CONSIDERAÇÕES SOBRE A "POLÍTICA CULTURAL" NO BRASIL. ARTIGO DE ISAAC CARNEIRO VICTAL NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.



 É impressionante como saímos de um governo para o outro, situados politicamente em polos opostos, mas a cultura continua tendo pouca relevância no debate público.

Saímos de um governo que condenava uma cultura que julgava "degenerada", chegaram a vaticinar sobre essa arte "não será nada"! Essa uma posição de alinhamento quase stalinista entre cultura e governo vinda de políticos de extrema direita e saltamos para pessoas que possuem principalmente uma preocupação, muito legítima diga-se de passagem, com o desenvolvimento nacional, portanto o país primeiro precisa se desenvolver primeiro para ter alta cultura... 
   Na realidade o Brasil avançou loucamente na economia nos últimos 100 anos, mas enquanto 100 anos atrás tínhamos Villa Lobos, Mignone e Guarnieri compondo, hoje temos Mehmari, Leonardo Martinelli e esses compositores que fazem parte da panelinha da Revista Concerto e que ela quer promover a todo custo.O editor Ali Ayache sempre reclama que as nossas produções de ópera nunca são reaproveitadas como nos teatros de repertório da Europa, que as produções não viajam para teatros de outras cidades e que nossas orquestras preferem tocar no exterior do que realizar apresentações pelo Brasil afora. Eu da minha parte digo que esse país tem muito poucas orquestras para o tamanho que tem e pouquíssimas salas com acústica adequada para concertos e óperas. O Brasil tem uma infra estrutura extremamente precária para apresentações de música clássica.O Governo federal precisa criar um "Instituto Nacional de Ópera", uma "Orquestra Jovem Nacional do Brasil", um programa nacional de construção de auditórios para ontem! Que sejam políticas de estado não só de governo, não como o programa de educação musical que o Vargas fez com Villa Lobos, que acabou quando os dois se foram.Já passou a época das iniciativas esporádicas e isoladas, um país como o Brasil precisa institucionalizar coisas básicas como digressões anuais de nossas orquestras pelo país, isso tem que ser planejado e ter verba garantida. A cultura precisa funcionar como um sistema, só assim dá frutos e não como iniciativas aqui e ali, como a "bolha orquestral" de São Paulo, Estado que gasta tanto dinheiro com maestros estrangeiros para a OSESP, sendo que a melhor orquestra do Brasil é a Filarmônica de Minas Gerais já há bastante tempo!E por fim abaixo a Lei Rouanet! Os bolsonaristas a criticavam muito, embora eu esteja do lado oposto entendo que ela não ajuda a cultura nacional como deveria, favorecendo determinados artistas que podem bancar projetos atraentes para grandes empresas. Não são os "artistas amigos do Lula" que ganham grandes somas de dinheiro como os bolsonaristas falam, mas são artistas que fazem parte de uma elite da profissão, isso é certo. O estado tem que bancar o artista mesmo, sem contrapartida, abaixo esse negócio de renúncia fiscal de grandes empresas, tem é que "sustentar artista vagabundo" mesmo. Se esse país quiser alta cultura, pois parece não querer, que pague por ela, simples assim, ou então só nos resta o circo da cultura comercial que não precisa de patrocínio nem de mecenas.Isaac Carneiro Victal

Comentários

Postagens mais visitadas