"A PAIXÃO SEGUNDO SÃO MATEUS", DO FEMUSC, TERÁ OBOÉS RUSSOS E FABRICADOS EM 3D.
Instrumentos serão utilizados em 13 de janeiro na obra sacra de Bach, considerada uma das mais extraordinárias de todos os tempos
Para que a obra do compositor alemão Johann Sebastian Bach, “A Paixão Segundo São Mateus”, considerada uma das obras-primas da música ocidental, pudesse contar com o máximo de realismo na representação do sofrimento e morte de Jesus Cristo, o Festival de Música Internacional de Santa Catarina (FEMUSC) vai usar dois oboés da caccia (oboés de caça), que virão da Rússia. A musicista Aglaia Golubeva, conhecida por "Glasha", trará diretamente de Moscou os instrumentos, emprestados pelo professor Philip Nodel, do Conservatório Tchaikovsky, um dos mais importantes do mundo, ao lado do de Paris e da Juilliard, de Nova York.
Além dos oboés de caça, para o preciosismo do espetáculo, a ópera também contará com dois oboés d´amore, que têm o som mais grave que os oboés soprano, mais comumente encontrados. Os instrumentos estão sendo impressos em 3D no Rio de Janeiro, e o projeto ganhou o apelido de ‘oboé 3D’Amores”.
O 3D'Amores foi proposto por Alex Klein a Leonardo Fuks, doutor em Acústica Musical pela KTH-Suécia (Instituto Real de Tecnologia de Estocolmo), e consiste em desenhar e construir o primeiro oboé d'amore do mundo por meio de impressão 3D. O desenho e a impressão são realizados em parceria com Thiago Palhares, mestre em química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A intenção de Klein é tornar o oboé mais conhecido e usar a tecnologia para baratear o custo do instrumento.
De acordo com o maestro Alex Klein, idealizador do FEMUSC, a vinda dos instrumentos confere o simbolismo perfeito para a montagem da ópera no festival. As falas de Jesus são sempre acompanhadas por um coral de cordas. No início da apresentação, oboés soprano indicam o cotidiano de Jesus, sem sobressaltos. É a partir do meio do espetáculo, que os músicos passam a usar os oboés d´amore: “Eles indicam a dramaticidade da obra, a delação de Judas e a prisão de Jesus”, conta Alex.
Os oboés de caça, com uma sonoridade tida como ‘amarga’, são utilizados na parte final da apresentação e representam a aproximação da morte de Jesus. “Logo após a morte de Cristo, Bach explica musicalmente como a salvação entrou na humanidade”, explica Klein. Os oboés da caça seguem tocando mesmo depois da morte, mas a música já não reproduz violência, e sim paz. “O simbolismo é óbvio, dali em diante a felicidade da humanidade seria sempre acompanhada da realidade da morte de Cristo e que alguém (Cristo) morreu para que esta felicidade fosse possível”, finaliza.
Ópera
“A Paixão Segundo São Mateus”, reconhecida como uma das mais extraordinárias obras sacras de todos os tempos, será interpretada pela Orquestra Barroca do FEMUSC e pelo coral infantil do Femusckinho.
A obra também será encenada como uma ópera, unindo música com a representação completa da Paixão de Cristo. O espetáculo terá direção de cena da cantora soprano dramático, atriz e professora Céline Imbert de Figueiredo e participação de Jabez Lima (Evangelista); Matheus Alvarenga Diniz (Jesus); Lorena Millar (Maria Madalena); Yunuen Flores (Maria).
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