"DIDO E ENEAS" DEIXA MARCAS INDELÉVEIS NO PALCO DO THEATRO SÃO PEDRO/SP. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 

                           Cena de Dido e Eneas, Theatro São Pedro, foto divulgação.
 

  Barroco movimento artístico que começou há mais de 300 anos e acabou faz tempo. Deixou marcas indeléveis nas arte, na ópera e agora no Theatro São Pedro/SP. O problema de querer remontar as óperas do período citado é a complexidade das mesmas. São títulos geralmente longos com árias repetitivas e cansativas para tempos de redes sociais e pessoas agitadas com celulares nas mãos.

  A ópera de Dido e Eneas, de Henry Purcell tem uma vantagem, dura apenas uma hora, assim ninguém fica ansioso para ver a próxima postagem. Isso não a exime das complexidades de uma ópera barroca. Baseada na Eneida de Virgílio traz a dualidade do líder Eneas: Tem que escolher entre o amor por Dido ou a obrigação imposta pelos deuses de se mandar e ir fundar uma grande civilização, o império romano. 

  A récita do dia 09 de março mostrou a Orquestra do Theatro São Pedro/SP regida por Luis Otavio Santos fora do prumo. Sonoridade que passa longe do barroco, nada minimamente aceitável. Não se entendeu com os solistas e coro, cada um entrava a hora que desejava. Tocou como uma orquestra moderna tentando fazer música barroca, ficou caótico.

   Solistas oscilaram: Maria Cristina Kiehr (Dido/Elissa) manteve bom nível vocal, mas nada excepcional. Marilia Vargas (Belinda) conseguiu ser a melhor da noite, cantou com voz emotiva. Johnny França (Eneas/Phoebus) emprestou virilidade ao personagem, atuação cênica e vocal na média. Homero Velho (Feiticeira/Spring) apresentação desastrosa, voz opaca e sem a menor consistência para o canto.

   A produção cai na armadilha da mistureba, do modismo e do politicamente correto. Olinto Malaquias  apresenta figurinos das mulheres em traje clássico e dos soldados em farda moderna, como se estivessem indo lutar no século XXI. Fica estranho e desconexo com a obra. Os cenários de Giorgia Massetani, foram corretos, bonitos e impactantes. Acerta ao colocar a cena das bruxas de preto com tons avermelhados. A luz de Caetano Vilela segue com grande padrão de qualidade, sempre compatível com as cenas. 

  A dança dialoga com o enredo, foi o melhor da noite. Luís Fernando Bongiovanni mostrou coreografias inspiradas que acrescentam a compreensão do espetáculo. Os dançarinos atuaram com grande inspiração.

   A direção de William Pereira fica no básico, soluções óbvias para uma produção que tem grande potencial. Contraposição do branco/preto e claro/escuro é saída segura e simples para o desenvolvimento do enredo. A tendência de querer colocar vários estilos de direção acaba virando uma salada russa. Marilia Vargas como regente coral fez bom trabalho, mas as entradas incorretas atrapalharam tudo.

  A apresentação do dia 11 de Março foi gravada e pode ser vista no Youtube, nela vemos que a orquestra e solistas se entendem melhor que na récita de estreia. Como este crítico analisa o que vê no teatro ao vivo, vale o que está escrito acima.

Ali Hassan Ayache

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