo Guelfi, Marta Rose,  Zaccaria Marques, Paulo Adonis, Constanzo Mascitti, Jarbas Braga, Nélson Portella, Maria Lúcia Godoy, Sergio Di Amorim, Rita Contino, Maurizio Frusoni, Fernando Teixeira, Wilson Carrara, Benito Maresca,  Vittorio Pandano,  Giuseppe Taddei, e as nossas grandes Agnes Ayres e Leila Guimarães.

Seguem algumas referências da crítica especializada sobre a artista:

Do elemento feminino, graças ao seu temperamento vivaz, tão adequado à atrevida criadinha Despina, destacou-se Marta Baschi, tendo a sua presença em cena, pela graça, pela espontaneidade e pelo seu canto, ofuscado por completo as suas duas companheiras de cena.” – João Câncio Póvoa Filho – “O Estado de S. Paulo”. 26/9/1971

Marta Baschi está atravessando uma fase excepcional vocalmente. Cantou de forma admirável a Lisette em La Rondine” – J. Roberto Grassi “Folha de S. Paulo”, 10/11/1980

Marta Baschi, como Musetta de La Bohème, pode expandir sua facilidade de comunicação, dominando o público em “Quando me’n vo soletta per la via” (Valsa de Musetta) – Léa Viconur Freitag “O Estado de S. Paulo”, 18/10/1981

Salud,  mulher amante e mártir, é o grande papel nesta ópera, portanto, exige artista expressiva e experiente. Marta Baschi, que deixara patente suas qualidades em apresentações anteriores: “I Pagliacci”, “La Bohème”, “Carmen” (Micaela), todas no Theatro Municipal de São Paulo, representou com sensibilidade a noiva mártir, imprimindo uma interpretação exuberante à personagem.  Baschi é um soprano temperamental, inteligente e desembaraçada nas inflexões do gênero lírico, e também excelente atriz, cuja presença no palco é dominante. A ária “Vivan los que rien,,,” interpretou com emoção.” – Marco Antônio A. Seta “Jornal da Tarde”, de O Estado de S. Paulo, (sábado, 03/12/1983).

Escrito por Marco Antônio Seta, em 13 de Maio de 2021.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MPB / SP
Diplomado em piano, história da música, teoria, harmonia e contraponto no Conservatório Musical "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí,  SP.
Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO e pela FCL em Jornalismo.

Comentários

  1. Merecida homenagem a essa maravilhosa cantora lírica Marta Baschi💞

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