AS DUAS LONGAS TEMPORADAS DE RICHARD STRAUSS NO BRASIL. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Richard Strauss e os músicos da Filarmônica de Viena na porta do Theatro Municipal do Rio
O grande compositor alemão Richard Strauss (1864-1949) esteve no Brasil duas vezes, nos anos de 1920 e 1923, e encontrei fontes bem confiáveis onde detalham com certa precisão os 19 programas que Richard Strauss regeu na então capital federal, o Rio de Janeiro. Fico surpreso, e ao mesmo tempo entristecido, ao constatar que a cidade do Rio de Janeiro, que no início da década de 20 tinha uma população de 1.200.000 habitantes e que hoje tem mais de 6.900.000, abrigava temporadas de concertos tão extensas, com um repertório tão interessante. A decadência cultural e a diminuição da importância da cidade a nível mundial são inegáveis.
A primeira vez que Richard Strauss esteve no Rio de Janeiro foi em 1920, à frente de uma orquestra formada por experientes músicos austríacos (da ópera de Viena, ao que parece para fazer caixa), que executavam por algumas semanas as óperas, os ballets e os concertos levados no Theatro Municipal daquela cidade, já que naquela época o Theatro Municipal não possuía uma orquestra própria. Pelo repertório creio que deveriam ser músicos excelentes. Richard Strauss em 1920 era um dos mais conhecidos compositores e ao mesmo tempo um aclamado maestro. Na época tinha se afastado da direção da Ópera de Viena, mas mantinha um vínculo muito forte com a capital austríaca.
Nos seis programas regidos em 1920 me surpreendo por ver um número considerável de autores brasileiros, e ver que o grande compositor alemão executou obras de autores de escolas bem afastadas da música alemã, como Debussy e Stravinsky. Vale a pena citar uma carta que Strauss enviou do Rio de Janeiro ao grande escritor, que era seu libretista favorito, Hugo Von Hoffmanstahl, contando as confusões e indisciplina do Theatro Municipal. Vale a pena citar que no dia 2 de outubro, um dia antes do último concerto que Richard Strauss regeu no Rio, ele assistiu, horrorizado, uma récita de sua ópera O Cavaleiro da Rosa, em italiano, e, curiosamente, com Claudia Muzio como A Marechala e tendo como maestro Tullio Serafin.
Programas de 1920 regidos por Richard Strauss
14 de setembro – Beethoven – Sinfonia Nº 3
Richard Strauss – Don Juan
Richard Wagner – Abertura de “Os mestres cantores”
16 de setembro – Schubert- Sinfonia Inacabada
Weber – Abertura de “Oberon”
Debussy – Dois Noturnos: Nuages – Fetes
Richard Strauss – Morte e transfiguração
20 de setembro – Beethoven – Sinfonia N° 5
Richard Strauss – Till Eulenspiegel
Richard Wagner – Prelúdio do I ato de Lohengrin
Richard Wagner – Abertura da ópera Tannhäuser
23 de setembro – Beethoven – Abertura Leonore Nº 3
Alberto Nepomuceno – Prelúdio de “O Garatuja”
Beethoven – Excertos de “Ruínas de Atenas”
Richard Strauss- Don Juan
Dança dos sete véus da ópera Salomé
Morte e transfiguração
28 de setembro – Beethoven- Sinfonia Nº 5
Richard Strauss – Till Eulenspiegel
Dança dos sete véus da ópera Salomé
Richard Wagner – Abertura da ópera Tannhäuser
3 de outubro – Francisco Braga – Marabá
Henrique Oswald – Feullies d’autone
Richard Strauss – Don Juan
Till Eulenspiegel
Morte e transfiguração
A segunda temporada brasileira de Richard Strauss
Em 1923 Richard Strauss voltou ao Brasil como maestro da Orquestra Filarmônica de Viena. Esta orquestra, a melhor do mundo naquela época, já tinha vindo ao Brasil em 1922, tendo como regente Felix Weingartner. Foi um presente do governo austríaco pelo centenário da nossa independência. Em 1922 a Filarmônica de Viena e os solistas da Ópera de Viena executaram em São Paulo e no Rio de Janeiro o ciclo de quatro óperas de Wagner O Anel do Nibelungo. Em 1923 a orquestra retorna ao Brasil tendo Richard Strauss como maestro, executando 13 concertos. Muitas obras importantes foram executadas em primeira audição no Brasil: a Sinfonia Nº 1 de Mahler (creio que foi a primeira música de Mahler ouvida aqui), as Sinfonias Alpina e Doméstica, Assim falou Zarathustra, Vida de Herói e outras tantas obras de Richard Strauss. Sim, o Brasil em geral, e a cidade do Rio de Janeiro em particular, já tiveram outra importância cultural. A tendência é, infelizmente, de piorar.
