"DER ROSENKAVALIER", OBRA DE RICHARD STRAUSS DECAI DA PRODUÇÃO DE 2018 NO THEATRO MUNICIPAL DE SP. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

                                                    Cena de ópera "Der Rosenkavalier", Theatro Municipal.
          
   Reapresentar a ópera "O Cavaleiro da Rosa", de Richard Strauss (1864-1949) foi a proposta de Roberto Minczuk para este ano pós-pandemia Covid-19, com a justificativa de que o público solicitou. Desde a sua estreia em 26 de janeiro de 1911, em Dresden, chegou a ser a mais conhecida e representada de todas as obras de R. Strauss. Desta vez, em 05 de agosto de 2022, o espetáculo no Theatro Municipal de São Paulo,  mudou o rumo de sua encenação, comparado a 2018 pelo mesmo encenador Pablo Maritano, com uma agilização cênica que favorece a todos os seus intérpretes. O que pecou foi a troca dos cenários originalmente atraentes de Italo Grassi,  por um vazio cênico no palco,  com adereços (sobe e desce) a todo instante. O que fizeram com aqueles cenários, da mesma forma dos cenários e figurinos de "Aída" aqui apresentada em 2013 ? Vale assinalar que em todos os teatros do mundo conservam-se os cenários e figurinos para posteriores reposições de óperas, economizando assim custos para os cofres públicos ou quando de carater privado. Mas aqui, prefere-se gastar com nova cenografia, nas costas dos cofres municipais. 

             

O compositor Richard Strauss {1864-1949} (crédito geltyimages) Internet

        Nesta obra em que o conjunto sinfônico é de extrema importância e tão ricamente construído e engenhado por Strauss, com as secções instrumentais completas; ouviu-se momentos de elevado nível artístico, como o da apresentação da rosa prateada, tema dissonante que, durante a ópera só aparece duas vezes, é traduzido nas flautas, glockenspiel e em duas harpas, construindo um tema modular, apoiado numa fanfarra, debaixo de uma condução firme de Roberto Minczuk à frente da Sinfônica Municipal, conjunto este que não decepciona na capacidade de interpretar sinfonias de grandes mestres como Brahms, Berlioz, Mahler, Bartók, Stravinsky entre outros, bem como a diversidade do repertório lírico. 
        Elizabeth Schwarskopf, Stich-Randall, Otto Edelmann, Kurt Moll, Kiri Te Kanawa, Aage Haugland, F. Von Stade, Kathleen Battle, Miah Persson, Hanna Hipp, Madilson Leonard e Anne Howells, constam de uma lista de grandes intérpretes dessa magistral obra. A escolha de seus intérpretes é coisa delicada; aliás por aqui, em nosso meio, tem sido um problema constante, quase sempre optando por vozes inadequadas, sem condições para seus respectivos personagens. Assim como no último "Don Giovanni", encenado no Rio de Janeiro em julho p.p.essa escolha é o ponto fraco da produção. 
         O Barão Ochs de Lerchenau, escrito para um baixo cômico, foi entregue a um barítono: Herman Iturralde. Quem escolheu esse intérprete ? A voz não possui os graves da partitura e desaparecem;  não convence em sua plenitude. Hoje é comum entregar papéis de baixos a barítonos, assim como de barítonos a baixos ou de baixos a baixos-barítonos....e assim, vamos que vamos ! O resultado é sempre desastroso e insatisfatório. O mesmo se pode dizer aos papéis de sopranos.    
          Marechala, a princesa de Werdenberg vivido aqui por Carla Filipcic, que havia deixado boa impressão em 2018, hoje já não reafirma o desempenho, cantado com frieza em vários momentos. 
Sophie está escrito a um soprano ligeiro;  bem aqui vivido por Elena Gorshunova, de tessitura adequada (2018); e  agora confiado a Lina Mendes. A cantora esganiçou as notas mais agudas, empregando um grande esforço para atingir as notas agudas em seu canto. Mais uma escolha inadequada no elenco desta produção. Quem escolheu ?
          Octavian foi o melhor destaque da apresentação com Luisa Francesconi, vivendo com paixão seu personagem e lançando as notas mais agudas com muita precisão em emissão qualificada. O supporting cast demonstra que o Coro Lírico dispõe de bons solistas em seus diversos naipes. É o caso de Rafael Thomas (Faninal) com desenvoltura cênica e vocal; Juliana Taino (Marianne); Paulo Queiroz (Valzacchi); Magda Painno (Annina); Renato Tenreiro (Estalajadeiro)) e Marcelo Ferreira (Policial) satisfatórios; complementados por Miguel Geraldi (Mordomos); Marcio Marangon (Notário); com Gabriella Rossi, Laiane Oliveira, Elaine Martorano, Cecília Massa, Alexandre Bialecki, Diógenes Gomes, Isaque Oliveira, Felipe Bertol e Andrey Mira. Coral Paulistano completou o elenco artístico.
           A escolha dos solistas é papel primordial na distribuição dos papéis; prova aí está nos últimos espetáculos líricos no eixo Rio-São Paulo. Uma das escolhas acertadas foi o de Atalla Ayan para o papel do tenor italiano, escrito a um tenor lírico, bem defendido pelo cantor, bem como de Octavian. 
O esperado trio final no Ato III, que traz cenas explícitas de prazer, não atingiu o climax diante de certa inexpressividade da parte vocal, considerando-se que a Sinfônica defendeu soberbamente a sua incumbência. 
           Uma vez mais, o programa de mão é vendido a R$ 30,00 impedindo que muitos espectadores adquiram-no diante de tão absurdo preço. Não dá mais para aceitar. 
Escrito por Marco Antônio Seta, em 06 de agosto de 2022.
Jornalista inscrito sob nº 61.909 - MTB / SP
Diplomado em piano, teoria, história da música, harmonia e contraponto, no Conservatório Musical "Dr. Carlos de Campos", em Tatuí/SP e licenciado em Artes Visuais pela UNICASTELO, em São Paulo. 

                                 Divulgação da ópera "Der Rosenkavalier", Theatro Municipal de SP, 2022.

Comentários

  1. Marco Antônio crítico preparado que ao longo dos anos já frequentou espetáculos operisticos en toda América Latina vem nos brindar com sua crítica precisa e embasada no mais alto conhecimento. Que tal consulta-lo na formação do elenco????

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  2. Muito ruim tudo, o tenor italiano tava meia boca tb, canto alargado e pálido. Os soprano aí aí aí, Mezzo então parecia um ganso. Produção horrível. O que salvou foi a pipoca que comprei antes de entrar no teatro! Pode pedir o dinheiro de volta do ingresso?

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