THEATRO MUNICIPAL DE SP TRANSFORMA "O CAVALEIRO DA ROSA" EM TEATRO MAMBEMBE. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
A ópera "O Cavaleiro da Rosa" é uma colaboração de Richard Strauss (1964-1949) e o dramaturgo e poeta Hugo von Hofmannsthal (1874-1929). Strauss já era famosão, tinha composto "Salome" e "Elektra" quando em 1911 lança esse título de estilo completamente diferente, para não dizer antagônico.
A mudança é nítida: de dois sucessos recheados de drama e tensão com histórias chocantes, marcantes e personagens vorazes, são substituídos por nobres assediadores querendo dotes polpudos. Valsas vienenses desfilam com carinho nos ouvidos (estas nem existiam na época que a história é ambientada) ainda temos marchas e fanfarras que permeiam a ópera que enfatizam o mundo aristocrático e decadente da ópera.
Raras vezes é montada no Brasil, tive a chance de ouvi-la em forma de concerto pela OSESP em 2009. A ópera alcançou um sucesso considerável, tendo rapidamente integrado o repertório de muitos teatros mundo afora. Alguns musicólogos veem similaridades entre a opereta "O Morcego" de Johann Strauss e "O Cavaleiro da Rosa" de Richard Strauss. O sobrenome pode ser igual, o parentesco é nenhum. Similaridades entre as duas estão no fato de serem cômicas e vienenses. A música de Richard é de uma riqueza absurda com contrastes entre o dramático, o cômico e o melancólico aparecem a todo instante. Enquanto a opereta de Johann Strauss tem melodias que grudam na memória e nada mais.
A remontagem apresentada no Theatro Municipal de São Paulo pouco lembra a apresentada em 2018. Pablo Maritano que assina a direção cênica, opta pelo caricato, pelo toque de humor a costumes de uma sociedade que se imagina nobre e está em fase final de existência. Acerta ao narrar com clareza os diversos encontros e desencontros e aproximar o título a uma opereta.
O problema é a pobreza do cenário de Desirée Bastos (bem diferentes dos apresentados em 2018) com elementos cênicos que sobem e descem em um palco vazio caracterizam os três atos. Transformam a ópera em um espetáculo, que mais parece uma produção mambembe, simples e básica para um dos maiores teatros do Brasil. O terceiro ato é uma lástima de equívocos, lembra a boca do lixo paulistana, tem até macaco desfilando no palco. Falta unidade entre os atos, o primeiro remete ao estilo clássico o terceiro ninguém sabe para onde vai.
A luz de Aline Santini salvou o pouco de dignidade que restou da produção. Embora cometa erros crassos. Refletores de luz potentes jogados direto na plateia do Balcão Nobre, Foyer e Balcão Simples. Preciso lembrar que isso ofusca da visão de qualquer mortal, se tivessem me avisado teria levado meu Ray-Ban.
A Orquestra Sinfônica Municipal conduzida por Roberto Minczuk manteve um excelente nível de atuação. Todas as nuances da partitura foram mostradas com clareza. Potente quando necessário e lírica em cenas intimistas. O dueto que fecha o primeiro ato mostrou a harmonia entre música e canto em perfeito sincronismo de tom. Poucos regentes atingem esse nível, valeu Minczuk!
As vozes oscilaram: a sempre competente Luisa Francesconi fez um Octavian com excelente nível vocal e cênico. Carla Filipcic cantou a Marechala com voz potente e um timbre agradável, falhou em diversas passagens no início, cresceu ao longo da récita. Hernán Iturralde é barítono, cantou um papel escrito para baixo, faltaram os graves. Obvio que isso iria acontecer, culpa é de quem o escalou como Barão Ochs. Lina Mendes tem um timbre de soprano cristalino, consegue notas luminosas, tem bom fraseado, embora tenha sofrido para atingir os agudos. Tirando esse pequeno detalhe fez uma Sophie apaixonante.
Milagrosamente esse título é uma reapresentação da ópera apresentada em 2018. Como estamos no Brasil é feita ao estilo tupiniquim. Em nota ao colega Leonardo Marques a assessoria de imprensa do Theatro Municipal de São Paulo, que milagrosamente se manifestou, para o Blog de Ópera & Ballet nem divulgação dos eventos eles mandam, o que será que eles tem contra nós? Informa que : “É uma remontagem, com o mesmo diretor cênico, Pablo Maritano, com o coral Paulistano e com o mesmo figurino, parte da cenografia foi refeita, porque não tínhamos no acervo do Theatro a cenografia completa, tal como foi feita em 2018, então foi necessário fazer uma readequação para essa montagem. Foi inspirada e usa os objetos de cena da primeira montagem, mas colocados de uma outra forma. O Itálo não estava no Brasil, então o diretor cênico sugeriu a Desirée Bastos, para fazer a leitura poética e trazer de um outro modo a cenografia. Obviamente quando muda a cenografia, muda também todo o desenho de luz, como o Caetano Vilela, infelizmente, não estava disponível nesse período, então convidamos a Aline Santini para fazer esse desenho de luz. Dessa forma, a montagem é da mesma direção, a mesma concepção cênica, com os elementos que nos restaram no acervo do Theatro." Todos os teatros do mundo guardam as produções para futuras reapresentações, enquanto no Brasil é essa lambança de sempre, sobram os "elementos que restaram no acervo do Theatro" ou seja, quase nada.
Ali Hassan Ayache
Extra-Campo:
I - Acertaram ao iniciar a ópera as 19:00, quem depende de transporte público agradece.
II - O programa vendido por R$ 30,00 é exageradamente caro.
III - O público foi diminuindo conforme os intervalos iam chegando. Ópera longa é para poucos nos tempos onde o mais importante é o celular e as redes sociais.
IV - "Depois da montagem de sucesso realizada pelo Theatro Municipal de São Paulo em 2018, com direção cênica de Pablo Maritano, o público pediu e nós atendemos: Marechala, Octavian e Sophie voltam ao nosso palco!" . Esta afirmação se encontra no site oficial do Theatro Municipal de São Paulo, duvido que o público tenha pedido para reapresentar esse título. Lembro ao caro leitor que se trata de uma ópera desconhecida até da maioria dos que frequentam o teatro lírico,imagina do público em geral. Até acreditaria se fosse uma "La Traviata", "Carmem" ou "Tosca". Não imagino a galera mandando mensagens eletrônicas ou Whats implorando para remontarem "O Cavaleiro da Rosa".
Concordo plenamente com esta crítica. O Theatro Municipal parece estar determinado a apresentar montagens medíocres, de mau gosto e pouco significativas: veja-se a última Aida, de um visual lastimável, pobre e FEIO! Neste sentido, o Theatro São Pedro tem se saído muito melhor. Com exceção da última montagem de I Capeletti e Montechi, de Donizetti, suas realizações têm primado pela simplicidade, bom gosto e acerto.
ResponderExcluirConcordo com esta crítica de Ali Hassan. O Theatro Municipal parece estar empenhado em apresentar montagens pobres, desagradáveis e nada significativas. Veja-se a última Aida, de Verdi: uma montagem de extremo mau gosto, sem nenhuma criatividade (apesar da pretensão) e FEIA! Neste sentido, o Theatro São Pedro, tem acertado muito mais. Com exceção da última montagem de I Capuletti e Montechi (de uma total imbecilidade), seus espetáculos há anos vêm primando por uma simplicidade de muito bom gosto e pertinência. Já o Municipal...
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