Programas de 1923
14 de julho – Weber – Abertura da ópera Euryanthe
Beethoven – Sinfonia Nº 7
Richard Strauss – Burlesca para piano e orquestra (solista: Alfred Blumen)
Vida de herói
15 de julho – Berlioz – Abertura da ópera Benvenuto Cellini
Richard Strauss – Assim falou Zarathustra
Richard Wagner: Abertura da ópera “O navio Fantasma”
Idílio de Siegfried
Abertura da ópera Tannhaeuser
16 de julho – Beethoven – Sinfonia Nº 6
Richard Strauss – Don Juan
Richard Wagner – Marcha fúnebre da ópera “O crepúsculo dos deuses”
Prelúdio e Morte de amor da ópera “Tristão e Isolda”
17 de julho – Schumann – Abertura Manfredo
Mahler – Sinfonia Nº 1
Mendelssohn – Abertura “A gruta de Fingal”
Beethoven – Sinfonia N° 5
18 de julho – Mendelssohn- Abertura de “Sonho de uma noite de verão”
Beethoven – Abertura Leonore Nº 3
Richard Strauss – Till Eulenspiegel
Shillings – Prelúdio da ópera Ingwielde
Richard Wagner – Marcha fúnebre da ópera “O crepúsculo dos deuses”
Prelúdio da ópera “Os mestres cantores”
19 de julho – Smetana – Abertura da ópera “A noiva vendida”
Mignone – Dança e Minueto
Brahms – Sinfonia Nº 4
Richard Strauss – Assim falou Zarathustra
Richard Wagner – Prelúdio da ópera “Os mestres cantores”
20 de julho – Richard Strauss – Vida de herói
Stravinsky – Fogos de artifício
Richard Wagner – Idílio de Siegfried
Viagem de Siegfried pelo reno da ópera “O crepúsculo dos deuses”
Beethoven – Sinfonia Nº 5
21 de julho – Richard Strauss – Impressões da Itália
Chabrier – España
Richard Strauss – Till Eulenspiegel
Richard Wagner – Abertura Fausto
Prelúdio e Morte de amor da ópera “Tristão e Isolda”
Abertura da ópera Tannhäuser
22 de julho – Richard Strauss – Don Juan
Dança dos sete véus da ópera “Salomé”
Morte e Transfiguração
Richard Wagner – Abertura e bacanal da ópera Tannhaeuser
Abertura da ópera Rienzi
Prelúdio e Música da sexta-feira santa da ópera Parsifal
23 de julho – Liszt – Tasso
Richard Wagner – Abertura da ópera “O navio fantasma”
Abertura da ópera Rienzi
Prelúdio e Morte de amor da ópera “Tristão e Isolda”
Richard Strauss – Sinfonia Doméstica
24 de julho – Beethoven – Sinfonia Nº 4
Richard Strauss – Dança dos sete véus da ópera “Salomé”
Morte e Transfiguração
Richard Wagner – Abertura da ópera “O navio fantasma”
Prelúdio do I ato de Lohengrin
Abertura da ópera Rienzi
25 de julho – Korngold – Muito barulho por nada – Abertura
Beethoven – Concerto para piano e orquestra Nº 4 (solista: Alfred Blumen)
Richard Strauss – Don Quixote
Morte e Transfiguração
26 de julho – Weber – Abertura da opera “Der Freischuetz”
Beethoven – Concerto para piano e orquestra Nº 4 (solista: Alfred Blumen)
Richard Strauss – Don Quixote
Morte e Transfiguração
Richard Wagner – Marcha fúnebre da ópera “O crepúsculo dos deuses”
Prelúdio da ópera “Os mestres cantores”
Richard Strauss – Sinfonia Alpina
Dança dos sete véus da ópera “Salomé”
Till Eulenspiegel
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