A CONTROVÉRSIA ENTRE AS ESTRELAS E OS HISTORICISTAS. ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 


Eu imaginava que após tantos anos o movimento historicista e as propostas que ele trouxe para a interpretação musical seriam melhor aceitas. Ledo engano, ainda hoje muitos ouvintes em especial os mais idosos continuam preferindo os grandes artistas do passado interpretando música barroca ou clássica.


Eu me inclino ao movimento historicista pois não aceito as liberdades que as grandes estrelas do passado se permitiam ao interpretarem os grandes clássicos. Tudo era permitido desde cortes até rearranjos das partituras. Especialmente sem vergonha era o maestro Leopold Stokowski que praticamente não conseguia interpretar nada sem mexer em alguma coisa na partitura. Isso tinha que acabar!

O problema é que muitos artistas dessa escola historicista possuem muita erudição mas não uma grande qualidade como intérpretes. Vou citar exemplos opostos o disco gravado por Renata Tebaldi já em fim de carreira cantando música barroca, uma porcaria que só existe no mercado pelo fato da cantora ser uma estrela portanto seus admiradores mais fanáticos vão aceitar tudo que ela fizer. No outro extremo temos o ciclo pioneiro das sinfonias de Beethoven com instrumentos de época pela Hanover Band dirigida por Roy Goodman. Poucas vezes escutamos tantos detalhes normalmente
escondidos esse ciclo revela tudo, por outro lado os andamentos são muito rígidos e a direção é bastante inflexível, a orquestra está longe de ser o melhor conjunto de músicos com instrumentos de época, a acústica do local de gravação muitas vezes não &eac ute; das melhores.A gente nota que esse mundo dos intérpretes historicistas surgiu nas universidades e também no início esses artistas cobravam cachês muito baixos.

Com a vasta formação acadêmica que possuem os músicos historicistas muitas vezes se perdem em discussões idiotas como o uso ou não do vibrato. Para começar o intérprete possui a liberdade de usar esse recurso se quiser. Não existe polícia para regular a interpretação musical. Além disso mais importante do que a pesquisa histórica no caso da interpretação musical está demonstrar na prática como usar ou deixar de usar determinado recurso afeta o resultado.

O maestro Harnoncourt gravou os Concertos de Brandenburgo de Bach em vídeo e entre uma peça e outra explica várias de suas propostas. Por exemplo o trompete natural se funde muito melhor no conjunto camerístico do segundo concerto, enquanto o trompete moderno possui um volume de som fortíssimo que desequilibra tudo. De fato só conheço uma gravação dessa obra com instrumentos modernos em que ela não pareça um concerto para trompete, se trata da versão de Claudio Abbado com músicos do Teatro Scalla de Milão e o excelente trompetista Giuseppe Bodanza.Curiosamente o próprio Abbado adotaria algumas práticas dessa escola historicista bem perceptíveis em suas gravações com a Orquestra Mozart e a Orquestra de Câmara da Europa.

Portanto voltando a falar do vibrato, na musica vocal barroca não temos o tempo todo esse estilo declamatório das grande óperas do final do século XIX e início do século XX. A voz era usada de maneira mais instrumental e sem se aligeirar bastante e cantar com uma voz quase branca, fica muito difícil dar conta das partituras vocais barrocas cheias de floreios.Na música instrumental a ausência do vibrato excessivo contribui e muito para tornar mais clara a polifonia muito comum nessas peças antigas escritas para conjuntos de dimensões reduzidas.

Portanto para qualquer tese que se venha a apresentar, deve-se mostrar sua validade na prática. A discussão erudita por si só não convence.


Isaac Carneiro Victal.

Comentários

  1. A gente sempre agradece ao editor Ayache pela liberdade de comentar aqui nesse blog.Apenas gostaria de corrigir a rasura "a acústica do local de gravação muitas vezes não é das melhores".Por fim desejo para todo mundo proteção contra a peste do corona!Isaac Carneiro Victal.

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  2. Isaac, com todo respeito, a discussão sobre vibrato não é nenhum pouco "idiota" como você disse no seu artigo. Muito pelo contrário, ela é e deve ser levada a sério sim, pois afeta muito a execução musical das peças bem como a interpretação das mesmas à luz das idéias musicais dos autores das obras.

    Tenha um bom dia.

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    1. Eu falei justamente sobre isso posteriormente no texto por favor leiam melhor.O meu ponto é deve se demonstrar na prática essas teses pois em música de nada adiantam essas discussões todas se a execução musical no fim for medíocre.O historicismo em si não é um selo de qualidade para a interpretação musical.Acho que está faltando interpretação de texto para as pessoas que postam comentários aqui.Isaac Carneiro Victal.

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  3. Prezado Isaac sempre leio seus artigos e aqui não entro no mérito de suas colocações em geral. No entanto gostaria de registrar meu profundo descontentamento com suas palavras em relação a gravação da célebre soprano italiana Renata Tebaldi a qual você qualificou de porcaria. è um comentário totalmente desprovido de educação, culto a uma celebridade. Você não gostar, achar que não é uma gravação de referência é uma coisa, agora dizer que é uma porcaria isso realmente transpassa o menor senso crítico. Muitos não gostam de seus artigos mas até aí chamar tudo o que você escreve de porcaria também seria triste de se ler. Com respeito

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    1. Entendo as reações das pessoas aos meus textos apesar de não me importar se achem meus textos ótimos ou uma porcaria.Num país onde a maioria dos críticos de arte não passam de escritores encomiásticos,minhas polêmicas caem como uma bomba.Ainda tem o fato de que eu não sou uma pessoa renomada,na verdade eu sou um nada e isso causa ainda mais espanto alguém assim se expressar dessa maneira sobre artistas de renome.

      Continuo sustentando que é uma porcaria essa gravação da Tebaldi, uma soprano spinto cantando um repertório que poderia cantar um menino soprano como a célebre ária Ombra mai Fù.Isso não me impede de cultuar outras gravações dela como das óperas Aida e Otello com Karajan por exemplo.Aliás o mesmo que eu disse para Tebaldi serve para Karajan.Eu admiro muito esse regente mas ele deixou algumas gravações ridículas de música barroca.Exemplos gravou o Magnificat de Bach várias vezes,na primeira tentativa tudo saiu errado nada se salva e na empreitada fracassada estavam envolvidos grandes nomes como Schwarzkopf,Oralia Dominguez e Nicolai Gedda nessa gravação da RAI de Roma.Tentou registrar essa obra em estúdio para a DG mas as coisas não se saíram tão melhores assim dessa vez e aqui também os solistas são grandes estrelas,Tomowa-Sintow,Baltsa,Schreier e Luxon.Melhor se saiu o velho na gravação ao vivo disponível em vídeo realizada no finalzinho de 1984.Mais uma vez grandes astros presentes na ocasião Francisco Araiza,Judith Blegen e Robert Holl mas o que salvou a noite foi o excelente coro Rias.Não por nada esse ensemble vocal esteve envolvido em várias gravações historicamente informadas.

      O que deve ficar claro é quando uso adjetivos como idiota ou porcaria existe toda uma argumentação que embasa essa opiniões assim decididas.Nesse sentido reclamei aqui da falta de intepretação de texto anteriormente.Para terminar reafirmo não vou censurar meu vocabulário vejam só palavras como idiota e porcaria nem palavrões são para despertarem essa reação toda!

      Isaac Carneiro Victal.

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