VIVA MOMIX : SEM NADA DE NOVO NO FRONT COREOGRÁFICO. CRÍTICA DE WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.

 

Viva Momix / Baths of Caracalla. Moses Pendleton/Diretor. Março/2023. Fotos/Max Pucciarello.


Na comemoração de suas quatro décadas o Momix está de volta aos palcos brasileiros. Com um repertório antológico reunindo partes de suas mais conhecidas criações entre elas, Opus Cactus (2001), Lunar Sea (2005), Botanica (2009), Remix (2011) e Alchemia (2014). Num programa revelador para quem nunca assistiu aos seus espetáculos mas sem nada de novo no seu front coreográfico, isto para quem vem acompanhando presencialmente uma trajetória iniciada nos anos 80. Mas que promete, felizmente, sua remissão com o espetáculo inédito Alice, já programado na próxima temporada de dança (2024) da Dell'Arte.

Desde que a invenção coreográfica passou a compartilhar dos avanços tecnológicos, incluídos os efeitos eletrônicos visuais e sonoros, estabeleceu-se uma polêmica, muito além do embate entre a tradição e a modernidade, sobre a capacidade de se manter na íntegra a relação corpo orgânico e corpo virtual evitando que a dança ficasse em segundo plano ao perder seu caráter fundamental de expressão artística pura.

Tudo começou na passagem dos anos 60/70 com o Alvim Nikolais Dance Theater fazendo um mix plástico/coreográfico de inserções luminares e cinéticas que antecipavam a tecnologia virtual com o surgimento do universo digital. Tendência que se expandiu através de outras cias como o Pilobolus e, em seguida, o Momix. Sempre enfrentando o desafio e o risco de transmutar a corporeidade dos bailarinos em meras silhuetas videográficas, deixando assim de privilegiar o puro gestual da dança pela dança.

O americano Moses Pendleton foi um dos criadores que procurou estabelecer alguns destes parâmetros estéticos, assumidos inclusive já pela própria  titulação de sua Cia – Mo (Moses) e mix (miscigenação de linguagens) conectando, em espontâneo processo de busca investigativa, elementos gestuais, acrobáticos e ilusionistas, com um prevalente dimensionamento mimético direcionado a lúdicas e bem humoradas fantasias visuais.



Viva Momix/Marigolds. Moses Pendleton/Diretor/Coreógrafo. Março/2023. Fotos/Max Pucciarello.


   O que, se de um lado possibilita uma empática comunicabilidade com públicos de todas as idades, por outro lado, não evita um certo fastio do dejá vu na insistente reiteração no uso destas recorrências. Ficando muito claro este fator na instantaneidade de certas concepções cênicas sob um referencial clima de videoclipagem, com a exacerbação de  ambiências tecnovirtuais.

Neste programa da turnê brasileira Viva Momix há uma extensa seleção temática pensada como um tributo inicial aos 35 anos da Cia e retomado, sem qualquer criação inédita posterior, no seu quadragésimo aniversário. Sendo praticamente impossível descrever cada uma das peças, vamos optar por aquelas consideradas mais impactantes. Numa caixa cênica despojada ora sugestionando, pelo projecionismo frontal, o brilho estelar do espaço sideral, num palco iluminado alterativamente entre luzes psicodélicas ou sombras, por onde transitam, entre idas e voltas sequenciais, os bailarinos.

Tanto Opus Cactus como Botanica privilegiam a natureza e a questão ecológica, às vezes com uma formatação bastante original (Marigolds) quando as bailarinas surgem como flores de tonalidades alaranjadas que vão se  transmutando em tutus clássicos ou trajes flamencos.  Há, ainda, de um lado o belo sensualismo gestual de vestes brancas femininas que se tornam toalhas de banho nos Baths of Caracalla (Remix) ou o mimetismo nas danças através de sombras imagéticas como pássaros voando em Snow Geese (Lunar Sea)

No naipe exclusivamente masculino, o grande momento fica outra vez com o solo Table Talk na mais energizada e envolvente exibição de autêntico apuro acrobático. Sem deixar de citar o virtuosismo físico de Daddy Long Leg para um trio de bailarinos/cowboys sob sonoridades folks.

Depois de uma atmosfera de sonhos com um subliminar apelo de misticismo gestual na instalação plástica (Paper Trails), a apoteose final acontece com If You Need Somebody. No barroquismo de acordes bachianos e na manipulação cênica de manequins/fantoches os bailarinos acabam dançando com os bonecos, em cumplicidade gestual de uma dança-teatro que contagia palco e plateia.

 

                                               Wagner Corrêa de Araújo



Viva Momix/ If You Need Some Body. Moses Pendleton/Coreógrafo-Diretor. Março 2023. Fotos/Max Pucciarello.


Viva Momix, depois do Qualistage/ Barra/ RJ, segue para Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba, até 28 de março.




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