LAMBANÇA EM MINAS. ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 


   Para não dizerem que só ataco a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, OSESP, eis uma tremenda lambança que fizeram aqui em Minas.

Terminei o último artigo falando que Brasil pode ser a nação com menor número de admiradores de música clássica entre os principais países, talvez só perca para a Índia. De fato, temos 220 milhões de habitantes e apenas duas orquestras funcionando com relativa estrutura e tocando em salas com acústica razoável e nenhum teatro de ópera que funcione no sistema de repertório.Para piorar quando melhora a situação de uma área, outra é negligenciada. Até os anos 70 no Rio e em SP se organizavam temporadas de ópera com as maiores estrelas do mundo, ao ponto de nos anos 50 Callas e Tebaldi se encontravam cantando no Rio de Janeiro ao mesmo tempo! Hoje isso é inimaginável, por outro lado se investiu na melhoria da situação de nossas orquestras ao ponto de elas gravarem discos lançados no mercado internacional, uma coisa que nunca aconteceu na nossa história.Em SP quando criaram a OSESP acolheram durante um tempo os músicos reprovados numa orquestra de rádio que foi rapidamente dissolvida. Em MG os rejeitados pela Filarmônica mineira passaram a integrar um conjunto que acompanha as óperas encenadas no Palácio das Artes. Tudo parecia correr bem até que o maior festival de música clássica de Minas já está desde a crise do corona sem acontecer, sendo que já vinha tendo sua duração reduzida pela metade há alguns anos. Seria como se o Festival de Campos do Jordão acabasse aos poucos até morrer.Em vista dessa situação toda desconfiança é pouca quando o governo anunciar algum grande projeto na área cultural, louvado sem parar pela imprensa vendida especializada em desinformar o público. Nesse país normalmente despem um santo para vestir outro!Nem sequer uma notícia na mídia se encontra sobre a não realização do Festival de Música Colonial Brasileira por mais um ano e garanto como frequentador do evento em Juiz de Fora que a parte musicologica nunca interessou ninguém, exceto a família do músico Luís Otávio Sousa Santos e o público aficionado em música antiga, que é um gueto dentro da música clássica. O festival acabou e ninguém fala nada!Como todas as apresentações eram grátis, por isso sempre tinha público. Os únicos concertos que notei, pelas minhas impressões subjetivas, conseguiram despertar entusiasmo verdadeiro e uma base de admiradores grande foram as apresentações da Filarmônica de Minas Gerais, ocorridas anualmente de 2008 até 2014.Além do problema principal que é o fim da divulgação desse repertório específico colonial brasileiro bem como da música feita com instrumentos de época no Brasil, dado que durante esse festival pela única vez nesse país gravaram sinfonias de Mozart e Beethoven e o Réquiem de Mozart com instrumentos de época, tem o caso da própria cidade de Juiz de Fora.Assim como o Rio sofreu certo abandono depois de deixar de ser capital, apesar de ainda ser a cidade mais emblemática do Brasil, o teatro maior e mais bonito de MG, o maior museu, o maior patrimônio histórico belle époque nesse mar de morros fica em Juiz de Fora, pois esta foi a maior cidade desse estado de 1890 até meados de 1930.O Cine Theatro Central de Juiz de Fora com seus 1881 lugares supera em capacidade de público o Theatro Municipal de SP e a Sala São Paulo, ambos pouco ultrapassam os 1500 lugares. O único evento clássico realizado nesse teatro luxuoso daqui regularmente eram os concertos desse festival. Se ficasse na Europa esse palco com certeza seria um dos espações mais disputados pelos artistas do país em questão, mas como fica no Brasil nem sequer sabem que esse colosso existe!Parabéns aos políticos, elite econômica e intelectual, jornalistas especializados e todas as autoridades competentes por nunca nem tocarem no ponto principal, ou seja que o Brasil é entre os países com a mesma faixa de renda e população, o lugar onde provavelmente a música clássica é menos apreciada! BRAVO 

Isaac Carneiro Victal.

Comentários

  1. Caríssimo Ali, o título correto é Lambança em Minas, não em Ninas. Aconteceu um pequeno equívoco. Meus agradecimentos, Isaac.

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  2. Isaac, é muito legal você levantar essa pauta!
    Realmente não tenho visto ninguém tratar do esfacelamento desse festival. Sou de BH e acho imprescindível para o estado que eventos como esse ocorram fora da capital.
    Sobre música antiga, existe em BH, desde 2012, uma orquestra muito interessante - a Orquestra 415 de Música Antiga -, que tenta levar ao público justamente esse nicho tão relegado da música clássica. Em sua última apresentação no Palácio das Artes, quando fui tentar comprar ingresso já havia esgotado, o que demonstra interesse em se consumir esse tipo de música. Imagino, que por tudo que há de difícil em se fazer cultura no Brasil, as apresentações deste grupo sejam tão raras. E, acabando-se com festivais como o de Música Colonial Brasileira, fica ainda mais complicado o fomento das artes musicais no país.

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