SE O TENOR JONAS KAUFMANN ESTÁ PREOCUPADO COM AS ÓPERAS "MODERNAS" QUE NÃO ATRAEM PÚBLICO, IMAGINA EU. ARTIGO DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

Jonas Kaufmann, tenor.
  

    Já repeti isso diversas vezes e em muitas fui criticado. Chamado de ultrapassado e careta, mas diferente de outros, respeito a opinião alheia.

 Modernidade em excesso na ópera pode ser legal para os coleguinhas dos diretores, encenadores e uma galera que diz gostar de inovações, de resto afasta o público. 

   Não sou somente eu que anda falando isso há anos e sim o tenor Jonas Kaufmann, vendo os teatros vazios pela Europa ele reclama em entrevista dada ao site Díapason da França. 

   A culpa da falta de público não é a pandemia e sim as vanguardas, as extravagâncias e o querer ser diferente, esses sempre viram a história de cabeça para baixo. Já assisti a um Otelo de Verdi no Theatro Municipal de São Paulo que se passava no espaço sideral.

   O tenor afirma e eu concordo com ele que a ópera deve ser feita "para as pessoas", para a maioria delas e não para uma minoria nutela que se diz "moderna".

   Anos atrás assisti a um terrível "O Lago dos Cisnes" no Theatro Municipal de São Paulo ambientado no Rio Tiête onde os bailarinos se arrastavam no chão, abaixo segue a crônica. Fico me perguntado quantas pessoas nunca mais foram ao teatro de dança ou de ópera porque um diretor metido a sabichão resolveu ser "vanguardista".

Ali Hassan Ayache.

CRÔNICA DE UM BALÉ ASSASSINADO - O LAGO DOS CISNES, DE SANDRO BORELLI, NA PIOR VERSÃO DE TODOS OS TEMPOS. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

O inesperado aconteceu na apresentação do balé "O Lago dos Cisnes?" (a produção se deu o direito até de mudar o nome colocando esse ponto de interrogação) no Teatro Municipal de São Paulo em Dezembro de 2008. 

  Sentaram na minha frente uma mãe e seus dois belos filhos. Um aparentava 8 anos e o outro 13, vestiam suas melhores roupas, para eles era uma noite de gala. Seus olhos irradiavam um brilho único, talvez por ser a primeira vez que visitavam o TMSP. O encanto e  o glamour do antigo teatro os pegou, tiraram suas câmeras digitais e se fartaram com as fotos. Maravilhados com o nosso mais belo teatro esperavam um balé com cenários e figurinos suntuosos, belas bailarinas , música que soasse suave aos ouvidos, um conto de fadas na história. Queriam se emocionar, era para ser uma noite inesquecível, daquelas que se comenta com os colegas de sala lhes fazendo inveja. Coitadinhos! O que viram foi algo bem diferente.
    Uma coreografia assinada por Sandro Borelli que beira ao ridículo atroz. Bailarinos quase sempre deitados, rastejando no chão, movendo-se de maneira sem nexo e muitas vezes até sem coordenação. Homem sobre Homem, mulher agarrada a outra mulher. Sem sentido para os marmanjos e até para aqueles que conhecem a arte do balé, imagina o que pensaram as duas crianças. Ao invés de cenários reais, luxuosos, com palácios encantadores que chamam a atenção de todos, viram um cenário criado pelo colega Jean Pierre Tortil com placas de metal enferrujadas que adormeciam inertes no fundo e nas laterais do palco. Esperavam luzes de diferentes cores que realçassem a história e encontraram no desenhista de luz André Prado o monocromático e o estático.
        Assustaram-se com os figurinos de Marcelo Pies (a dificuldade foi tanta que Marcelo precisou da assistência de Carol Lobato), roupas rasgadas e desgastadas para mostrar que a moçada que faz balé é "cabeça", de vanguarda. Esses dois meninos, que quando chegaram se maravilharam ao ver a  Orquestra Experimental de Repertório no fosso, ouviram dela na regência do maestro Juliano Suzuki uma música que soava com volume excessivamente alto. Uma barulheira que lembrava as vezes que foram a Penápolis e ouviram a banda na praça central. A bela melodia do Lago dos Cisnes que sua mãe lhes havia mostrado de um CD que comprara na banca de jornal agora doía os ouvidos. Parecia que era diferente, outra música, talvez a mãe tivesse comprado o CD errado. Toda hora entrava uma música eletrônica, uma tal de A Balada da Menina Afogada de uns caras que nada tem a ver com balé,  Bertold Brecht e Kurt Weill. Isso não estava no CD mamãe!
      Perplexos os dois guris perguntaram a mãe o que estava acontecendo? Cadê o lago, cadê o cisne, que hora entram as bailarinas de branco? Ela embasbacada, de cara no chão, sem saber o que falar pegou os dois filhotes e se mandou mais cedo para casa. Mas não foi só ela, muitas outras mães e marmanjos fizeram o mesmo diante de tal afronta.
    Quando essas crianças vão voltar ao teatro para ver um balé ? Quando essa pobre mãe que queria cultura e diversão aos filhos terá a cara de pau de chamá-los para ir ao TMSP novamente? Vocês sabem a resposta excelentíssimos senhores diretores do teatro. Com certeza nunca mais. Devido ao desrespeito de vocês com a obra. Graças as suas invencionices "modernas " ou releituras. Vocês que nunca fazem balé clássico devido as dificuldades técnicas e quando fazem sai essa montagem que beira a galhofa.
    Aos que resistiram até o fim ficou um misto de vaias e aplausos, mais vaias que aplausos. Os bailarinos receberam ambos meio sem jeito e com pressa para acabar. As crianças que sobraram estavam mortas de sono e não viam a hora de ir para casa. Os adultos, muitos deles tiraram uma pestana no meio da apresentação.  
    O TMSP conseguiu espantar o publico. Caso tivéssemos uma temporada completa de balé clássico, uns dez títulos por ano e no meio dela entrasse essa versão bizarra, até poderíamos aceitar essas maluquices. Bastava uma restrição a idade mínima para entrada. Mas em um balé que tem o nome de "O Lago dos Cisnes", música de Tchaikovsky e ingressos esgotados as pessoas esperam um balé no sentido literal do termo. 
Ali Hassan Ayache

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