AIDA "PÓS-GUERRA", DE BIA LESSA, NO THEATRO MUNICIPAL DE SP. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

          Após o tempo de espera de dois anos que a pandemia impôs, esta produção que deveria abrir a temporada de 2020; "Aida" finalmente retorna ao palco do Theatro Municipal de São Paulo, entre os dias 03 e 11 de junho. 

          Da direção musical de Roberto Minczuk  sentiram-se muitos andamentos ralentados desde o Prelúdio, fomentando-se também desencontros entre a orquestra e o coro. Na Sinfônica Municipal, notamos a expressiva atuação dos metais e percussão, a precisão dos clarins na cena triunfal e a cantabilidade do sempre especial primeiro oboé. 

          Após 150 anos da primeira apresentação exitosa na Opera do Cairo em 24/12/1871; vimos uma Aida (Verdi) sem triunfo na marcha e rede de pompa faraônica ou imponentes desfiles egípcios. Fortemente figurativa, antes, e nua em sua simplicidade escultórica estática que se traduz em poderosa abstração documental daquela história antiga. 

Ópera-ballet ? E o que dizer sobre os bailados dessa ópera ? Na dança das sacerdotisas houve um gestual figurativo com dez bailarinas envoltas em véu de bom destino visual. Bia Lessa aproveitou a bonita música do ballet do 2º Ato como trilha sonora, para mostrar ao público os efeitos de uma guerra, trazendo à cena seus tristes resultados numa circunstância grotesca e agressiva. Não houve bailados. Quanto à iluminação de cena,  é deficiente o trabalho de  Paulo Pederneiras. Cubos geométricos se dispuseram em certa ordem na  fracionada cenografia de Bia Lessa.  

            Na récita de domingo Priscila Olegário oscilou na afinação e apresentou embaraços no decorrer de sua Aída. No sábado (04/6) quem se distinguiu foi Marly Montoni em timbre bonito e adequado em muito boa atuação cênica-musical da escrava etíope..."Ritorna vincitor!";  depois "O patria mia"...

    

 Ana Lucia Benedetti (mezzo soprano) possui boa escola de canto realizando uma Amneris de muito bom nível artístico "L'abborrita rivale a me sfuggira..."; dueto "Gia i sacerdoti adunansi", em notável trabalho cênico-vocal. David Pomeroy, tenor canadense, conseguiu a neutralidade do público em sua "Celeste Aida", tamanha foi sua imperfeição canora, nesse personagem que muitas vezes desaponta aos tenores. Nas vestes de Amonasro, o barítono David Marcondes emprestou sua voz escura e compacta no domínio do rei etíope.

     Finalmente, as interpretações dos baixos são dignas de nota, o que se aplica, portanto, à expressão calorosa do Ramfis de Savio Sperandio e ao Rei do Egito, pai de Amneris, Orlando Marcos. Para complementar, a sacerdotisa de Elayne Caser que com meios sinuosos converte os arabescos modais à cena da invocação no templo de Vulcão, em Menfis; porém,  apresentou desgaste vocal.Caio Durán: um excelente mensageiro. Coro Lírico e Coral Paulistano participaram da produção.

Escrito por Marco Antônio Seta em 06 de junho de 2022.

Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB/SP

Diplomado no Conservatório Dramático "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí/SP (piano, harmonia e contraponto com história da música) e licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO, São Paulo/SP