"DON GIOVANNI" RETORNA AO THEATRO MUNICIPAL DO RJ COMEMORANDO 113 ANOS DO TEMPLO DAS ARTES. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Foto crédito : Daniel A. Rodrigues.
"Don Giovanni" estreou a 29 de outubro de 1787, no Teatro Nacional de Praga, com libreto de Lorenzo da Ponte, baseada na literatura clássica da Idade Média: a história de um legendário amante espanhol "Don Juan", um galante libertino que vive em Sevilha, cuja incansável perseguição às mulheres e sua conduta infamante levaram-no a receber uma dramática punição.
Fugindo da cena de seu crime, um nobre lascivo comete um assassinato hediondo, um ato depravado que desencadeia a vingança do próprio inferno. A trilogia Mozart / Da Ponte termina em um futuro pós-apocalíptico com Don Giovanni; uma ópera que mistura magistralmente comédia sombria com atos ainda mais sombrios. Exatamente o que se viu no Theatro Municipal do RJ.
Foto crédito : Daniel A. Rodrigues.Cenário de Don Giovanni, autoria de Renato Theobaldo, para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O visual do espetáculo é inspirado na Catedral de Sevilha com uma sequência de cortinas na vara, a qual ganhou, através de suas projeções, bonito efeito cenográfico somados à adequada iluminação de Fabio Retti. Os figurinos atemporais de Marcello Marques, complementam os efeitos gradativos de coloração, cujo resultado visual é muito bom.
Tobias Volkmann imprimiu boa direção musical à Sinfônica da casa com dinâmicas e fraseados límpidos. Cravo e bandolim soaram muito bonitos. Do elenco de solistas, no audacioso e aventureiro Don Giovanni, Homero Pérez-Miranda, baixo-barítono cubano, obteve-se interpretação apenas convencional. Ao dueto "la ci darem la mano" convenceu mais pela popularidade, do que a interpretação de Pérez-Miranda e Sophia Dornellas, esta oscila demasiado na afinação, em que lhe pese graciosidade cênica como Zerlina.
André Heller-Lopes aplicou na encenação desta, que há 31 anos não subia à cena no Municipal, agradável, contínua e sucessiva agilidade cênica; de suas intervenções coreográficas funcionaram bem as danças dos camponeses e deixam interrogações as inserções de ballet clássico, pela Escola Estadual de Danças Clássicas Maria Oleneva.
Homero Velho faz o papel de Leporello (original para baixo-cômico) ao que lhe faltam as notas mais graves; saiu-se bem na ária do catálogo (no estilo de sonata-rococó) e realizou bom trabalho cênico.
"Il mio tesoro" (Cena X) um dos mais sérios testes para o tenor, há mais de dois séculos! Fernando Portari não satisfaz em sua atual forma vocal. Apresentou uma deformada performance de Don Ottavio, com falsetes e ausência de coloratura em suas duas árias. Compensando, Donna Anna em sua ária principal "Non mi dir, bell"idol mio" (cena XIII do Ato II) obteve na interpretação cuidadosa e convincente de Ludmilla Bauerfeldt, singulares resultados musicais, bem retribuídos pelos melhores aplausos do público na noite de 16 de julho às 19 horas.
A Donna Elvira de Claudia Riccitelli, apresentou deplorável e (inaceitável) condição de voz, esta salva apenas pelo seu desempenho cômico. Completaram o cast Murilo Neves, um correto Masetto e Pedro Olivero (a voz do Comendador), que amedronta a todos que o ouvem.
Valeu o reingresso da ópera no Municipal ! À cena final do Ato I, desenvolveu-se o delicioso septeto, ainda que contando com vozes inadequadas, tarefa esta, hoje em dia, desconsiderada pelos diretores de ópera nos teatros brasileiros, porém escolher cantores em seus respectivos registros vocais, respeitando-os; traz segurança certa para o bom desempenho do elenco em sua homogeneidade. Que venham outras óperas italianas, alemãs e francesas em nosso Municipal do Rio de Janeiro.
Escrito por Marco Antônio Seta, em 17 de julho de 2022.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 MTB-SP
Diplomado em piano, harmonia e contraponto, Historia da música pelo Conservatório Dr. Carlos de Campos”, em Tatuí, SP.
Licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO, em São Paulo/SP
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